sábado, 20 de abril de 2019

Desafios das Empresas Portuguesas na Economia Digital


A Economia Digital tem já um papel muito importante nos principais mercados de destino das exportações portuguesas e apresenta-se já como uma tendência incontornável a nível mundial.
Neste seguimento, as empresas portuguesas precisam de despertar, por forma a “apanhar o comboio” da digitalização da economia e tirar proveito das muitas oportunidades que a Economia Digital e, em particular, o Comércio Eletrónico lhes proporcionam. Nos dias de hoje, o preço de não o fazer pode ser muito caro e pode colocar em causa a sua própria sustentabilidade.
Assim, as empresas precisam de vencer um conjunto de desafios, quer de contexto (que lhes são externos), quer a nível interno ao seu próprio ambiente.

Desafios externos
As empresas portuguesas que pretendam apostar no Comércio Eletrónico deparam-se com desafios significativos a nível externos, nomeadamente:
  • Financiamento – A aposta em mercados externos, via Comércio Eletrónico, envolve investimentos significativos a vários níveis: tecnologia, marketing, logística, para além da produção tradicional dos produtos. Definir um plano de negócios com atratividade para alcançar financiamento (quer dos próprios acionistas, quer de entidades públicas como o Portugal 2020 ou Horizon 2020, quer ainda de investidores privados), constitui um dos maiores desafios para empresas que queiram uma posição forte na Economia Digital.

No último concurso ao Sistema de Incentivos à Internacionalização das PME de 2018, (aviso 27SI2018) eram alvo de uma majoração de 10% no mérito final do projeto as empresas que demonstrassem investimentos em desenvolvimento de plataformas e-commerce e investimentos assentes na transformação digital dos seus processos internos.



Após a análise das candidaturas, tendo como ponto de referência a região Norte, cerca de 152 empresas nortenhas candidataram-se a este apoio do P2020, tendo apenas 90 delas visto o seu projeto aprovado, com um referencial de mérito a situar-se no 4,42 (numa escala de 1 a 5). Dado o panorama desabitual de 40% das candidaturas apresentarem um parecer desfavorável e um referencial de mérito acima dos 4, faz acreditar que as empresas que apresentaram uma estratégia digital bem definida, com previsões de exportações assentes no comércio electrónico absorveram grande parte dos fundos, dado o objetivo de direcionar as PMEs portuguesas para a digitalização, deixando todas as outras empresas que não definiram uma estratégia digital para os próximos dois anos sem qualquer apoio no âmbito da tipologia de incentivo à Internacionalização.
  • Dimensão do mercado O mercado nacional tem uma dimensão muito diminuta, pelo que as empresas que pretendam uma posição sólida na Economia Digital têm de apostar em mercados externos. Só assim poderão ganhar competitividade face a outras empresas que rapidamente invadem o mercado nacional;
  • Notoriedade A notoriedade da marca constitui um aspeto fundamental para uma empresa se posicionar no Comércio Eletrónico. Os consumidores dirigem-se e compram em sites de marcas que conhecem e nas quais confiam. Trata-se de um enorme desafio para empresas portuguesas que se queiram posicionar na Economia Digital e nos mercados externos;
  • Confiança, segurança e legislação A confiança dos consumidores, além de se focar na marca, depende de diversos fatores externos como sejam a segurança da internet, dos sistemas de pagamento, dos serviços de entrega, da regulamentação/legislação, entre outros aspetos;
  • Concorrência A Economia Digital está sujeita a um enorme nível de concorrência, em diversos setores de atividade, nomeadamente com existência de empresas com atuação global em vários dos mercados privilegiados para as exportações portuguesas;
  • Contexto de cada mercado e parceiros locais Apesar da possibilidade de atuar em vários mercados em simultâneo, o Comércio Eletrónico não pode ignorar as especificidades de cada mercado, sendo necessário conjugar uma atuação personalizada, na qual o recurso a parceiros locais pode ter um papel decisivo.
Desafios internos
Para que as empresas ambicionem alcançar um posicionamento na Economia Digital, com visibilidade e alguma dimensão em vários mercados, precisam, antes de mais, de gerir alguns desafios internos, nomeadamente os associados ao estabelecimento de uma visão e à adoção de tecnologias, passando por vertentes fundamentais como as pessoas e os processos.
As empresas portuguesas que pretendam apostar no Comércio Eletrónico, precisam antes de mais de ter uma visão clara, o que envolve aspetos como a definição de uma estratégia, devidamente alicerçada na situação e capacidades da empresa, assim como na situação do mercado, constitui a base para abraçar a Economia Digital. Para além disso, as empresas da Economia Digital devem possuir uma equipa à altura dos desafios e definir e operacionalizar (novos) processos ajustados às exigências da Economia Digital, constituem também desafios fundamentais para as empresas, envolvendo, nomeadamente:
  • Marketing e gestão da imagem - A aposta na Economia Digital deve ser acompanhada por processos e atividades referentes a marketing e à gestão da imagem e da marca;
  • Gestão do serviço e dos clientes - Os processos de gestão de serviço e de clientes são particularmente relevantes num contexto de Comércio Eletrónico, devendo proporcionar ao cliente uma boa experiência de compra e entrega do produto/serviço.
  • Ensaio de produtos e serviços e respetivo ajuste face à procura - No contexto de Comércio Eletrónico, as empresas devem implementar processos que permitam, de forma continuada, ensaiar e monitorizar produtos e serviços no mercado e proceder a ajustamentos face à aceitação que estes venham a ter pelo público alvo;
  • Gestão dos sistemas de informação - Os sistemas de informação devem estar no centro da estratégia da empresa, adotando as melhores práticas ao nível da segurança, da escalabilidade e da robustez, mas sobretudo oferecendo a agilidade que o negócio necessita e a atratividade e facilidade para os clientes;
  • Produção - A abordagem, assim como os processos de produção, têm de ser concebidos por forma a responder com a agilidade, competitividade e escala que o Comércio Eletrónico pode exigir;
  • Armazenamento e distribuição - Os modelos e processos de armazenamento e distribuição dos produtos têm de ser concebidos por forma a responder à estratégia de negócio, garantido a agilidade, a competitividade, escala e o acesso aos mercados alvo.

