terça-feira, 16 de abril de 2019

(Des)Industrialização e a Cauda Longa: o exemplo da única fábrica de lápis na Península Ibérica

A Internet, é sabido, veio revolucionar muitas indústrias e alterar drasticamente a forma de fazer negócios. Numa das nossas aulas aprendemos sobre o conceito da "Cauda Longa" e em como a oferta de produtos antes desta revolução tecnológica, era feita por distribuição em meios físicos - exposição em lojas físicas - no qual os consumidores tomavam conhecimento dos produtos, os testavam ou compravam, limitados à geografia da oferta.
Os custos implicados limitavam a oferta e a introdução de novos produtos era rodeada de riscos e custos avultados. Custos esses que podem agora, com as vendas online, ver-se reduzidos, essencialmente, de duas formas diferentes:

i) Desmaterialização: a digitalização dos produtos e a não necessidade de os ter armazenados ou em stock, reduz o custo de produção; os canais online reduzem os custos de distribuição e, por fim, as campanhas online reduzem os custos de comunicação.
ii) Desagregação: produtos que outrora eram vendidos em conjunto, podem agora ser desagregados; o consumidor paga apenas o que quer consumir e, por fim, elimina-se o bundling.

Além disto a Internet, de forma genérica, criou montras virtuais sem limites, com ofertas sem precedentes, abrindo possibilidade a ofertas específicas, personalizadas e limitadas. Esta característica possibilita a sustentação de negócios que, de outra forma, estavam condenados.

A realidade portuguesa  mostra que há ainda um grande percurso a trilhar e as PME's estão a acompanhar lentamente a evolução tecnológica, com muitas delas ainda alheias aos benefícios e vantagens que podem daí advir.
Ora a pertinência de invocar estes pontos da aula surge através de um exemplo que me ocorreu, o de uma empresa portuguesa com história centenária de cariz fortemente industrial que se salvou, pasme-se, com o advento da internet e a descoberta e consequente 'exploração' de nichos de mercado, dando resposta ao long-tail, pouco ou nada merecedor da atenção dos gigantes concorrentes da mesma industria.

A Viarco, situada em São João da Madeira - distrito de Aveiro - é a única fábrica de lápis da Península Ibérica. Fundada em 1907, os seus produtos fazem parte do imaginário de gerações de portugueses, com produtos como este: 

Em 1990 enfrentou tempos muito difíceis e a sua posição no mercado definhou repetidamente daí em diante. Até que em 2011 é adquirida pelo actual proprietário que transforma a empresa e se concentra nos nichos de mercado existentes, criando produtos em parcerias, para dar resposta às necessidades criativas dos artistas, desenvolvendo produtos que sirvam de ferramentas para o seu trabalho, como são exemplo: a Risko e o pencil jacket e a morphe tools:


Além disto decide abandonar a produção em massa de lápis padronizados, por impossibilidade de competir com os gigantes como a Staedtler ou a Faber-Castell, e produzem, ao invés, pequenas quantidades para clientes que procuram um lápis personalizado para a empresa e aos quais os gigantes não dão resposta por não personalizarem pequenas quantidades de produto, exigindo para isso encomendas de grandes quantidades.

A presença na Internet é fundamental e o modelo de negócio tem resultado, salvando a empresa do seu destino trágico que parecia inevitável, através de um novo modelo de negócio - afastado das grandes superfícies comerciais e da venda em grandes bundles-; redução de custos; olhar para o mercado global e, por fim, grande aproximação ao consumidor final (recebem artistas em modalidade de oficina criativa, podendo utilizar os funcionários e infraestruturas da empresa ao seu dispor, para criar novos produtos, dar ideias para melhorar existentes, o que constitui um input extremamente valioso, além de possibilidades ilimitadas de personalização e customização).
Os prémios internacionais têm-se sucedido e o reconhecimento aumentado. A empresa tem hoje um modelo de negócio de sucesso e faz parte do programa do roteiro de Turismo Industrial.

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