A boneca Barbie, fenómeno cultural da modernidade, descreve um vigoroso exemplo ao nível da apropriação cultural por parte dos fenómenos da modernidade, com particular relevo na globalização, industrialização e capitalismo, estando “imersa numa pedagogia cultural, com o intuito de ensinar a supremacia de um tipo de corpo, etnia e comportamento” (Cechin et Silva, 2012). A globalização permitiu uma fusão do espaço tempo, aumentando as vias comunicativas e a circulação das pessoas e da comunicação, permitindo novas evoluções do fenómeno capitalista desde a introdução do modelo fordista e da reprodução em série. Atualmente, devido à revolução digital, a informação ultrapassa barreiras espácio-temporais, pelo que o imeadiatismo é um critério valorizado pelos consumidores. A nova geração de consumidores, a Gen Z, apresenta, ainda, uma forte ligação com a personalização e a mensagem mais individualista, motivo pelo qual a Barbie, na sua evolução, tem garantido um sucesso contínuo para com o seu público alvo, ainda que inicialmente apresentasse um produto que representava um modelo irrealista de perfeição.
A produção da boneca Barbie pela Mattel visou reproduzir num modelo
cultural e educativo, que marca o indivíduo desde a infância e através do qual
ele procura a sua identidade, descobrindo na representação um sentido próprio
da vida e estabilidade na sua existência social, partindo do modelo
universalizado do corpo ideal, onde desenhou o modelo da perfeição. “O
brinquedo participa da construção da infância por meio de complexos
significados e práticas produzidas não apenas por seus criadores e difusores,
mas por aqueles que o utilizam. É possível entender o lugar da criança na
sociedade através dos usos e significados atribuídos aos brinquedo” (Cechin
et Silva, 2012) Este pressuposto enaltece o preconceito e a exclusão social
evidenciadas face a características individuais, que resultam na
sobrevalorização de um modelo típico potencializador da desigualdade de género.
“As narrativas da boneca alimentavam o sonho de um estilo de vida projetado
para o consumo, ensinando às meninas que o sucesso está no corpo magro e branco
(…) evocam o consumo infantil pela imitação de suas atitudes e de seus trajes”.
(Roveri & Soares, 2011, p.160) Este conceito difundiu-se seja pelo brinquedo,
pelos filmes desenvolvidos a partir do mesmo, onde se perpetuava um irrealista
ideal de beleza, que cada vez mais, era procurado pelas crianças, gerando
sentimentos de ansiedade e falta de propósito, pela impossibilidade de atingir
o epítome da perfeição desenvolvido pela empresa. A marca percecionou, desde
cedo, a inata vontade do ser humano em sentir pertença e objetivar a perfeição,
traços muito marcantes do consumo da Gen Z,
apropriando-se de meios culturais e educativos para lucrar em função da
alienação social e da convocatória de sentimentos do meio cultural. “Ser
conhecida, colecionada, admirada e elevada ao nível de personalidade imortal: a
sociedade mercadológica tem injetado na boneca todo oxigênio de que ela precisa
para continuar nova e viva no imaginário infantil. Completando meio século de
aparição ao público, Barbie, ao contrário de muitos brinquedos, nunca foi
esquecida e tampouco envelheceu nas prateleiras das lojas” (Roveri &
Soares, 2011, p.148)
Ainda que nos anos 70
do Séc.XX a reprodução em massa marcasse os mercados, com referência direta à
cultura de massas, que procurava compreender os comportamentos e ideais
dominantes, apropriando-se dos mesmos para a produção massiva de objetos,
produtos culturais, que pudessem ser aliciantes ao coletivo, por representarem
superficialmente os seus interesses, a Barbie gerou um movimento que procura,
cada vez mais, a diversidade, enquadrando-se com um público diverso, onde
importa a inclusão. Como o indivíduo
desenvolve atividades como a visualização de filmes e a leitura de livros para,
por via da cultura, viver uma vida que não a sua, experienciadas vivências que
não são possíveis no mundo vivida, a sua própria sobrevivência dependeu desta
sua adaptabilidade. Assiste-se, neste momento, a uma produção à medida, que se
serve também do impacto da imagem na atualidade, por via das novas tecnologias,
e vem substituir a produção em massa, mas que volta a cair no conceito da
cultura de massas, no sentido em que procura responder a uma cultura do consumo¸
ao desejo do coletivo em encontrar no meio artístico uma representação do seu
Self identitário, perpetuada pelos Media e através do qual encontrará um
sentimento de pertença e se distanciará do isolamento e exclusão social
experienciado noutros setores da sua vida. Atualmente a boneca não representa
um modelo corporal único, possuindo várias formas e cores e, ainda, versões com
mobilidade reduzida, aparelhos auditivos e representações de doenças
particulares como vitiligo. A representação assume, assim, o papel central dos
desenvolvimentos do produto.
“Se, no início da carreira, Barbie fora modelada com o
perfil de pessoas e atrizes reais, o ideal de beleza materializou-se em boneca:
embalada e mostrada nas lojas, seu suporte de sustentação é a mão da menina,
que com ela brinca e sonha ser estrela. A boneca foi transformada num espelho
no qual são revelados os vícios de quem a contempla e, ao mesmo tempo,
estampadas as virtudes a serem conquistadas pela mulher. Barbie foi feita para
ser o espelho inquebrável que reflete a “melhor” decoração possível para corpos
humanos, tidos como frágeis e vulgares, os corpos femininos. A personificação
de Barbie e sua transformação em um ícone de mulher sugere que as pessoas reais
são feitas de carne de má qualidade, por isso carentes de melhorias”
(Roveri & Soare, 2011)
Também nas redes sociais a marca procura criar esta ligação
com o consumidor, seja por via da alusão a marcos da atualidade, como o recente
falecimento da artista Tina Turner, seja pela promoção da inclusividade,
perpetuando a ligação do consumidor com a mesma através de características como
“ícone, intemporal e representatividade”.
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