terça-feira, 4 de maio de 2021

O preço da Arte na era digital

Desde a criação da internet, sua absorção pela geração Millennial e com a geração Z totalmente dependente dela, muito se alterou em diversos mercados e muito ainda se tem para alterar. O fato destas novas gerações não possuírem apegos materiais, estarem muito mais interessadas em expor suas individualidades e terem aspetos de consumo muito focados na interatividade e personalização, traz uma alteração na relação desses indivíduos com as artes, em que aquilo outrora único, deve estar acessível a todos e aquilo que um dia esteve espalhado ao mar da rede de computares seja agora rasteado e precificado. 

Um exemplo de que hoje podemos nos apossar daquilo que foi outrora único é a plataforma Scan The World. Criada de forma colaborativa, a plataforma é uma iniciativa que visa compartilhar esculturas e artefactos culturais para impressão em 3D, a fim de tornar a cultura mais acessível a todos. Atualmente, o museu virtual possui 18 mil scans digitais, uma coleção que abrange uma grande variedade de obras de arte, desde o busto de Nefertiti até O Pensador. Após uma parceria da plataforma com o Google Arts and Culture, que adicionou milhares de peças à plataforma, essas e todas as novas obras podem ser baixadas e impressas em 3D gratuitamente em apenas algumas horas.


Isso dará a qualquer pessoa, o acesso a obras de arte consideradas patrimônios mundiais que passam a romper a barreira física de sua existência. E esse é apenas um de diversos exemplos que nos permite ter acesso de forma gratuita a esses patrimônios.

Em contrapartida, o mundo das artes digitais, outrora já acostumadas a serem disseminadas, copiadas e divulgadas a exaustão, veem nascer uma nova forma de mercado com o uso das tecnologias blockchain e a geração dos NFTs (Non Fungible Tokens), bem como algo que está de alguma forma relacionado com os chamados cripto-colecionáveis. Até aqui, o custo de replicar algo no mundo digital era próximo de zero. Com o advento da tecnologia blockchain, a “escassez digital” programável tornou-se possível – e agora está a ser usada para mapear o mundo digital para o mundo real. Todos já devem de ter visto a imagem abaixo, o Nyan Cat, a mesma teve sua NFT vendida por aproximadamente $ 600 mil dólares.

Os NFTs podem ser usados por aplicações descentralizadas (DApps) para emitir itens digitais exclusivos e cripto-colecionáveis. Os tokens podem ser itens colecionáveis, um produto de investimento ou qualquer outra coisa. Isso não impede que a arte seja deliberadamente copiada no universo digital, o que o token permite é que a partir da criação da arte em NFT seja criado um código rastreável, que garante a posse e unicidade daquele item. Uma analogia, seria como que, qualquer um pode baixar a imagem d’A Noite Estrelada de Van Gogh e usá-la como fundo de tela – mas todos sabem que a pintura original, por ora, está no MoMA, em Nova York. A ideia é que o mundo da arte digital fique mais parecido com o da arte convencional dos museus, galerias e coleções particulares (um mercado multimilionário, diga-se). Esse ano houve o maior valor pago, até então, na aquisição de uma arte em NFT, $69 milhões de dólares.

Uma possível conclusão que podemos ter é que para as novas gerações, aquilo que um dia foi caro, raro ou precioso, quando transportado para o digital, que se torne grátis, acessível e que seja possível, de preferência, ser personalizável. E com essa alteração da perceção de valores e perspetivas de mercado, aquilo que um dia esteve no espectro do "grátis" passe a trazer remuneração aos seus criadores, assim como já acontece em outros modelos de negócios digitais. 

E vocês colegas, que reflexões podem tirar desse conteúdo? Concordam com a minha ;) ? 

O que pensam sobre o fato de que, se esta no digital, queremos ter acesso mas não queremos pagar, mas quero ter a posse e se possível personalizar?

Já conheciam as NFTs e como elas estão a mudar outros mercados, não só o das artes?      

Fonte 1

Fonte 2

2 comentários:

  1. Excelente artigo, Alano! A fazeres um muito bom enquadramento não só a nível de conceitos, mas também a nível histórico. Concordo muito com a tua opinião. Acredito mesmo que o tema da “posse” e da “exclusividade” sejam cruciais para muitos consumidores. Eu próprio já tinha feito um artigo sobre o tema dos NFTs face a uma estratégia das Pringles. Creio mesmo que há um potencial de crescimento enorme neste tipo de inovação e que estes ainda são um “bebé”.

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  2. Para ajudar à compreensão do tema, deixo aqui um artigo da revista Visão (https://visao.sapo.pt/atualidade/cultura/2021-04-28-ja-conhece-a-nova-euforia-nft-para-totos/) Cada vez mais vamos passar a ouvir “NFT” no nosso dia a dia e há cada vez mais pessoa a criar os seus próprios NFT. Um desses casos foi a cantora Ana Moura que deixou de ter uma agência que a geria no sentido de criar um novo caminho de contacto direto com os fãs, sem intermediários.

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