quarta-feira, 31 de maio de 2023

Barbie: "A coisa mais Bonita que você pode ser é você mesmo"

A boneca Barbie, fenómeno cultural da modernidade, descreve um vigoroso exemplo ao nível da apropriação cultural por parte dos fenómenos da modernidade, com particular relevo na globalização, industrialização e capitalismo, estando “imersa numa pedagogia cultural, com o intuito de ensinar a supremacia de um tipo de corpo, etnia e comportamento” (Cechin et Silva, 2012). A globalização permitiu uma fusão do espaço tempo, aumentando as vias comunicativas e a circulação das pessoas e da comunicação, permitindo novas evoluções do fenómeno capitalista desde a introdução do modelo fordista e da reprodução em série.  Atualmente, devido à revolução digital, a informação ultrapassa barreiras espácio-temporais, pelo que o imeadiatismo é um critério valorizado pelos consumidores. A nova geração de consumidores, a Gen Z, apresenta, ainda, uma forte ligação com a personalização e a mensagem mais individualista, motivo pelo qual a Barbie, na sua evolução, tem garantido um sucesso contínuo para com o seu público alvo, ainda que inicialmente apresentasse um produto que representava um modelo irrealista de perfeição.

A produção da boneca Barbie pela Mattel visou reproduzir num modelo cultural e educativo, que marca o indivíduo desde a infância e através do qual ele procura a sua identidade, descobrindo na representação um sentido próprio da vida e estabilidade na sua existência social, partindo do modelo universalizado do corpo ideal, onde desenhou o modelo da perfeição. “O brinquedo participa da construção da infância por meio de complexos significados e práticas produzidas não apenas por seus criadores e difusores, mas por aqueles que o utilizam. É possível entender o lugar da criança na sociedade através dos usos e significados atribuídos aos brinquedo” (Cechin et Silva, 2012) Este pressuposto enaltece o preconceito e a exclusão social evidenciadas face a características individuais, que resultam na sobrevalorização de um modelo típico potencializador da desigualdade de género. “As narrativas da boneca alimentavam o sonho de um estilo de vida projetado para o consumo, ensinando às meninas que o sucesso está no corpo magro e branco (…) evocam o consumo infantil pela imitação de suas atitudes e de seus trajes”. (Roveri & Soares, 2011, p.160) Este conceito difundiu-se seja pelo brinquedo, pelos filmes desenvolvidos a partir do mesmo, onde se perpetuava um irrealista ideal de beleza, que cada vez mais, era procurado pelas crianças, gerando sentimentos de ansiedade e falta de propósito, pela impossibilidade de atingir o epítome da perfeição desenvolvido pela empresa. A marca percecionou, desde cedo, a inata vontade do ser humano em sentir pertença e objetivar a perfeição, traços muito marcantes do consumo da Gen Z,  apropriando-se de meios culturais e educativos para lucrar em função da alienação social e da convocatória de sentimentos do meio cultural. “Ser conhecida, colecionada, admirada e elevada ao nível de personalidade imortal: a sociedade mercadológica tem injetado na boneca todo oxigênio de que ela precisa para continuar nova e viva no imaginário infantil. Completando meio século de aparição ao público, Barbie, ao contrário de muitos brinquedos, nunca foi esquecida e tampouco envelheceu nas prateleiras das lojas” (Roveri & Soares, 2011, p.148)

Ainda  que nos anos 70 do Séc.XX a reprodução em massa marcasse os mercados, com referência direta à cultura de massas, que procurava compreender os comportamentos e ideais dominantes, apropriando-se dos mesmos para a produção massiva de objetos, produtos culturais, que pudessem ser aliciantes ao coletivo, por representarem superficialmente os seus interesses, a Barbie gerou um movimento que procura, cada vez mais, a diversidade, enquadrando-se com um público diverso, onde importa a inclusão.  Como o indivíduo desenvolve atividades como a visualização de filmes e a leitura de livros para, por via da cultura, viver uma vida que não a sua, experienciadas vivências que não são possíveis no mundo vivida, a sua própria sobrevivência dependeu desta sua adaptabilidade. Assiste-se, neste momento, a uma produção à medida, que se serve também do impacto da imagem na atualidade, por via das novas tecnologias, e vem substituir a produção em massa, mas que volta a cair no conceito da cultura de massas, no sentido em que procura responder a uma cultura do consumo¸ ao desejo do coletivo em encontrar no meio artístico uma representação do seu Self identitário, perpetuada pelos Media e através do qual encontrará um sentimento de pertença e se distanciará do isolamento e exclusão social experienciado noutros setores da sua vida. Atualmente a boneca não representa um modelo corporal único, possuindo várias formas e cores e, ainda, versões com mobilidade reduzida, aparelhos auditivos e representações de doenças particulares como vitiligo. A representação assume, assim, o papel central dos desenvolvimentos do produto.


Se, no início da carreira, Barbie fora modelada com o perfil de pessoas e atrizes reais, o ideal de beleza materializou-se em boneca: embalada e mostrada nas lojas, seu suporte de sustentação é a mão da menina, que com ela brinca e sonha ser estrela. A boneca foi transformada num espelho no qual são revelados os vícios de quem a contempla e, ao mesmo tempo, estampadas as virtudes a serem conquistadas pela mulher. Barbie foi feita para ser o espelho inquebrável que reflete a “melhor” decoração possível para corpos humanos, tidos como frágeis e vulgares, os corpos femininos. A personificação de Barbie e sua transformação em um ícone de mulher sugere que as pessoas reais são feitas de carne de má qualidade, por isso carentes de melhorias” (Roveri & Soare, 2011)




Também nas redes sociais a marca procura criar esta ligação com o consumidor, seja por via da alusão a marcos da atualidade, como o recente falecimento da artista Tina Turner, seja pela promoção da inclusividade, perpetuando a ligação do consumidor com a mesma através de características como “ícone, intemporal e representatividade”.

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