O mercado das
sapatilhas é um dos mais competitivos de sempre. Este mercado faz as grandes
marcas (Adidas, Nike, Puma, Under Armour) procurarem o melhor design, os melhores
atletas, a melhor gestão de logística e o melhor marketing.
Entre estas 2
marcas destacam-se a Nike dos Estados Unidos da América e a Adidas da
Alemanha. No entanto, a Nike tem dominado o mercado, tendo um market cap de $216,75
B (valores de março de 2021). Comparando estes valores com os da Adidas ($67,23
B), da Puma ($16,13 B) e da Under Armour ($9,65 B) percebemos que o market cap da Nike é mais do dobro do
que as outras 3 juntas.
Apesar da
Adidas e Puma terem dominado o mercado durante muito tempo, o domínio da Nike
dura há décadas. Mas que estratégia é que a gigante americana tem adotado para
se manter no topo?
Enquanto a
Adidas (nos anos 80) investia o seu dinheiro em organizações como a FIFA e o
Comité Olímpico Internacional, a Nike investia mais nos atletas e a otimizar as
suas sapatilhas. Esta aposta da Nike fez com que ela ficasse com um vasto leque
de designs e tecnologias inovadoras, sendo a mais recente a sapatilha de running Nike Vaporfly que foi quase banida por
aumentar a performance dos atletas (o que por si só, já é um bom marketing).
Para além disso, a sua aposta em atletas fez com que a empresa desenvolvesse
parcerias com os melhores atletas do mundo, como por exemplo Michael Jordan,
Tiger Woods, Serena Williams, Naomi Osaka, Ronaldinho, Roger Federer, Rafael Nadal, LeBron
James e Cristiano Ronaldo.
A Nike é uma
organização matrix, onde os
trabalhadores reportam a mais do que um supervisor. Isto faz com que a troca de
informações seja maior e a comunicação seja mais eficiente. Inicialmente, a empresa
apostou numa organização que tinha como subcategorias o desenvolvimento, o
mercado e as vendas por tipo de produto. Como esta abordagem não ia ao encontro
das necessidades do consumidor, em 2008 a empresa organizou-se por desportos
como running, futebol, basquetebol e
treino (gym). Esta mudança fez com
que as vendas aumentassem 70% e afetou o layout
das lojas, tornando a experiência mais agradável ao consumidor. Isto também fez
com que as pessoas procurem uma sapatilha para cada atividade que pratiquem.
Por exemplo, se as pessoas correrem e fizerem ginásio, irão comprar uma sapatilha
para correr e outra para fazer ginásio. Num ponto de vista de gestão
financeira, este modelo dá mais controlo à marca, que consegue investir
diretamente nas categorias que estão a ter pior desempenho.
É também
importante referenciar que a Nike tem recorrido à exclusividade para atrair os
consumidores e aumentar a sua market share, vendendo quantidades limitadas de
sapatilhas e recorrendo a colaborações com marcas de streetwear e de luxo tais
como a Dior, Off-White, Sacai, Commes des Garçons, Ambush, Undercover, Cactus
Plant Flea Market e Swarovski. Para além disso, o seu vasto leque de designs
icónicos como a linha Air Max e a Air Jordan permite-lhes lançar retros, que são lançamentos de
sapatilhas com colorblockings que não
foram lançadas há muitos anos e são parte da história e cultura da marca. Estes
lançamentos ocorrem na aplicação SNKRS, onde a marca também aposta em conteúdo storytelling que incentiva as pessoas a
partilhar fotos nas redes sociais com determinados hashtags (marketing digital
gratuito) e lives onde participam
convidados que interagem com os membros. Isto combinado com as páginas de Instagram, Facebook e Twitter (que não pertencem à Nike) que são dedicadas a esses
lançamentos, fazem com que esse tipo de sapatilhas sejam muito cobiçadas no
mundo online e seja uma estratégia de marketing digital incrível, sendo que traz mais importância à marca, fortalece o seu branding e entra no segmento de luxo com as colaborações e a exclusividade.
Para o futuro,
a Nike quer investir mais em vendas online pelo seu próprio website, em vez de
vender a outras empresas como a JD Sports ou a Foot Locker. Isto permite à
Nike vender mais sapatilhas por retail,
em vez de wholesale, ganhando mais
dinheiro por cada sapatilha que vendem (aumentando a margem de lucro). Para
além disso, a Nike também está a investir mais em marketing e produtos de mulher, visto ser um mercado que
está em ascensão e tem também melhores margens de lucro.
