terça-feira, 30 de maio de 2017

Marvel vs DC


As duas empresas de banda desenhada, Marvel e DC, responsáveis pela criação de ícones da cultura pop como o Batman, o Homem-Aranha e o Super-Homem, têm conseguido elevados patamares de popularidade, embora em diferentes graus, demonstrando diferentes capacidades de adaptar os seus conteúdos e produtos aos seus consumidores, utilizando estratégias de comunicação integrada de marketing.

Durante muito tempo, filmes com base em banda desenhada foram considerados como filmes para um público mais infantil e juvenil, não obtendo grande aclamação por parte da crítica. Os primeiros filmes de super-heróis, datados da década de 40, tinham como público alvo crianças.

Após uma queda do interesse por este género cinematográfico, só se verificou um retomar do interesse em fantasia e ficção científica na década de 70, o que motivou o primeiro filme de super-heróis de grande orçamento, o “Superman” em 1978. Ao longo desta década e até ao final da década de 90, vários filmes de super-heróis foram sendo lançados, mas foram lançados como filmes individuais, sem qualquer relação.

Embora alguns filmes deste período se tenham tornados ícones do cinema, outros foram considerados demasiados juvenis e sem profundidade, como o filme “Batman & Robin”, protagonizado por George Clooney, em 1997

No entanto, durante esta época, os principais e mais bem sucedidos filmes de super-heróis eram baseados em personagens da DC.  Por seu lado, a Marvel encontrava-se em graves dificuldades financeiras, perdendo e devendo dinheiro (a sua maior dívida era à Disney), chegando a despedir um terço dos seus empregados e, em 1996, submeteu um pedido de bancarrota.

Esse pedido de bancarrota ajudou a empresa a livrar-se de diversas dívidas, mas obrigou a empresa a abandonar diversos planos de expansão do negócio que previa (como a criação de restaurantes), assim como a vender, para obter financiamento rápido, os direitos de diversas personagens, como o Spiderman, à Sony, e os X-Men à FOX.

Foi após o processo de bancarrota que a Marvel, e as suas personagens, começaram a dominar este género de cinema. Blade, lançado em 1998 pela Marvel, alcançou algum sucesso, assim como a saga Homens de Negro, em 1997. As suas personagens que agora estavam em mãos de estúdios alheios também conseguiram alcançar sucesso, como a Saga X-men que começou em 2000 e o grande sucesso da primeira saga de Spiderman, em 2002.

Ao mesmo tempo, com o início do novo milénio, a Marvel Comics começou a remodelar o seu negócio de banda desenhada, abandonando, em 2001, a “Comics Code Authority”, a entidade fundada em 1954 por empresas de banda desenhada para se auto-regularem, e criando o seu próprio sistema de rating de banda desenhada, o “Marvel Rating System”. Também criou um reboot das principais personagens, o que lhes permitiu rever e atualizar as suas personagens para as introduzir a uma nova geração. Em 2007 lançou o arquivo digital de mais de 2.500 edições, livres para consulta mediante pagamento mensal e anual.

Enquanto se renovava no setor de banda desenhada, planeava, em simultâneo, mudanças no mercado cinematográfico. Dado que a empresa recebia pouco dinheiro dos direitos de autor que licenciava, a Marvel começou a planear, em 2005, a produção independente de filmes, com distribuição pela Paramount Pictures. Isto levou à criação dos “Marvel Studios”, o primeiro grande estúdio independente em Hollywood desde a DreamWorks.

Na chamada “Phase One” do Universo Cinematográfico da Marvel, foram lançados dois grandes filmes – "Iron Man" e "The Incredible Hulk". No entanto, foi o "Iron Man" que se tornou um sucesso estrondoso para a Marvel, tendo custado 140 milhões e obtido quase 600 milhões em bilheteira., assim como sucesso com a crítica.

