quinta-feira, 3 de junho de 2010

O problema do lagarto

A capacidade de uma empresa em diversificar o seu negócio era vista pelos seus accionistas como uma menos valia que os mercados mais competentes sempre penalizaram. Estudos provavam nas bolsas mais activas e eficazes, como o S&P ou o NASDAQ, que sempre que uma empresa diversificava o seu negócio, para fora das suas competências, quer por criação de unidades de negócio, quer por M&A, o seu valor reduzia. Para o investidor, é certo, esta mudança aumentava o risco e logo, também o seu medo, caindo o valor das acções.

Resumindo, “se sais do teu mercado, lá se vai o teu dinheirinho”, e logo a empresa vale menos.

Ora bem, estou a aprender que isto está a mudar… As teorias relativas aos nichos que as empresas e tecnologia vêm a ocupar, destronando pesadas corporações tem sido alvo de evidente estudo, não tento pelo fenómeno, que penso que sempre ocorreu, mas pela velocidade e dimensão com que ocorre. O mercado está a mudar, e com ele oportunidades de nicho que estas pequenas mas dinâmicas empresas tiveram capacidade de captar.

Mas agora, as maiores também aprenderam a lidar com este fenómeno dos tempos modernos, pelo menos aquelas que se aventuram pelo mundo virtual. São diversos os exemplos que nos surgem… De tal modo que, por exemplo, é nestes nichos que algumas delas vêm concentrados os maiores volumes de receita, caso da Amazon?...

Agora vem a provocação.

Estes efeitos de mercado são tentadores e obrigam à adopção de modelos de gestão assentes em portefólios. Estes nichos são, também, muito vulneráveis, melhor dizendo, são extremamente imprevisíveis (este é um facto, venha quem vier a dizer o contrário…), tanto surgem, como desaparecem, muitas das vezes porque são mal compreendidos como a bolha das “dot com” de finais do século passado.

E este pode ser um desafio e um problema, que pode causar perda de milhões de investimento em negócios construídos sob nichos voláteis. Então têm vantagens as empresas com, digamos, dimensão, que como o lagarto, se perderem parte da cauda, ou mesmo a cauda inteira, conseguem sobreviver. Aqui, o tamanho conta.

E o que é que isto tem a ver com o marketing? Muito. Vai obrigar os homens e mulheres do marketing a manter redobrada atenção a estes nichos de oportunidade sob pena de darem tiros no pé, que lhe levem o corpo todo.

Controlar o nicho, mantendo fortes relações com o consumidor é uma arma que aumentou com o poder de fogo proporcionada pela internet e principalmente com as redes sociais. Aquilo que me parece é que os homens de negócio auxiliados pelos seus endeusados marketers disparam fogo contínuo. Tal como nas Katiuskas soviéticas, não interessa a qualidade do foguete. Vale é a quantidade e o ruído. É assim que é percepcionada relação com o alvo, jogando com todas as opções possíveis: a experiência e o experiencial, o choque e a emoção, a guerrilha e espanto, o impacto e a força. Se isto é mau? Nah… é um espectáculo.

2 comentários:

  1. De facto o que os homens e mulheres do marketing terão de compreender de facto é a valia de encontrar cada cliente na sua unicidade e distinção.

    De facto o cliente pensa que é diferente e distintivo. No entanto e no limite nada que sofisticadas ferramentas de CRM não possam ajudar a dissecar. Encontrar com certeza o que cada um dos nós pensa ser único e distintivo, tornou-se possível. No entanto no limite o homem é um bicho de hábitos e que vive em grupos. Esta unicidade não é única, antes deve ser entendida no meio de excentricidades e hábitos de grupo.

    Um fenómeno sociológico interessantissímo, a unicidade ... grupal. Se assim o podemos designar. Faz parte do Homem não estar sozinho...!

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  2. Ou melhor...a marca ajuda ao espectáculo.

    Respondendo então à provocação...

    Numa entrevista recente ao Jornal de Negócios (04.06.10), Pedro Bidarra, chief creative oficer da BBDO, destacava que "se há uns anos se dizia que o meio é a mensagem, hoje pode dizer-se que a mensagem é o meio".

    Mais do que fazer ruído (embora algumas campanhas "descarrilem" e disparem foguetes em todas as direcções), a ideia é dar um conteúdo, associar uma mensagem às marcas, que seja suficientemente relevante para o target (branded content). E formar assim laços duradouros com o consumidor que reduzam a sua volatilidade.
    Como discutido no caso da Porto Editora, esta mais do que estar associada à venda de livros, poderia passar a associar-se ao prazer da leitura, em particular, e até ao entretenimento e à cultura, em geral.

    O tema do futebol, por exemplo, é um potencial agregador para marcas minimamente relacionadas (como as cervejas, onde o consumidor vê a ligação, a relevância, e a relação tem potencial para se manter).
    A comunicação tem que interessar de tal maneira ao consumidor que este passa a "andar com ela". Mesmo que seja com uma vuvuzela...:)

    PS: Para além de ter criado a vuvuzela, Pedro Bidarra esteve também por trás de "espectáculos" ruidosos como o hino "Menos Ais" da GALP por alturas do Europeu de Futebol, o anúncio da baleia da Optimus ou da imagem de Portugal como a nova "Europe's West Coast"... muito "foguetório"?

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