Carolina Afonso, Professora Universitária no ISEG e Diretora
de Marketing da Konica Minolta, aborda, num artigo escrito para o Imagens de Marca, o uso excessivo da palavra "DIGITAL"em eventos, cursos, programas, etc. A verdade é que, nos últimos anos, temos assistido à multiplicação de iniciativas baseadas no “digital” e nas “maravilhas deste mundo novo”, desvalorizando a temática e tornando-a num daqueles lugares comuns.
"A palavra "digital" neste momento já começa a ser SPAM. Não há evento, curso, livro, especialista, processo, negócio, etc, que não tenha esta palavra. O problema está na utilização que lhe é dada...sinto que estão todos a falar de tudo e de nada..."
Mesmo no âmbito dos eventos da Academia esta tendência é
notória, assistindo-se, muitas vezes, a oradores “repetirem
exemplos e até slides de outros oradores que ouviram noutras ocasiões falarem
sobre o mesmo”. Um dos mais repetidos exemplos é a apresentação da
ideia de a UBER é a maior empresa de transporte do mundo sem possuir viaturas e
de que o mesmo se passa com outras empresas (ex.: Airbnb, Whatsapp, Netflix,
etc) nas respetivas áreas de negócio – há uns meses assisti a uma conferência
em que, nas 6 sessões que ocorreram ao longo do dia com dezenas de oradores,
esta ideia foi repetida em 4 sessões e, por vezes, por mais do que um orador na
mesma sessão, criando-se um ambiente constrangedor para a plateia e para o
painel.
"Mas o que é afinal o digital de que todos falam? A estratégia que tenho assistido em eventos é usarem estatísticas de estudos que falam do digital e da transformação digital (muito deles duvidosos e outros apresentam dados desatualizados ou sem fontes) e repetirem exemplos e até slides de outros oradores que ouviram noutras ocasiões falarem sobre o mesmo."
Ao nível do marketing, assistimos muitas vezes à promoção do
digital como solução para todos os problemas e como única hipótese para
comunicar com os consumidores. Claramente, o digital nem sempre é a melhor
estratégia nem a única solução, até porque em Portugal “Menos de 20% de PMEs tem site e menos de 10% vende online.
60% das empresas portuguesas não tem presença online” (ainda que
não se deva confundir a questão digital com a online) e o desconhecimento acerca
do digital poderá prejudicar a estratégia de marketing e a empresa. O mesmo poderá passar-se com os canais "tradicionais", no entanto, a maioria das empresas portuguesas estará, em princípio, mais próxima de potenciar os seus resultados. Não obstante a falta de preparação para o digital e o uso (errado) excessivo da palavra, é urgente as empresas portuguesas apanharem este comboio antes que o percam de vez.
"Quem leva o tema do digital a sério sabe que o digital não é a fórmula para tudo. No que ao marketing diz respeito, o digital é um canal e tem que ser integrado na estratégia da empresa. Não tem que ser utilizado em todos os casos. Aliás um bom profissional de marketing deve ser agnóstico em relação aos canais. Os melhores canais, sejam os ditos tradicionais ou digitais são aqueles que trazem resultados para a empresa e há empresas com excelentes resultados que utilizam apenas canais tradicionais."
A procura incessante
de tornar tudo “atrativo e moderno” usando a palavra digital (e outras) valerá
a pena? Curiosamente é uma pessoa com uma ligação tão próxima ao digital que
nos diz que não e que é preciso parar e não banalizar a questão. Mas, então, porque está Portugal tão mal preparado?
Fontes
https://www.imagensdemarca.pt/artigo/ha-um-elefante-na-sala-e-chama-se-digital/
Economia Digital em Portugal 2009-2020' (ACEPI), INE