Foi no início desta phase que a Marvel também tomou duas decisões arriscadas que vieram a revelar acertadas. A nomeação de Kevin Feige, um aficionado da Marvel, para liderar e produzir o projecto do Universo Cinematográfico da Marvel, e o casting de Robert Downey Junior, com um passado mais conturbado, para o papel de Tony Stark (o que, dada a personalidade da personagem, era algo adequado), em vez de, como inicialmente planeado, escolher um ator desconhecido.

Este filme marcou o início de, literalmente, um universo de sucesso para a Marvel.

Em 2009, a empresa foi adquirida por 4 biliões de dólares pela Disney, o que concedeu à Marvel e aos seus produtos uma nova dimensão e capacidade de tirar partido dos recursos da nova dona.


A DC Comics, por seu lado, atrasou-se gravemente a entrar no mundo cinematográfico. Quando começou a produção do primeiro filme do seu universo, "Man of Steel" (um filme do SuperHomem), em 2013, quando a Marvel, até 2013 e, inclusive, lançou: Iron Man (2008), "The Incredible Hulk" (2008), "Iron Man 2" (2010), "Thor" (2011), "Captain America: The First Avenger" (2011) e o estrondoso sucesso que reúne os principais heróis da Marvel, "The Avengers" (2012) – que custou 220 milhões e rendeu 1.519 milhões. Já em 2013, em concorrência com o filme da DC, a Marvel lançou também o "Iron Man 3" e "Thor: The Dark World".

Ainda no universo da DC, o filme “Man of Steel” foi usado como suporte e possível benchmark para todo o potencial e futuro universo. Se o filme se revelasse bem sucedido, iria sustentar e servir de base à criação do “DC Cinematic Universe”, em rivalidade com “Marvel Cinematic Universe”. Apesar da recepção morna por parte da crítica, em comparação com o sucesso do primeiro Iron Man, o "Man of Steel" veio a revelar-se suficiente para servir de alicerce. Deste modo, o realizador e produtor do filme, Zach Snyder tomou o papel semelhante ao de Kevin Feige na Marvel mas na DC, liderando a produção do universo.

Enquanto a DC cambaleava na criação do seu universo, a Marvel aproveitava e tirava partido para expandir a sua influência na pop culture. Em paralelo com o desenvolvimento cinematográfico, foi trabalhando em parceria com outras produtoras para fornecer conteúdos televisivos e histórias adicionais aos seguidores deste universo.

Em 2013, foi lançada a série "Agents of S.H.I.E.L.D". através da ABC, que mais tarde viria também a produzir "Agent Carter" em 2015. Parceria semelhante viria a ser estabelecida com a Netflix para a criação de "Jessica Jones" e "Daredevil" em 2015, "Luke Cage" em 2016 e "Iron Fist" em 2017, assim como a série "Legion" através da FX.

Na vertente cinematográfica, a Marvel, continuava em grande, obtendo goodwill por parte dos consumidores para perder algum ocasional deslize. Essa goodwill foi sendo acumulada através de filmes como "Iron Man 3" (2013), "Thor: The Dark World" (2013), "Guardians of the Galaxy" (2014) e "Ant-Man" (2015).

Tanto "Ant-Man" como "Guardians of the Galaxy" apresentavam-se como potenciais riscos ou sucessos fracos da Marvel, mas vieram a revelar-se enormes sucessos junto dos seus fãs. A natureza descontraída e cómica de "Ant-Man" compensaram os constrangimentos da sua personagem e "Guardians of the Galaxy", ainda que uma obra de banda desenhada menos conhecida pelos fãs, conseguiu alcançar um sucesso estrondoso, custando cerca de 232 milhões de dólares e obtendo 773 milhões, tendo sido considerado tão irreverente como os próprios fãs da Marvel, assim como divertido, animado, cheio de emoção e esplendor visual.

A continuação do universo da DC, porém, pecou pela demora, e reapareceu com dois filmes em 2016 que se revelaram um fracasso estratégico. "Batman v Superman: Dawn of Justice" e "Suicide Squad".

