O conceito de partilha é por consenso algo que envolve algum altruísmo quando emprestamos (partilhamos) uma folha de papel, ou pode gerar a expectativa de retorno quando emprestamos (partilhamos) o nosso carro a um amigo. Ainda assim o termo facilmente pode ser confundido, no contexto económico, com economia circular, economia colaborativa ou economia digital, tornando-se um desafio a definição de um conceito transversal e que integre totalmente os vários silos de análise.
O consenso que parece existir é que este "tipo de economia" veio permitir uma combinação eficiente entre procura e oferta, onde o intermediário perde relevância e o consumidor é agora também produtor e não perde na maioria das vezes a propriedade (conceito que iremos explorar mais à frente), por exemplo, em alguns serviços (embora outros impliquem direitos que também são transferidos). Esta última abordagem (economia digital) é acompanhada pela noção de risco, e é nesse risco que a Internet vai ter um papel fundamental.
O risco da partilha é avaliado
então no âmbito da propriedade ou transferência de propriedade: através da partilha
a pedido (muitas vezes traduz-se numa subscrição em troca do acesso) quando o
acesso só é possível na sequência da autorização do outro; em partilha
aberta, ou seja, aquela em que os interlocutores já se relacionam de alguma
forma, e sem expectativa de retorno daquilo que foi partilhado. Assim, a troca que antes era informal, agora é mais eficiente, sobretudo nos custos de informação e logística.
A WEB 2.0 veio de facto acelerar sobretudo a partilha aberta, justificada principalmente por quatro fatores: aceleração digital, urbanização crescente, preocupações ambientais e custos de transação.
O exemplo da Napster, enquanto partilha aberta, é claro, pois permitiria pela primeira vez a partilha peer-to-peer (download ou upload) de ficheiros de música ou filmes de forma gratuita. Do seu nascimento até à sua conversão legal, assistimos a uma explosão de opções semelhantes que obrigaram as indústrias de cinema e de música por um lado a forçar regras de propriedade intelectual de forma a controlar danos financeiros, como por outro a acolher estas novas formas de partilha para os seus modelos de negócio. Com a incorporação destas práticas nos modelos de negócio acompanhadas pela regulação de propriedade intelectual ajustada ao mercado sugeririam mais tarde as plataformas de download/streaming como, por exemplo, o I-Tunes ou mesmo o Spotify para música, ou a Netflix para filmes/séries.
Outra curiosidade acerca do
fenómeno da partilha online é que muitas vezes a mesma não envolver nenhuma
compensação. O utilizador apenas partilha textos, música ou vídeos, cuja ação que
é incentivada pelas plataformas: o Facebook pergunta-nos “Em que estás a pensar?”,
o Youtube “O que tens para partilhar?”, ou a Wkipédia com uma "Esplanada" onde
grupos podem partilhar as suas ideias acerca de temas específicos (ou mesmo a
Comunidade de Editores). É então a partir do conteúdo gerado e
partilhado que as mesmas plataformas vendem espaço para publicidade aos
segmentos onde atuam, enquanto lutam pelos lugares cimeiros da
pesquisa orgânica em motores de pesquisa como a Google, a qual também tem a sua
fonte de rendimento nos anúncios.
Um último conceito a assinalar é o
caso da plataforma Airbnb.com que nos traz outra ideia da economia da
partilha com base no princípio da eficiência coletiva. Um conjunto de pessoas
com interesse em realizar a mesmíssima transação, partilham o seu próprio
espaço de habitação num canal comum. Sob este princípio, a relação custo benefício
é superior tanto para quem vende - porque os custos de transação são
substancialmente menores face a uma promoção isolada – como para quem compra,
já que entra em contacto com algo que potencialmente é único na experiência
oferecida. Do encontro de interesses a plataforma retém uma percentagem do valor transacionado.
De assinalar uma vez mais, que a economia colaborativa no online veio desafiar os modelos tradicionais, que em casos como o do alojamento turístico, onde a personalização massificada pelos recursos às “novas” ferramentas disponíveis é por si necessária. Esta nova economia levanta também várias questões e desafios: a consolidação de informação a nível estatístico de forma a perceber e atingir determinados targets, a linha ténue entre a partilha ou o convencional aluguer, ou mesmo a perspetiva da coopetição como modelo a migrar para a economia digital para alargar possibilidades e aumentar a competitividade nos negócios.
Olá Hugo, bem vindo ao blogue! É verdade que existem vários termos para designar este fenómeno... Acrescentaria até um outro aos que refere, o consumo baseado no acesso (ou "access-based consumption"), muito associado aos modelos de negócio da Uber ou ao streaming. Estes modelos refletem várias características da atual geração de consumidores, que preferem o acesso à posse e criaram novas trocas P2P ou C2C, que muitas vezes ocorrem independentemente das marcas. Iniciativas sustentáveis e solidárias de aproveitamento de recursos, como p.e. ações de combate ao desperdício alimentar ou de troca de bens em segunda mão, são também reflexo desta lógica de partilha e de interajuda com vista a fazer do mundo um lugar melhor ("inner glow"). Modelos de negócio disruptivos, que muitas vezes funcionam em modo troca-por-troca, sem envolver transações monetárias ou bens tangíveis, vieram sem dúvida para ficar!
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