Segundo a lenda o Santo considerava que ver seria fundamental: ver para acreditar. Pois nos dias de hoje, “ver para crer” não é critério, vivemos mundos cibernéticos, digitalmente acelerados e ilusórios. Trago esta questão com um caso, o de uma fotografia em que jovens, (face à data do acontecimento talvez a Geração Z), estão de costas voltadas para a pintura “A Ronda Noturna” de Rembrandt presos pelos ecrãs dos telemóveis. Esta fotografia foi tirada em 2014, no "Rijksmuseum" em Amesterdão – portanto, há 10 anos! – e recorrentemente ressurge para fundamentar conceções sobre a “juventude” e sobre a alienação associada às novas tecnologias.
Não quero discutir estas questões que carecem de uma avaliação mais desenvolvida e estudada, quero só chamar a vossa curiosidade e discussão para esta dualidade que nos acompanha há alguns anos neste mundo digital. Conta-se que foi um guarda do museu que fotografou a cenário. Não foi! Foi o fotógrafo Gijsbert van der Wal e que declara: “Quase todas os jovens estavam a fazer pesquisas nos seus próprios smartphones ou nos dos seus colegas de turma. Pensei que fosse curioso e tirei uma foto. Na mesma noite, publiquei a foto no Facebook onde, para minha grande surpresa, em poucos dias, foi partilhada quase 9.500 vezes. A imagem também foi republicada por outros e partilhada no Twitter, Tumblr e Reddit. Tornou-se viral, com as pessoas a comentar: a juventude de hoje está mais interessada no Whatsapp do que em Rembrandt. Este post é, portanto, FALSO: os alunos estavam simplesmente a navegar na aplicação do museu, que apresenta as pinturas em exposição e fornece explicações escritas ou sonoras da pintura que estavam a observar, uma facilidade e um avanço também para os deficientes visuais e auditivos”.
A quantos de nós, em visitas de estudo, os professores pediam para tirar notas na hora? Em determinada altura, provavelmente, tirávamos as nossas notas sobre os locais, em papel e esferográfica. E agora? Agora, o mais provável é registarmos os nossos apontamentos nos nossos smartphones em qualquer situação e nos museus também os usamos para ouvir as explicações que constam no QRcodes ou nas aplicações dos museus. Importa lembrar que não é o dispositivo que define o conteúdo, tal como não é a forma que define o bolo. Se um leitor estiver num café a ler o Expresso ou o Jornal de Letras ou outro, aparece como uma pessoa mais empenhada nas coisas do mundo e intelectuais; se estiver a ler os mesmos jornais num telemóvel passam por pouco intelectuais, desinteressados e supérfluos?
Para finalizar, com acelerar da democratização dos equipamentos eletrónicos, como smartphone, com o aumento da digitalização dos conteúdos, continuamos a viver numa época que é ver para crer, mas de uma outra forma de ver as coisas!
O ponto desta publicação, para além de discutir a questão das novas tecnologias e seus efeitos. É também - e não menos importante, chamar a atenção para que nos nossos dias não funciona o “ver para crer” é também nossa responsabilidade individual. E isto aplica-se ao nível pessoal e profissional.
Fontes:
https://amusearte.hypotheses.org/853
https://veja.abril.com.br/tecnologia/3-em-cada-10-criancas-de-4-a-6-anos-possuem-smartphone
https://professorrafaelporcari.com/2022/12/05/os-viciados-por-telefone-celular-a-dependencia-pode-ser-a-mesma-de-narcoticos-2/
https://static.casperlibero.edu.br/uploads/2015/06/LILIANE-APARECIDA-PELLEGRINI-PEREIRA.pdf
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