segunda-feira, 7 de junho de 2010

Atentado à privacidade? Be afraid, be very afraid... (Parte IV)



Sim, outra vez...

O apagão no Facebook marcado por alguns utilizadores para ontem registou 2110 seguidores no Twitter e quase 4400 fãs...no Facebook. Este total equivale sensivelmente ao número de pessoas que se cadastra no Facebook...por minuto. Segundo as últimas estatísticas, o Facebook, com os seus 500 milhões de utilizadores, só é ultrapassado em população pela China e pela Índia. Portugal, com 2 milhões na rede social, está até acima da média europeia em número de acessos. 500 mil milhões de minutos é a média de tempo dispendida por mês nesta rede social.
As pessoas passam tanto tempo no Facebook como a tomar café ou a fumar. Os utilizadores do Facebook parecem estar demasiado viciados no sistema para abandonarem a rede que cultivam há tanto tempo, existindo mesmo clínicas de desintoxicação contra esta dependência um pouco por todo o mundo, conforme noticiado num post anterior. Será possível resistir um dia sem visitar...?

Há alguns meses, o CEO Mark Zuckerberg causou polémica a o afirmar que "a era da privacidade acabou" e que as pessoas não querem de facto essa privacidade que defendem, ou não estariam num site onde é suposto exporem-se ao mundo. As estatísticas comprovam que 35% dos utilizadores do Facebook não protegem informações. Neste momento, para atingir o grau máximo de protecção é preciso activar nada menos que 50 definições e 170 opções. O texto que descreve a política de privacidade do Facebook tem mais 1287 palavras que a Constituição dos EUA e é agora cinco vezes maior do que era no início.
Além disso, desde Abril, todos os "Gosto" estão ligados a grupos e são publicamente visíveis, através do Open Graph.
O Facebook está a fechar cada vez mais acordos com outros sites (são já cerca de 100 mil) e a ligação dos seus utilizadores é visível e ficam disponíveis em alguns motores de busca e empresas parceiras, que podem assim direccionar campanhas de acordo com os gostos. A estimativa é a de que ocorrem 25 bilhões de cliques deste tipo todos os meses. Cada "Gosto" significa uma nova maneira do Facebook receber mais informação e vendê-la. Segundo um estudo recente da Nielsen, um anúncio na homepage do Facebook aumenta em 2% a recordação da marca, mas as recomendações de amiogos reforçam em 16% essa recordação.
Logo, se não quisermos que se saiba que vamos faltar ao trabalho para assistir a um concerto, o melhor é deixar de lado o botão "Gosto" ou "Vou" no respectivo evento...

O Facebook é um negócio. Em 2010, o número de anunciantes na rede social quadriplicou e as receitas duplicaram. Só no primeiro trimestre do ano, o Facebook disponibilizou mais de 176 mil milhões de banners. Ao gerir as preferências dos seus utilizadores, permite que os anúncios sejam direccionados para as suas páginas. A Coca Cola é a empresa que melhor faz uso da rede social, seguida pela Starbucks e pela Disney.
Existem ainda bens virtuais, que podem ser comprados, e aplicações para a plataforma. Só o Farmville tem 75 milhões de utilizadores e a empresa responsável, a Zynga, é "obrigada" a partilhar com o Facebook 30% das receitas.
Na realidade, o Facebook não obriga a nada. Tudo o que se diz e partilha é feito pelos fãs porque querem, pelo que esta polémica não deixa de ser controversa. Mas a verdade é que através desta partilha, a rede ganha dinheiro. À custa dos utilizadores. Que menos atentos, não têm sequer noção que os seus dados geram valor.

Como controlar o que o Facebook faz à informação e a quem esta é cedida?
Em vez de truques, esquemas, confusões e outras complicações, não seria melhor pedir permissão ao consumidor?...
How afraid are we...now?

