domingo, 5 de maio de 2019

Responsabilidade Social Corporativa (CSR) nas Redes Sociais

A Responsabilidade Social Corporativa (CSR) pode ser definida como um modelo de negócio que visa demonstrar a preocupação das Organizações com o desenvolvimento sustentável da Sociedade, participando ativamente na promoção do bem-estar social, da proteção ambiental ou do desenvolvimento económico. Práticas de CSR incluem, por exemplo, esforços de preservação ambiental, filantropia, práticas de trabalho eticamente aceitáveis e voluntariado. É certo, contudo, que a adoção destas práticas aporta, frequentemente, custos avultados, o que pode constituir parte da explicação da ainda parca adoção deste tipo de medidas em Portugal. Além do dispêndio de meios financeiros, não é ainda despiciente a consideração dos lucros que deixam de se obter, por se respeitarem medidas como a limitação das emissões de gases poluentes para a atmosfera.


A importância crítica das ações de CSR são demonstradas, por exemplo, num estudo da Cone Communications, do ano de 2016, que concluiu que:

- mais de 60% dos americanos esperam que as empresas promovam a mudança social e ambiental em caso de ausência de regulação governamental;
- 90% dos consumidores compram um produto porque a empresa vendedora apoia uma causa em que se reveem;
-75% dos consumidores recusa-se a comprar produtos de empresas cujas ações sejam contrárias a valores positivos.

Como meios de rápida propagação de opiniões (apreciativas ou depreciativas), as redes sociais são, nos dias que correm, um meio óbvio para a promoção e realização de atividades de CSR. De resto, todos os utilizadores mais ou menos frequentes das redes sociais são constantemente inundados por publicações de diversas organizações, que comunicam as suas ações de CSR. Esta é uma ação fundamental, na opinião da gestora Laura Hall, Managing Partner da PainePR – mais do que uma manobra de publicidade, comunicar eficazmente ações de CSR constitui uma ação essencial para a melhoria da imagem das Organizações. Outra das ações que a gestora considera fundamental é a comunicação do compromisso perante a Responsabilidade Social, através da definição de objetivos de longo prazo. Devo confessar que, assim que li esta afirmação, me ocorreu o caso de uma Organização que aprecio particularmente: a Philip Morris International, detentora de diversas Marcas de produtos de tabaco cujo objetivo – tantas vezes e tão bem comunicado – é o de eliminar os produtos combustíveis, substituindo-os por produtos aquecidos que, apesar da polémica instalada nos últimos meses, serão menos nocivos para a saúde humana. A foto abaixo foi retirada da página do Facebook, subsidiária do grupo em Portugal.


Outra das ações de CSR que captaram a minha atenção é a ação Give them wings, lançada pela Expedia, uma das maiores companhias online de viagens. O objetivo era patrocinar uma viagem de 3 dias a Mumbai a 100 crianças trabalhadoras, que eram protegidas pela ONG Butterflies, através de uma app no Facebook criada para o efeito. Por cada like, a Expedia doava 10 RS (rúpia, a moeda indiana), assim como doava mais 10 RS a cada 10 partilhas. Para além destas duas modalidades, doava 100 RS para o fundo da viagem das crianças por cada viagem marcada entre 25 de Dezembro de 2011 e 25 de Janeiro de 2012.
A app mostrava o número de gostos e partilhas até ao momento, na sua “Wings Count”, assim como o total do “Travel Fund”. Segundo o responsável da Expedia India: “While initiatives created for the underserved communities do cater to their long term needs; however, we feel the solution also resides in designing programmes that offer short term but lasting impact, especially for children. Give them wings' project is our humble endeavor for street and working kids to help them live the childhood they have missed out on by providing them a few days of fun and enjoyment by leveraging what we offer the best 'a travel experience to cherish. Moreover, as a part of the society we live and work in, we recognize the importance of contributing actively towards its welfare and are proud to have rolled out the initiative".


É um facto que esta iniciativa providenciou a estas crianças uma experiência à que não teriam acesso em condições normais. Porém, a escolha do Facebook e do sistema de likes e partilhas não é inocente, tendo permitido um grande buzz em torno da Marca nas Redes Sociais, assim como o necessário aumento da notoriedade.
Este último ponto servirá de mote para a pergunta que deixo a todos os leitores: terão todas estas ações de CSR nas Redes Socias uma vertente de Relações Públicas? Até que ponto consideram eticamente correto que se aproveitem estas ações para promover uma Marca? Ou tratar-se-á, tão-só, de juntar “o útil ao agradável”?

Fontes:
http://lighthouseinsights.in/give-them-wings-expedia-facebook-campaign.html/
https://www.adgully.com/expedia-launches-give-them-wings-a-csr-programme-for-street-and-working-children-48967.html
https://socialmediaweek.org/blog/2015/12/corporate-social-responsibility-social-media-efforts/
https://www.greenbiz.com/news/2010/03/15/pg-launches-us-campaign-highlight-future-friendly-products
https://www.investopedia.com/terms/c/corp-social-responsibility.asp
https://www.businessnewsdaily.com/4679-corporate-social-responsibility.html

2 comentários:

  1. Desde já quero-te felicitar por este excelente artigo. Como tu referes no artigo cada vez mais o consumidor preocupa-se mais com as questoes ambientais,práticas de trabalho eticamente aceitáveis e voluntariado. E na minha opinião as empresas e marcas aproveitam-se cada vez mais disso para fazer muitas campanhas de CSR nas redes sociais. E por um lado é negativo porque essas campanhas muitas vezes são feitas por puro interesse, mas também temos o lado positivo,porque muitas dessas campanhas resultam e são muito importantes para o mundo me que vivemos.

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  2. Sobre esta questão da CSR, eu diria que é um pouco juntar o útil ao agradável, e demonstra sobretudo uma perceção de que os consumidores são hoje muito mais interessados nas causas sociais.
    Mas julgo que a questão de Relações Públicas é extremamente bem levantada… julgo que é uma parte muito importante!
    Para além de que há marcas que, como diz o ditado, “dão uma no cravo e outra na ferradura”: marcas como a Nike que, apesar de se demonstrarem socialmente responsáveis ao lançarem linhas de roupa “eco-friendly” continuam a enfrentar contestação por usarem trabalho infantil, explorarem trabalhadores, dar-lhes más condições de trabalho… (https://qz.com/1042298/nike-is-facing-a-new-wave-of-anti-sweatshop-protests/)

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