quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Apple (IOS 14) vs Facebook

Não é novidade para ninguém que George Orwell estava certo e que estamos dentro de um grande Big Brother da tecnologia, que somos vigiados 24 horas por dia, o que fazemos ou deixamos de fazer através dos nossos telemóveis, computadores e gateways, afinal estamos em contacto com eles o tempo todo. Um exemplo são os relógios que medem nosso sono e vários outros dados e enviam essas informações para o sistema. Será que todos esses dados são recolhidos e enviados para as empresas sem a nossa autorização? A verdade não é bem essa, quando aceitamos todas as atualizações e não lemos aquelas letras miúdas e só apertamos o botão aceito tudo, estamos aceitando que nossas informações mais íntimas sejam recolhidas e tratadas indiscriminadamente.

Com o frequente acúmulo de dados sem nenhum tipo de controle de como são utilizados, cria-se a necessidade de elaborar leis, procedimentos de controle e debates sobre o assunto. Como exemplo da UE com a criação da Nova lei da proteção de dados.

Um dos casos mais recentes sobre esse assunto foi a briga entre a Apple e o Facebook. Não é de hoje que ambas as empresas entram em conflitos a Apple acusa o Facebook de recolher demasiados dados dos clientes para ganhar dinheiro e o Facebook por outro lado alega que a Apple é um produto muito elitista, o que vai em contrapartida com o ideal do Facebook, que acredita que se deve entregar as ferramentas de forma gratuitas (Facebook, Instagram, WhatsApp e outras) para ajudar pequenas empresas a expandir seus negócio. A verdade é que não existe almoço grátis, simples assim, senão pagamos pela utilização de um serviço online, os nossos dados de utilização estão sendo a moeda de troca.

A Apple para proteger os dados de seus usuários implementou uma nova atualização do IOS 14, onde todos os aplicativos da App Store serão obrigados a notificarem ao utilizador ,através de um pop-up, se ele aceita ou não ter seus dados recolhidos por aquele aplicativo, sem aquelas famosas letras pequenas e textos confusos indo direto ao ponto, como demonstra a imagem.



Ok, o que isso muda na verdade? Para os utilizadores da Apple os seus dados estarão mais restritos caso não aceitem ceder os seus dados. Porém ainda terão eles recolhidos de maneira bem mais reduzida (Exemplo o Facebook ainda irá usar suas informações para os anúncios mas de forma mais light). Assim sendo, os anunciantes digitais terão menos dados dos usuários Apple. Sendo esse movimento por enquanto restrito a Apple, as demais empresas continuam operando suas App stores da mesma maneira. Em alguns países como Brasil onde a grande maioria utiliza Android não terá uma grande diferença, porém, nos EUA onde existe uma grande parte da população que utiliza o IOS, os anunciantes vão sofrer um impacto significativo.

Alguns pontos de reflexão:
Por que a Apple fez isso? Ela fez pensando realmente em proteger seus clientes?
Será que só existe desvantagem de oferecermos nossos dados em troca de conteúdo? Será que há reclamação disso quando recebe-se um desconto quase que 100% personalizado de um produto/serviço de algo se realmente estamos à procura?


Afinal qual é o limite?

Fonte: 1 2 3

2 comentários:

  1. - Como a professora gosta de nos lembrar "nós" somos o produto, fazer isso é apenas uma medida de protecionismo de mercado. "proteger os clientes" é apenas o storytelling para justificar que a apple pretende monopolizar as informações dos seus usuários.

    - No segundo ponto, penso um pouco diferente e a meu ver a pergunta pode ser feita de outra forma: Será que só existem vantagens em compartilharmos nossos dados? Se lembrarmos como são as características das gerações Y e Z e todos aqueles que querem estar o mais conectados possível, faz todo sentido que essa partilha seja necessária. Mas onde essa partilha confronta as questões de privacidade? As discussões recentes sobre a RGPD e sua implantação tratam bem deste assunto.

    https://www.economist.com/business/2018/05/26/who-will-be-the-main-loser-from-europes-new-data-privacy-law

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  2. Excelente post, Rafael! Adorei a referência ao 1984 de George Orwell. Não deixa de ser curioso como é que um livro lançado em 1949 (onde a tecnologia não estava evoluída, comparativamente aos dias de hoje) conseguiu "prever" que num universo "paralelo" o ser humano seria constantemente controlado, restringindo a liberdade deste. De facto, a proteção de dados dos utilizadores não poderia deixar de ser um tema tão atual "uma vez na rede, para sempre na rede", sendo que cada vez mais as pessoas estão preocupadas com a proteção dos seus dados. Assim, para "contentar" os seus utilizadores as empresas (tal como fez a Apple) irão demonstrar a sua maior preocupação com este tema, criando ferramentas para auxiliarem os utilizadores a ultrapassarem. Contudo, e considerando a sociedade capitalista onde estamos inseridos, estas manobras de "salvamento dos utilizadores" têm sempre alguma carta escondida. O que será no caso da Apple? O futuro próximo nós dirá...
    Mais uma vez, obrigada pela tua reflexão :)

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