A actual crise alterou por completo as prioridades das pessoas. Os portugueses ora escolhem o low cost, ora o gourmet. O lema passou a ser viver o dia-a-dia em função dos rendimentos actuais, tentando-se ter "qualidade de vida".
Apareceu assim um novo consumidor, resultante da imposição de readaptação a uma nova realidade. Há quem o designe de consumidor avatar que traduz uma «erosão drástica da classe média», ditando a sua extinção.
O consumidor «tornou-se infiel às empresas, volátil, mais racional e complexo». É online, «sabe o que quer e não aquilo que lhe querem vender», é socialmente responsável e mais sensível às causas ambientais. Procura value for money». É ele quem dita as leis, de acordo com as palavreas do director de marketing do El Corte Inglés, durante a conferência «Consumidor Avatar», organizada pela Apodemo
Mas a realidade não ajuda. «Não vamos sair desta crise em menos de uma década. Perdemos capacidade de criar riqueza. E resolvemos o problema pela via do consumo artificial, do endividamento», alertou o economista Augusto Mateus.
São estas pessoas, a actual classe média, que pagam o preço mais alto. «A crise do Estado arrasta a classe média, o elemento chave no aperto do sistema fiscal. Ela morre por esta lógica do avatar».
Com a crise, alterou-se o paradigma. «Morreu a economia da oferta. Perderam-se activos com capacidade de gerar recursos». A pesar na balança está um Portugal envelhecido. Isso traz custos «muito significativos para a economia. É uma biografia que pesa».
Se antes existia a «miragem da utopia do pleno emprego», impõe-se agora a «miragem da utopia do emprego para todos».
Do low cost ao luxo é um passo.
Daí que a lógica do avatar se coadune com o tempo de agora. Os «ciclos de vida dos produtos e os processos são mais curtos». Há duas premissas: a «civilização do ser (riqueza para moldar a qualidade de vida) e civilização do ter (ter qualidade de vida pela riqueza que exibimos)».
No avatar funciona a lógica da forma pelo conteúdo, mas o contrário também acontece. «Há consumidores que conseguem gerir dois ou mais avatares; passam do low cost aos produtos de luxo facilmente, o que é absolutamente determinante para sair da crise».
Chega de «entornar dinheiro»
Criar riqueza não é produzir sem rumo. Augusto Mateus diz que ela nasce do conhecimento e da capacidade de diferenciação. «Produzir para pessoas que vivem em sociedade é uma coisa. Produzir para avatares que controlam pessoas é outra. O desafio é trabalhar em colaboração com o consumidor e reinventar a qualidade de vida».
Mas para isso os consumidores «não vão poder continuar a entornar dinheiro sobre as suas necessidades». Tal como o Estado. É preciso, garante, «empurrar a lógica de ciclos de vida e não a lógica de compras instantâneas». Hoje as pessoas escolhem por prioridades. A pergunta é: o que traz felicidade? «Não é escolher para onde vou de férias, mas se posso ir de férias ou não», exemplificou Rui Dias Alves, da Return on Ideas.
Mas, atenção, este é um consumidor «equipado»; «vai gerir os seus próprios equipamentos como as empresas». E é-o de forma «muito dinâmica, mais rápida e em mais coisas».
Só que levou um pontapé da crise e «deixou de ser consumista para ser poupado». Passou a jogar na defensiva. «Tem mais noção do preço, é informado, é segmentado com base no rendimento que possui. Tão depressa vai ao outlet e opta pelo low cost como escolhe o gourmet», reforçou Manuel de Paula.
Não há tempo: «acabaram-se as filas de espera
«O Second Life é um primórdio de realidades futuras». As pessoas vivem rodeadas de plataformas digitais, são tecnodependentes. E não vão na conversa das empresas. É preciso «envolver o consumidor com a marca através do diálogo».
Somos cada vez mais, um consumidor sem tempo. Procuramos o imediato. Pois bem, «acabaram-se as filas de espera». Mas ainda se espera pelo final da crise, que não se sabe quando será. Paralelamente vamos conseguindo fazer uma «convergência digital». Será que esta crise vai ser o trampolim para outra era?
Fonte: Agência Financeira, 22 de Junho de 2010
Este post, sem dúvida demonstra aquilo que tem vindo a ser o a revolução dos nossos dias. Onde o que interessa, é tirar partido do "agora", ou seja, gratificação imediata. Se "eu" posso agora, porque não tirar partido neste exacto momento? Porquê esperar pelo amanhã? Estas mudanças, têem impacto nos nossos dias e na nossa forma de agir/pensar. Todos nós influenciados pelas novas ferramentas de comunicação, principalmente pelas redes sociais e pela transparência cada vez maior das informações.
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