A tecnologia e os sistemas de informação são os pilares que viabilizam e suportam a Economia Digital, sendo, a este nível, importante ter em conta o seguinte:
  • Segurança e Pagamentos - Os sistemas e meios de pagamento são críticos para o sucesso do Comércio Eletrónico, envolvendo grande exigência tecnológica e de serviços, com eventual necessidade de personalização para determinados mercados;
  • Arquitetura - A arquitetura dos sistemas de informação é um dos aspetos críticos para o sucesso de uma abordagem na Economia Digital. Opções a ter em conta passam por recurso a cloud, utilização de tecnologia móvel, adoção de interfaces (webservices), plataformas configuráveis, etc.;
  • Integração - Uma abordagem de Comércio Eletrónico envolve a participação num ecossistema composto por várias entidades, desde fornecedores, investidores, distribuidores, clientes, etc. A articulação e relação entre todas estas entidades e processos é suportada em sistemas de informação, nos quais a integração é crucial. Em particular, a integração com fornecedores e distribuidores constitui um aspeto fundamental;
  • Analytics e Business Intelligence - A gestão do negócio na Economia Digital envolve uma análise do comportamento do mercado clientes e a identificação de modas ou tendências que podem condicionar, por exemplo, a adaptação ou lançamento de novos produtos ou serviços. Para tal, é imperativo o recurso a sistemas de Analytics e Business Intelligence.

Por forma a ajudar a elucidação das empresas para a problemática da Economia Digital, a AICEP promove, o programa Exportar Online que visa contribuir para uma internacionalização digital de sucesso das empresas portuguesas, através da sensibilização, capacitação e consultoria às empresas, bem como do apoio na implementação do plano de internacionalização digital e da sistematização das fontes de incentivos.


Objetivos do programa:
  • Aumentar exportações e a diversificação de mercados das empresas portuguesas;
  • Aumentar o número de empresas que utilizam o comércio eletrónico como ferramenta de internacionalização;
  • Aumentar o conhecimento das empresas sobre o comércio eletrónico;
  • Aumentar visibilidade da oferta portuguesa nos canais online.

Destinatários do programa: Preferencialmente PME exportadoras empenhadas no desenho e implementação da sua estratégia de internacionalização digital.

Para apoiar as empresas na internacionalização online, a AICEP disponibiliza diversos serviços, tais como:



A Academia Internacionalizar AICEP constitui uma aproximação real da Universidade ao meio empresarial, promovendo a realização de Programas de Formação Avançada (E-commerce Advance) que dotam as empresas de ferramentas teóricas e práticas para o desenvolvimento de uma internacionalização de sucesso, reforçando a sua competência para a abordagem a novos mercados.



O E-commerce Advance resulta de uma parceria entre a AICEP Portugal Global e a UMINHOEXEC – Executive Business Education, e destina-se fundamentalmente a empresas que pretendam melhorar a sua estratégia comercial nos mercados digitais, com vista a elevar as suas vendas e internacionalizar a sua base de clientes.


O programa, com uma forte componente de hands on learning, destina-se ao desenvolvimento de um projeto de internacionalização digital da empresa e inclui seminários, workshops de projeto, apresentação de casos, espaços de networking e de partilha de experiências.


“Menos de 20% de PMEs tem site e menos de 10% vende on-line
60% das empresas portuguesas não tem presença online”





Será que, com estes incentivos e apoios disponibilizados, as empresas portuguesas conseguirão alcançar uma melhor performance no que concerne à sua presença digital?

1 comentário:

  1. Parabéns pelo artigo!
    De facto, como a Ana acaba por concluir, a composição do tecido empresarial português acaba por explicar de certa forma a fraca presença das empresas portuguesas no mundo digital. Isto faz-me lembrar a área em que trabalho: a indústria têxtil. A indústria têxtil portuguesa tem, como sabemos, particular expressão na região do Vale do Ave.
    Por toda a região, além de empresas de tamanho médio, multiplicam-se empresas de tamanho pequeno e micro, cujo sustento é trabalhar para as empresas de maior porte da região (aquilo a que chamamos, quase como calão, de trabalhar "a feitio"). Existem centenas de empresas com este perfil, em que não há verdadeiramente uma estratégia de crescimento - o que, sabemos, é muito problemático para essas empresas quando os grandes grupos empresariais estrangeiros desviam as suas produções para mercados como a Turquia ou a China.
    Para essas empresas, qual será o incentivo para estarem presentes no mundo digital, tendo em conta o seu perfil? O incentivo será, objetivamente, muitíssimo diminuto.

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