Na minha opinião
a Nike é sem dúvida um role model em
termos de marketing. Uma empresa que começou entre 2 gigantes (Adidas e Puma),
conseguiu através da sua excelente capacidade de decisão, timing de mudança e inovação superar a concorrência e tornar-se aquilo que é
atualmente. Note-se que a Nike não é a responsável pela produção das suas sapatilhas. Estas são
produzidas por fábricas independentes e a empresa compra-as e tem o seu trademark, o que lhes permite focar mais no marketing
e no design.
Se refletir sobre o assunto da exclusividade, penso que o trade-off que a Nike faz com a venda de quantidades limitadas de certas sapatilhas faz com que a empresa ganhe menos dinheiro em vendas mas consiga um marketing digital bastante bom e desperta interesse genuíno por parte dos consumidores, comparativamente com os stocks da concorrente Adidas que são muito maiores (e consequentemente as sapatilhas são menos cobiçadas). No entanto, esta estratégia também traz consequências como um aumento da contrafação para tentar satisfazer a procura gigante pelos modelos que a Nike não satisfaz.
Na minha opinião a estratégia compensa, até porque a empresa tem outras sapatilhas com stocks enormes e consegue fazer mais vendas por aí. E vocês, o que acham? Será a exclusividade um dos fatores importantes para o sucesso do marketing digital da Nike e, consequentemente, da empresa em si?
Obrigado por esta excelente exposição do mundo Nike. É verdadeiramente interessante ver como uma empresa atinge o sucesso por pequenos detalhes que fazem a diferença. Caso para dizer que a Nike "just did it".
ResponderEliminarEm relação à exclusividade, eu nunca pensei na Nike enquanto exclusiva a não ser eventualmente pela selecção através de preços. Mas sempre vi a Nike como portadora de algum estatuto, por isso, sim cobiçadas. Aliados a isto a Nike trabalha com excelência a dualidade das campanha protagizadas pelos melhores do mundo e o apelo ao atleta comum.
Também podemos pensar na exclusividade enquanto o produto para mim. A divisão em segmentos desportivos funciona muito bem, quer pela personalização do serviço, quer pela necessidade que criou onde não existia (e, por vezes, continua a não existir embora se possa crer que sim). Mas se a isto, então se alia a exclusividade - números limitados - de alguns produtos, é natural que os níveis de desejo aumentem. E, mesmo que não venda tantas unidades como poderíamos achar possível, muito provavelmente venderá a próxima colecção aos que não puderam comprar a anterior. Manterá, por este meio, uma contínua procura pelos seus produtos que, até pelo seu desgaste natural, nomeadamente sapatilhas, como que funcionará por turnos de compradores.
Ainda que estas reflexões não sejam as mais correctas, os números aqui apresentados, que destacam a Nike numa maratona concorrencial, demonstram a qualidade desta marca, que a mais não ser, tem apresentado uma imagem e comunicação sempre muito coerente e, por isso, podemos acreditar, fiel a si mesma. E esta originalidade é sempre exclusiva.
Boa noite Emanuel!
EliminarRealmente a maioria dos "comuns mortais" não vê a Nike como exclusiva porque a empresa quer que apenas um nicho encare os seus produtos dessa forma, por isso é que a empresa separou o lançamento de produtos através da criação de 2 aplicações:
- A Nike App, onde são lançadas GR (general releases), que são lançamentos em que são produzidos grandes quantidades de produto, nomeadamente sapatilhas;
- A SNKRS App, onde são lançadas QS (Quickstrike releases) e algumas GR. As QS são lançamentos de sapatilhas que têm um stock baixo (por exemplo fazerem apenas 20000 pares do mesmo modelo de sapatilhas).
Assim, a Nike consegue separar os dois "mundos". Esta exclusividade também tem potencial para "influenciar os influencers", que utilizam as sapatilhas mais limitadas e postam fotos nas redes sociais, fazendo com que os lançamentos ganhem hype e com que os "comuns mortais" que os seguem tenham a marca em alta consideração. Um conceito que se assemelha ao earned media. Para além disso, isto fomenta a criação de comunidades nas redes sociais que são especializadas nesse tipo de lançamentos.