4 comentários:

  1. Não tinha o mínimo interesse.
    É como as pregoeiras e gentes no mercado: sem confusão, qual é a graça, se ainda por cima vendemos 'intimidades'?
    O facebook potencia o que temos de melhor, o 'voyeurismo'. E aqui, como na cortiça, na choradeira e na maledicência (e às vezes no futebol) damos cartas... Mas há melhor: e não é o mesmo que acontece com as nossas estrelas e famosos? Que comparação. Para além dos 15 segundos de fama, que podem ser difíceis de conseguir, temos, pelo menos, alguns 'clics' de fama.
    Este negócio é oportunista no sentido em que se aproveita do mais básico da condição do ser humano. Mais uma vez, se prova que se trata de uma aldeia que se tornou global. O que nos leva a pensar que outros negócios poderão ser potenciados na Internet e que tenham origem no habitat de um típica e tradicional aldeia. Já vimos que podemos trocar bens com muita facilidade (troca directa); que podemos incomodar os vizinhos mesmo na porta ao lado; podemos observar as trocas e trocar comentários sobre a produção de vinho ou de couves do quintal da dona Engrácia; podemos oferecer brindes e prendas, de forma a garantir que o vizinho não se desloque à aldeia mais próxima comparar o que tenho para vender; bisbilhotar por cima do muro ou da cerca; ir até ao adro, ao fim do dia, passear as nossas vaidades; ajudar a carregar as compras ao idoso da aldeia; ao sair da aldeia, olhar para trás e ver muitos amigos; pedir ao médico da aldeia uma ajuda para empregar o miúdo que não tem jeito para nada;ir a correr aos berros pela única rua avisar que chegou o peixeiro; bater de porta em porta, numa única ida, dizendo que o padre apanhou grande constipação, e que o telhado da igreja precisa de ajuda; etc.
    É só pensar... Decerto que vamos encontrar negócios para por nesta aldeia.
    Relativamente a Portugal: só dois milhões? Apetece concluir: há muita gente que ainda não sabe utilizar o PC...

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  2. Sendo o mesmo que acontece às estrelas...será que os Facebookers estarão a pagar "o preço da fama"? E que o Facebook é um grande "paparazzo"? :)

    PS: Paparazzo (no plural paparazzi) é uma palavra da língua italiana utilizada para designar os repórteres que fotografam pessoas famosas sem autorização, expondo em público as atividades que eles fazem no seu quotidiano (in Wikipedia). Após conseguir as fotografias, os paparazzi podem vendê-las a imprensa por valores significativos (que podem variar em função da fama da celebridade e da situação que se encontrava no momento em que foi fotografada).
    Será que isto faz das empresas algo parecido à imprensa cor-de-rosa?

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  3. Acho que faz melhor.
    No limite somos os paparazzo de nós mesmos.
    Se dermos uma voltinha por um mural, por exemplo no meu (onde senti sempre vergonha de lá colocar fosse o que fosse), podemos observar as toneladas de amigos que por lá passam (cerca de 30, a quem tive o prazer de dizer sim - isto é, por quem acabei por digitar no botão virtual do 'sim, quero ser teu amigo'...) a contarem pormenores que muitas das vezes me deixam perplexo pela forma simpática e singela como partilham coisas que nem nos meus piores pesadelos consigo imaginar a fazer.
    Mas, isto é o maná senhores? Assim, a cair do céu! Do virtual, é certo, mas maná!
    Não tenho jeito nenhum para estas aventuras empresariais na net, nem sou o poderoso Migthy Men dos sistemas de informação. Porque senão, iria desenvolver um motor que captasse esta informação de uma rede como o facebook. Mas não pelo lado da lógica conceitos e das palavras, mas pelo lado dos sentimentos, por exemplo, com algoritmos que associassem estados ou sensações, mais de ser do que de ter.
    Dominava o mundo! (Pelo menos o virtual)
    As empresas não são cor de rosa (como as proprietárias da dita imprensa)! São assim, mais para o azul frio. E preparam-se para conquistar estes estados nas próprias redes. Basta saber como agradar. E isso é simples para qualquer conquistador...

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  4. Talvez o poder da rede esteja de facto a ir longe de mais. Este pretenso poder começa agora a levantar grandes questões éticas, movidas muitas vezes por questões económicas. Porque no final do dia, é mesmo disso que se trata.

    Milhões de clicks, visualizações, amigos, agricultore, adesões a grupos mais ou menos "no sense" têm de facto apenas um interesse - o económico.

    No final ficaremos presos na rede, ou conseguiremos escapar pelas suas malhas??

    Penso que tudo isto tem algo intrínseco de muito poderoso e em simultâneo capaz de induzir uma sensação de receio latente - quiça MEDO.

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