sábado, 24 de maio de 2025

O crescimento do partido CHEGA nas redes sociais

Nas eleições legislativas de 2025, as redes sociais assumiram um papel crucial na política portuguesa. Já não se trata apenas de ferramentas complementares de comunicação, tornaram-se o meio de comunicação preferencial onde se formam narrativas e se conquistam votos. O caso mais evidente desta transformação é o crescimento do partido CHEGA, que soube ler melhor do que qualquer outro a lógica dos algoritmos e do comportamento digital.

Ao contrário dos partidos tradicionais, que ainda investem maioritariamente numa comunicação institucional e formal, o CHEGA apostou numa abordagem radicalmente distinta: conteúdos curtos, diretos, altamente emocionais e pensados para gerar reações rápidas. Esta estratégia foi aplicada de forma sistemática em plataformas como o Facebook, TikTok, Instagram e YouTube, onde o partido publicou com frequência excertos de intervenções de André Ventura, declarações polémicas, denúncias simbólicas e slogans nacionalistas, em vídeos com edição apelativa, legendas e músicas impactantes.

Segundo dados da SIC Notícias, André Ventura acumulou mais de 9 milhões de visualizações no Facebook durante o período eleitoral. Esta presença digital traduziu-se em mais de 2,1 milhões de interações nas redes sociais, colocando o CHEGA à frente de qualquer outro partido em termos de impacto online. De acordo com o Expresso, a direita gerou três vezes mais interações do que a esquerda, o que demonstra uma clara vantagem estratégica no digital.

Esse tipo de comunicação não se limita apenas a informar, o seu verdadeiro objetivo é provocar sentimentos de revolta, frustração, identificação ou até indignação. Para além disso, o partido soube também usar a publicidade digital, com orçamentos mais baixos, direcionou campanhas para públicos específicos.

É certo que esta estratégia levanta questões sérias sobre desinformação, radicalização e superficialidade do discurso político. Mas do ponto de vista estritamente estratégico, a execução foi eficaz. A partir de agora, ignorar o poder das redes sociais é um erro que nenhum partido pode dar-se ao luxo de cometer. 


Fontes:

https://sicnoticias.pt/especiais/eleicoes-legislativas/2025-05-11-video-dos-cliques-aos-votos-como-os-partidos-fazem-campanha-nas-redes-sociais-617f6972

https://expresso.pt/politica/2025-05-14-legislativas-2025-em-numeros-direita-vale-tres-vezes-mais-que-a-esquerda-nas-redes-sociais-47a6f903

https://executivedigest.sapo.pt/noticias/legislativas-ventura-domina-visualizacoes-nas-redes-sociais-com-nove-milhoes-no-facebook/

https://www.bbc.com/portuguese/articles/cp3q49nzpj0o

2 comentários:

  1. Olá Francisca, muito bom post! Sem dúvida é um tema muito pertinente e que precisa de ser analisado. O caso que mencionaste é um exemplo claro de como o Webmarketing está a modificar e redefinir o cenário político atual. Efetivamente, ao analisarmos as redes sociais dos diferentes partidos, podemos perceber que o CHEGA foi o partido que (infelizmente) percebeu melhor como utilizar as redes sociais, e que, no fim do dia, não cresce quem informa melhor, mas quem comunica com mais impacto. Ao utilizar formatos curtos, linguagem simples e direta e conteúdo que gera muitas, mas muitas partilhas, o partido usou uma estratégia de Webmarketing e promoção dos seus ideais de forma que mais nenhum partido português foi capaz. Assim, acredito que estas últimas eleições deveriam de criar algumas reflexões dentro dos demais partidos, mas mencionando as que nos aqui interessam: o marketing, a promoção política, os meios de comunicar com os cidadãos mudaram, e quem procura negar a evolução que temos vindo a nos deparar nos últimos anos, perde cadeiras dentro do parlamento para quem aproveita estas ferramentas de Marketing.

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    1. Obrigada pelo comentário, Ana.
      Concordo contigo: já não basta “informar bem” se a mensagem não tiver alcance, timing e impacto. O CHEGA percebeu isso antes dos outros e jogou o jogo digital com regras novas. A forma como exploraram os formatos curtos, o storytelling emocional e a repetição estratégica mostrou que quem domina a atenção, domina a narrativa. Isto devia ser um wake-up call para os outros partidos, especialmente no que toca à forma como comunicam. O marketing político evoluiu, e quem ficar preso a modelos antigos vai continuar a perder terreno … e votos.

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