Numa altura em que a rapidez da comunicação e transmissão de notícias são fatores sempre presentes,as marcas vêem-se submetidas a um escrutínio dificilmente evitável e facilmente magnificados.
Sem
dúvida que o acontecimento da semana, na forma da gaffe que decorreu na
atribuição de um dos Óscares mais cobiçados no mundo cinematográfico, é interessante
do ponto de vista do impacto de erros com grande potencial para se tornarem
virais.
É possível afirmar que, dado o contexto político atual, a indústria cinematográfica americana tem sido atacada e, em certos casos, apelidada de “sobrevalorizada”. Por isso mesmo, é também possível considerar que a pressão sobre a qual a Academia se sentia para providenciar uma noite de entretenimento e premiar os melhores do ramo sem qualquer erro seria, especialmente este ano, mais elevada do que em anos habituais – com a possível exceção do ano passado, que viu os Óscares associados à hashtag #Oscarssowhite, assim como os respetivos apelos a boicotes por parte de atores afro-americanos.
Obviamente, os planos para uma
noite livre de erros foram pelo cano abaixo. Para além da quebra de audiências
não prevista, causando o nono ano consecutivo de descida de audiências para uma
das noites mais importantes de Hollywood (e uma das mais caras em termos de tempo
de antena para anúncios), o grave erro na entrega do Óscar de melhor filme veio
abalar a imagem da Academia.
No
que toca à resposta das redes sociais, a noite foi de “sucesso”, com o erro a
tornar-se viral e a conceder mais mediatismo e mais referências à cerimónia de
entregas, nomeadamente as reações dos presentes ao desenrolar da situação. Embora
a gaffe se tenha revelado um momento de leviandade numa cerimónia que tem tido
dificuldade em manter-se relevante num mundo em que uma entrega de prémios de
4h se consegue tornar algo maçadora, as consequências deste momento serão tudo
menos levianas.
Em primeiro lugar, há que notar
o facto de o erro ter colocado a Academia, enquanto organizadora do evento, na
posição embaraçosa de retirar o prémio à equipa produtora do La La Land (que
tomou um posição extremamente humilde, honesta e magnânime, na minha opinião) e
o entregar aos verdadeiros vencedores, a equipa do Moonlight. A equipa do La La
Land teve tempo de dar alguns discursos de agradecimento (que se vieram a
revelar sem motivo) e a equipa de Moonlight viu-se com tempo reduzido para
fazer o mesmo.
Em
segundo lugar, há que falar de quem sairá verdadeiramente prejudicado em
consequência deste sério erro, a PwC. A
PwC não só estragou, se calhar definitivamente, uma relação com mais de 80 anos
com a Academia, mas também sofreu um duro golpe de relações públicas, graças à
rápida divulgação online.
No
caos que se seguiu, e das informações que foram sendo divulgadas, o erro terá
partido dos representantes da PwC (Brian Cullinan e Martha Ruiz) que terão
entregue a cópia do envelope para o prémio de melhor atriz, que depois foi
entregue a Faye Dunaway e Warren Beatty, sendo que parte do erro também terá
estado no design do próprio cartão que terá facilitado a confusão por parte do
atores quando se encontravam a ler o cartão. Para além disso, testemunhos de
produtores indicam que, embora parte do trabalho dos representantes da PwC seja
decorar os nomes de todos os vencedores e interromper os apresentadores
imediatamente se for anunciado algum vencedor errado, tal não aconteceu, o que
possibilitou os discursos de agradecimento da equipa do La La Land.
O
erro dos representantes da PwC é agravado pelo facto de, graças às entrevistas
dadas nos dias anteriores a discutir o processo de contagem dos votos e
determinação dos resultados, as suas identidades serem conhecidas, facilitando
a descoberta dos seus perfis em redes sociais. Tal descoberta levou a que fosse
encontrado um tweet de Brian Cullinan com uma fotografia de Emma Stone nos
bastidores após a sua vitória como melhor atriz – o prémio entregue
imediatamente antes do Óscar de Melhor Filme, algo que lhe terá sido dito
explicitamente para não fazer.
Dadas
as consequências deste grave erro, é apenas natural que a Academia reconsidere
a relação que mantém com a PwC, tendo já começado por banir os dois representantes
da mesma. Da parte da PwC, embora tenham já assumido publicamente responsabilidade
pelo erro, a internet nunca esquece este tipo de momentos (por mais icónicos que
se venham a revelar) e este erro estava submetido, literal e figurativamente, a
um especial holofote de atenção, estando ainda por averiguar a totalidade do impacto
que terá na reputação da empresa.
Fontes:
- http://www.bbc.com/news/entertainment-arts-39140441
- https://www.forbes.com/sites/maddieberg/2017/02/27/trump-oscar-ratings-fall-but-the-internet-loved-the-show/#7329cc683360
- http://ew.com/awards/2017/02/27/oscars-2017-best-picture-mixup-crowd-reactions/
- http://www.latimes.com/entertainment/la-et-oscars-so-white-reaction-htmlstory.html
- https://www.bloomberg.com/news/articles/2017-02-27/pwc-apologizes-for-oscar-mix-up-after-giving-out-wrong-envelope
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