YouTube TV é o futuro assassino
da televisão por cabo… possivelmente.
Comecemos por partes.
Em que vai consistir a YouTube Tv?
Basicamente, o serviço, que
contará com a participação de vários canais de televisão, proporcionará aos
clientes um serviço semelhante ao prestado pelas empresas fornecedoras de tv
por cabo (no caso português, a NOS, MEO, Vodafone, por exemplo).
O YouTube TV terá pacotes base –
que terão um certo número de canais – sendo depois permitido ao cliente que
pague mais pelos canais premium que deseja ver e não pagar por aqueles que não
quer ver. Além disso, e tendo em conta o mercado de lançamento inicial (os
EUA), existirá também a possibilidade de ter canais locais e regionais.
Como irá funcionar?
A premissa da utilização será
muito semelhante à aplicada nos canais de YouTube já existentes. O utilizador
apenas tem que procurar a série ou programa que deseja ver, subscrever o dito
conteúdo e este gravará o programa em todas as redes, bastando ter acesso à
internet para conseguir ver os programas favoritos.
Irá também contar com ilimitada
capacidade gravação de séries, ou seja, será possível ver todos os episódios
que “gravarmos” da nossa série favorita (Cloud DVR – digital vídeo recorder),
sem termos que nos preocupar, como acontece com a tv cabo normal, atingir o
limite de capacidade de gravação da box (DVR normal). Para além disso, irá
também conter todas as funcionalidades de pôr pausa, “rewind”, “fast forward”.
Mais importante, é o facto de não
ter período de fidelização, como já estamos infelizmente habituados em
Portugal, e tem o preço base de $ 35 por 6 logins – isto significa que, por 35
dólares, se poderá ter 6 utilizadores diferentes associados a uma mesma conta,
6 pessoas a utilizar o mesmo serviço em sítios diferentes (no entanto, pelo que foi possível averiguar, só se poderá usar até 3 contas simultaneamente), reforçando a sua
possível utilização quer por famílias inteiras, quer por grupos de amigos que
queiram dividir o serviço entre si.
Porque é que o serviço irá trazer mudanças ao mercado?
Em primeiro lugar, é preciso
indicar que já existem fornecedores de televisão pela internet nos EUA como
Direct TV, Sling TV e a Playstation TV.
No entanto, é de apontar que a
YouTube TV já se apresenta como mais vantajosa do que estes concorrentes
online, na medida em que oferece mais features:
- A Direct TV
o
não permite Cloud DVR
o
só permite pôr pausa (não permite rewind ou fast
forward)
o
só permite 2 logins diferentes
- A Sling Tv
o
encontra-se a testar a introdução do serviço
Cloud DVR (com o limite de 100 horas de gravações e impossibilitando a gravação
de certos canais)
o
só permite pôr pausa/rewind/fast forward em
alguns canais
o
só permite entre 1 a 3 logins diferentes
- A Playstation Vue
o
tem Cloud DVR
o
só guarda as gravações durante 28 dias
o
Permite pausa/rewind/fast forward
o
Permite 5 logins diferentes
Em relação ao fornecimento de Tv por cabo normal (num formato igual ao da NOS, MEO, etc), é de relembrar o peso exponencial que o efeito de “cord cutting” tem vindo a apresentar. Cord cutting refere-se a pessoas que cancelam a sua subscrição de pacotes de televisão com vários canais, abandonando o formato de pagamento por acesso a canais pagos. Este fenómeno tem obtido cada vez mais relevância devido ao aparecimento de serviços de livestream de séries, como a Netflix, Hulu, etc, uma vez que as pessoas deixam de ter a necessidade de subscrever todo um canal de televisão se só querem ver uma ou outra série produzida por esse mesmo canal, permitindo assim a personalização do conteúdo consumido. Este fenómeno também tem ganho relevância dada a facilidade em obter acesso a séries de televisão através de pirataria, mas também o aumento da preferência por conteúdo disponível online e não televisivo (YouTube, por exemplo).
Este
efeito leva a que as pessoas deixem de querer pacotes abrangentes de
telecomunicações (comummente impingidos em Portugal, em que somos forçados a
obter televisão, telefone, internet) e permitindo ao cliente diversificar e
personalizar o seu consumo. Dada a redução do uso do telefone fixo, os clientes
já têm os seus próprios planos para telemóvel e, com o surgimento deste tipo de
serviços online que permitem ver séries, leva a que os clientes deixem de precisar
de pacotes que incluam televisão por cabo, bastando-lhes internet.
Aliás,
sabe-se que, no caso dos EUA, o número de subscritores de tv por cabo têm vindo
a cair, o que pode ser justificado pelo aparecimento de novas e melhores
alternativas, como a Netflix e a Amazon Prime. No entanto, esses serviços
poderão ter dificuldade em competir com a YouTube Tv uma vez que a Netflix e a
Amazon Prime têm, no seu catálogo, séries e filmes, mas não contam com todas as
séries de uma grande multitude de canais nem a possibilidade de ver canais desportivos
(algo que será possível com YouTube TV).
Para
além disso, a introdução da YouTube TV servirá para reforçar a própria posição
do YouTube enquanto fornecedor de entretenimento, integrando este serviço com
os outros serviços já prestados pelo YouTube. Com uma conta de YouTube Tv, o
utilizador terá também acesso a YouTube Red, possibilitando-lhe acesso a
conteúdo original e exclusivo de criadores de conteúdo para YouTube. De igual
modo, também terá sida indicada a possibilidade de, no final de uma série, surgirem
recomendações de vídeos no YouTube, trazendo audiências para outros setores e
formatos do YouTube.
Finalmente,
é de notar que, dado o grande consumo de conteúdo no YouTube por parte das
audiências mais novas, a existência de YouTube Tv iria permitir que, à medida
que as audiências “envelhecem” e preferem conteúdo mais convencional (séries de
televisão), os utilizadores continuassem associados ao YouTube, permitindo-lhe
reforçar a sua posição junto da audiência.
Tudo
isto contribui para a redução do poder há muito detido por empresas
fornecedoras de televisão por cabo, mas também de empresas que oferecem pacotes
de telecomunicações, uma vez que o cliente pode apenas precisar de internet. E,
com aparecimento da YouTube Tv, que se apresenta como um concorrente de peso,
tanto para os tradicionais players no mercado como para os novos players
online.
Fontes:
- https://en.wikipedia.org/wiki/Cord-cutting
- http://www.businessinsider.com/cable-companies-lose-more-subscribers-as-cord-cutters-grow-2016-5
- https://arstechnica.com/information-technology/2016/08/every-major-cable-tv-company-lost-subscribers-last-quarter/
- http://www.computerworld.com/article/3176776/web-apps/how-youtube-tv-will-kill-cable.html
- https://www.youtube.com/watch?v=JpTXtADBxzc
- http://expresso.sapo.pt/sociedade/2017-03-05-O-YouTube-juntou-televisao-ao-streaming-e-chamou-lhe-TV
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