Batman v Superman foi capaz de bater dois recordes muito positivos: ficou com o recorde de quarta maior receita de fim de semana de abertura a nível mundial, com 422,5 milhões de dólares e o terceiro maior fim de semana de abertura em cinemas IMAX, apenas atrás de "Star Wars: The Force Awakens" e "Jurassic World". No entanto, quebrou um outro recorde: a maior queda em receita de bilheteira do primeiro para o segundo fim semana. Tal queda deveu-se à desilusão sentida pelos fãs, que criticaram o tom sombrio e cinzento do filme, como demonstrada pelas inúmeros críticas negativas e más reviews deixadas por espetadores

"Suicide Squad" começou por se apresentar com bastante potencial. O trailer angariou muito atenção e entusiasmo (comummente chamada “hype”) por parte dos fãs. No entanto, após o lançamento de "Deadpool", com rating R, uma propriedade intelectual da Marvel, posse da FOX, que alcançou imenso sucesso, receios começaram a surgir com o anúncio de filmagens adicionais e reedições de partes do filme de "Suicide Squad". Ainda que o filme não se revelasse exatamente mau, muitos seguidores fiéis da banda desenhada ficaram desagradados com o resultado, assim como espetadores normais, observável pelas negativas reviews que o filme obteve, assim como a nomeação do mesmo para um Razzie, os Óscares dos piores filmes, ainda que a performance da atriz Margot Robbie tenha sido extremamente exaltada.

Por seu lado, no mesmo ano de 2016, e iniciando a “phase three” do “Marvel Cinematic Universe”, a Marvel lançou "Captain America: Civil War" e "Doctor Strange". A nova sequela de Captain America, custando 250 milhões, conseguiu 1.153 milhões de dólares e sendo aclamado pela crítica, para além de introduzir novas personagens – Black Panther e Spiderman (através de um acordo com a Sony).


Neste momento, a Marvel apresenta-se como sendo ainda a produtora dominante, angariando a boa vontade entre os fãs e uma maior notoriedade de marca. Por seu lado, a DC tem mostrado claras dificuldades em acompanhar e em conseguir determinar o universo que pretende criar para o seu público.

Porém, é de destacar que atualmente a DC se encontra com maior goodwill no que toca à banda desenhada propriamente dita, uma vez que a Marvel recentemente desenvolveu novas histórias para personagens icónicas que não obtiveram muito apoio dos fãs, nomeadamente, uma versão jovem e afro-americana do Tony Stark (Iron Man), com alter ego de Iron Heart, e uma versão de Capitão América pertencente à seita sua eterna inimiga Hydra.

O futuro ditará o destino destes dois universos cinematográficos. Este ano, a Marvel já lançou "Guardians of the Galaxy 2", que se apresentou como um novo sucesso, faltando-lhe ainda apresentar o novo filme produzido em parceria com a Sony, "Spiderman Homecoming", para além do seu próprio filme "Thor: Ragnarok".

Por seu lado, a DC vai apresentar o primeiro filme da "Wonder Woman", que está a gerar muito entusiasmo por parte dos fãs, uma vez que será o primeiro filme a solo de uma super heroína, para além de ser o primeiro grande filme de super heróis dirigido por uma mulher, coisas e feitos que a Marvel ainda não alcançou, apesar de apelos de parte dos seus fãs, assim como o primeiro filme da "Justice League", que pretende rivalizar com os "Avengers" da Marvel.

Podemos estar assim perante o nascimento de uma rivalidade ao nível de Coca-Cola vs Pepsi, McDonald's vs Burger King.

Deste modo, queria trazer a discussão este debate sobre qual os filmes que mais impacto terão. Pessoalmente, não me posso dizer fã dos filmes da DC, apenas tendo visto o "Suicide Squad", mas devo admitir que estou curioso, pela primeira vez, e graças ao entusiasmo gerado em torno de "Wonder Woman", por ver um filme da DC. Por outro lado, admito que sigo religiosamente os filmes da Marvel, estando incrível e inacreditavelmente entusiasmado por ver "Spiderman: Homecoming".

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