Recentemente encontrei uma notícia acerca de uma startup de e-commerce chamada Brandless. Lembro-me de ter visto imagens nas redes sociais (provavelmente no Twitter) acerca desta mesma, mas apenas depois desta notícia é que decidi pesquisar um bocado sobre o modelo de negócio desta e descobri que este acaba por ser bastante interessante do ponto de vista do Marketing Digital e do e-commerce.
A missão da Brandless é a de vender produtos essenciais (como produtos de higiene, alimentos básicos, etc.) sem uma marca, com um packaging simples que diz apenas o nome do produto e os seus ingredientes, a 3$ cada um e apenas online. A Brandless diz que através deste modelo de negócio consegue poupar aos consumidores cerca de 40% ao diminuir gastos associados a marketing, marca e publicidade. [1]
A ideia seria que uma marca como estas estaria a competir com consumidores bastante sensíveis ao preço, mas pelo contrário, a marca tenta diferenciar-se num nicho diferente — os dos consumidores que procuram alimentos com ingredientes orgânicos, sem conservantes, ou organismos geneticamente modificados. Logo, a Brandless não está a competir com os produtos de marca branca das grandes superfícies, como seria de esperar, mas com marcas para um consumidor que quer comida saudável e de qualidade — é perante estas últimas que se acaba a poupar dinheiro e não as primeiras.
Mas como é que a Brandless consegue sobreviver? A verdade é que mesmo para esse nicho de consumidores, a lealdade à marca seria algo de se esperar — não é de esperar que o consumidor vá trocar de uma marca em que confia e que sabe que gosta por causa de experiências passadas por uma marca que em tudo aparenta ser uma marca “branca”. A Brandless consegue, contudo, vingar, adoptado uma estratégia que está completamente virada para os millennials.
Primeiro, a sua missão contra marcas liga-se com a ideia de que os millennials são cada vez menos fiéis às marcas, sendo que a confiança em grandes marcas, especialmente na área da alimentação, tem vindo a deteriorar—se. Segundo, estes consumidores gostam da conveniência de poderem simplesmente comprar os seus produtos online e são a faixa etária com maior adesão à internet — assim, tirarão mais facilmente partido da estratégia de distribuição de um player 100% digital. Em terceiro lugar, o design minimalista acaba por ser trendy e apelativo para esta geração. Por último, por cada compra, é doada uma refeição à instituição de caridade “Feeding America”. Em suma, uma estratégia de marketing para apelar a um nicho de clientes ocupados demais para fazerem compras em supermercado e que querem a conveniência de terem os seus produtos enviados para casa, mas que querem comprar produtos de qualidade e saudáveis, e, ao mesmo tempo, sentirem que estão a fazer uma diferença no mundo e a apoiar causas sociais.
Contudo, a estratégia de marketing da Brandless não termina aqui, sendo que estes têm utilizado bastante as redes sociais como um canal para criar relações duradouras com os clientes, construindo relações mutuamente benéficas, criando uma autêntica comunidade à volta da marca. A seleção dos produtos é feita através da partilha de ideias juntamente com a comunidade, fazendo posts no facebook e interagindo com estes. Através do digital e das diferentes comunidades digitais, eles procuram ir de encontro com as necessidades e desejos da comunidade vegan, gluten-free entre outros. Promovem ainda a criação de conteúdo por parte dos consumidores, nomeadamente através da promoção da hashtag #brandlesslife para fotos e vídeos de “unboxing” das caixas onde os produtos são enviados. [2]
A experiência da Brandless acaba por demonstrar (entre outras) duas ideias que abordamos nas aulas — por um lado, o poder das comunidades digitais formadas nas redes sociais; por outro, o uso do marketing de experiências e do “pop-up” por marcas de e-commerce, trazendo o “web-only” para o “in-person”.
Nestas experiências “pop-up”, por um lado, cria-se buzz e reconhecimento da marca, pois, como é uma experiência pop-up, que vai embora rapidamente, as pessoas querem experienciar por causa do FOMO (fear of missing out), mas, por outro lado, a empresa também colecciona dados acerca dos potenciais consumidores e das suas preferências. [4]
Não conhecia um caso como estes, mas chamou-me imenso à atenção pelo título. Pertencendo à geração millenial e com pouco tempo para dedicar a ir fazer compras ao supermercado, gosto da ideia de poder ter acesso a produtos que sejam vendidos online e me sejam deixados em casa. Ao mesmo tempo penso que a nossa geração é das que mais quer fazer a diferença no mundo e lutar por causas sociais, pelo que ver que há uma marca “branca” que acaba por nos dar aquilo que queremos e ao mesmo tempo dedica parte da sua missão a ajudar outros é sempre um aspeto positivo e apelativo para o consumidor.
ResponderEliminarO poder das redes sociais é crucial hoje em dia para qualquer tipo de empresa e para qualquer marca. Como consumidor(a) acho que não ficamos tão conscientes sobre como uma determinada marca consegue ter acesso aos nossos gostos, preferências, etc. É interessante, de facto, ver como é possível criar um espaço e comunidade de partilha sobre marcas que gostamos e como, do outro lado, a empresa através disso consegue melhorar os seus próprios produtos indo de encontro às necessidades dos seus consumidores que obtêm através das redes sociais.