Em novembro de 2016, foi anunciada a decisão da CNN de
adquirir, por 25 milhões de dólares, a aplicação de video-messaging Beme fundada por Casey Neistat. Esta
informação pode parecer inócua sem qualquer contexto, pelo que convém elaborar
os detalhes e consequências que esta aquisição realmente tem.
Casey
Neistat, um conhecido YouTuber americano, vlogger e produtor, fundou a
aplicação Beme em 2014, como alternativa ao conteúdo altamente editado
encontrado em social media, fornecendo uma aplicação com simples gravação e
partilha de vídeo, sem possibilidade de edição – como uma versão minimalista de
Snapchat. Ao longo da existência da empresa, foi obtendo financiamento que lhe
permitiu continuar a existência, apesar de, após um lançamento relativamente
bem sucedido, ter falhado em conseguir ganhar território contra os gigantes já
estabelecidos.
Esta
análise leva à questão: porque é que a CNN compraria uma aplicação mal
sucedida?
A
resposta é que o propósito da aquisição não terá sido a obtenção da aplicação,
mas sim a contratação dos seus trabalhadores, nomeadamente, a contratação de
Casey Neistat. Dado o complicado mundo de fake news, alternative facts e
dificuldade em estabelecer uma relação com uma geração habituada a obter as
suas notícias através de meios digitais, a contratação de uma personalidade,
conhecida por oferecer comentários à atualidade, e que conta com uma fanbase
jovem e leal, parece ser a forma da CNN se tentar posicionar no novo mundo
digital dos media.
Esta
nova estratégia da CNN foi revelada ao Hollywood Reporter no início deste mês pelo
chefe da CNN, Jeff Zucker, que inclui novos programas com foco prioritário no
conteúdo para mobile, mas também um programa noticioso digital liderado e
apresentado por Casey Neistat num canal de YouTube a lançar já este mês. Para
além disso, Casey Neistat anunciou que, em conjunto com a sua equipa e em
seguimento da aquisição pela CNN, está a desenvolver uma aplicação com conteúdo
tratado por jornalistas, fornecido através de 12 live streams que
providenciarão “raw, unfiltered, unedited
newsfeeds. Delivering that without context strips away the
noise. It leaves you with exactly what’s taking place.”, num formato
semelhante ao que se poderia descrever como um canal noticioso online.
Embora
Casey Neistat tenha referido que parte da sua motivação para criar este novo
formato noticioso foi a desconfiança com os mais jovens encaram as notícias
apresentados pelos chamados canais tradicionais e que pretende colmatar essa
falha, apresentando a informação tal como ela é, sem filtros, há quem se
apresente céptico dada a sua relação com CNN e a dificuldade de apresentar sem
filtro, mas ao mesmo tempo “tratada por jornalistas”.
Em conclusão, a parceria estabelecida entre Casey Neistat e a CNN parece indicar o reconhecimento de um dos gigantes noticiosos da importância do conteúdo online, assim como da necessidade de procurar as audiências, fornecendo-lhes os conteúdos que desejam num formato mais personalizável. Fica para concluir qual o impacto que esta parceria terá na criação de conteúdos noticiosos e na sua distribuição por novos meios digitais, em novos formatos e a novas audiências.
Em conclusão, a parceria estabelecida entre Casey Neistat e a CNN parece indicar o reconhecimento de um dos gigantes noticiosos da importância do conteúdo online, assim como da necessidade de procurar as audiências, fornecendo-lhes os conteúdos que desejam num formato mais personalizável. Fica para concluir qual o impacto que esta parceria terá na criação de conteúdos noticiosos e na sua distribuição por novos meios digitais, em novos formatos e a novas audiências.
Fontes:
- http://observer.com/2017/03/cnn-youtube-casey-neistat-beme/
- http://www.businessinsider.com/casey-neistat-cnn-show-2017-3
- http://www.hollywoodreporter.com/features/cnn-chief-jeff-zucker-unveils-plan-dominate-digital-new-shows-a-25m-youtuber-donald-trump-c
- https://www.youtube.com/watch?v=-3LedmpDKfI
- https://shifter.pt/2016/11/cnn-compra-aplicacao-de-video-de-casey-neistat-beme/
- https://en.wikipedia.org/wiki/Beme
O tempo passa e o mundo transforma-se! Cada vez mais os consumidores exigem informação "crua" e mediatismo. Pretendem saber do que se passa no mundo, no imediato, e querem ter acesso a como tudo foi feito. Isto leva a que cada vez menos se deixem deslumbrar pelo que lhes é apresentado. Com tudo isto, os consumidores, especialmente os consumidores mais jovens, querem a informação na sua forma mais natural e na palma da sua mão, literalmente, e não apenas na televisão quando chegam a casa. Esta aquisição estratégica da CNN prova que a empresa está atenta à atualidade, agora é esperar para ver se resulta!
ResponderEliminarFrancamente, apesar de apreciar a decisão estratégica da CNN de ir atrás das audiências nas plataformas onde elas se encontram, acho que a decisão da pessoa em si para o fazer vai acarretar outras complicações.
EliminarDurante e depois da campanha eleitoral dos EUA, a CNN foi acusada de estar demasiado alinhada com o partido democrata. Pelo seu lado, o Casey Neistat foi um dos YouTubers que mais apoiou a Hillary e incentivou outros para o fazerem.
Para melhor e para pior, e tendo em conta o clima de divisão nos EUA, tem sido possível encontrar críticas (nas quais não me revejo) sobre como, ainda que a CNN esteja a fazer o esforço de ir atrás do público, o faça com alguém que efetivamente tinha uma posição marcada.
Eu concordo contigo, Catarina.
EliminarA verdade é que as pessoas cada vez menos confiam logo no que lhes é dito. Cada dia que passa, inventa-se algo novo, se não for inovador ao ponto de chamar atenção dos consumidores, como é que vai sobreviver?
A estratégia utilizada pela CNN, usar uma "personagem" bastante conhecida no mundo do Youtube, é realmente boa. Tal como já foi referido num post anterior, (em que usarem este mesmo Youtuber para lançar uma campanha para Samsung) darem a cara de uma pessoa conhecida pode ser uma mais valia para uma marca, porque cada vez mais, o público confia menos na informação que é transmitida por ela, e mais pela informação dos outros, mesmo desconhecidos. Agora, acho que sim, a informação deve ser bastante direta, sem rodeios, para que o consumidor perceba realmente o que está a ser feito.
Agora, depois de uma aposta falhada, a questão é mesmo se vão conseguir ter uma melhor resposta desta vez.
Obrigada,
Joana Pinto