quarta-feira, 31 de maio de 2023

Quem não gosta de ganhar algo gratuito?

Pense em empresas como a Google e Facebook, que ganham biliões sem cobrar um cêntimo aos utilizadores diretos dos seus serviços.

Em 2007, o conhecido jornal The New York Times ofereceu 92 anos dos seus arquivos e acesso gratuito à sua plataforma online. Antes de disponibilizar o serviço, em 1996, já havia iniciado a publicação das suas notícias na internet. Em 2008, o jornal britânico The Times disponibilizou também gratuitamente 200 anos dos seus arquivos na internet. Estas empresas, juntamente com muitas outras do jornalismo impresso, perceberam que os leitores estavam a abandonar os jornais tradicionais e a procurar obter informações diretamente online. A iniciativa, na realidade, tinha o objetivo de trazer de volta os leitores que haviam sido perdidos ao dar-lhes uma prova gratuita do que poderiam obter e assim reconquistá-los. A estratégia funcionou muito bem e continua a funcionar. Desde a primeira iniciativa até aos dias de hoje, o acesso às informações online cresceu e fala-se pouco dos jornais impressos. Esses são dois exemplos da estratégica de marketing denominada Freeconomics [1,7].

Como funciona esta nova estratégia, totalmente integrada ao mundo online?

De acordo Chris Anderson, em seu livro “Freeconomics – O futuro é grátis”, esta estratégia está relacionada à oferta de produtos e serviços gratuitos para os seus utilizadores diretos mas que, ao mesmo tempo, gera biliões de euros para os seus promotores. É conhecida como a economia dos bits. O autor explora quatro modelos de negócio: Subsidiação Cruzada, Mercado Tripartido, Freemium e Mercados não monetários. Neste post, será abordado apenas o modelo Freemium [2].

O Freemium combina o gratuito (free) com premium. O modelo, ao oferecer aos clientes a possibilidade de utilizarem um serviço ou produto gratuitamente, busca seduzi-los a adquirir uma versão mais completa e muitas vezes sem os inconvenientes da versão gratuita. Esse modelo funciona muito bem no mundo online, o que permite que um grande número de utilizadores tenha acesso a um determinado produto ou serviço. Empresas como Spotify, Google, Microsoft, Zoom, Facebook e o Dropbox utilizam o modelo Freemium nos seus negócios. Essas empresas conseguem obter grandes lucros, mesmo ao oferecer os serviços gratuitos a muitos dos seus utilizadores, em razão da expansão da sua base de pagantes e/ou de anunciantes. Abaixo estão listadas algumas das empresas cujo sucesso com este modelo merecem ser destacadas.

Spotify: líder em streaming de música, é conhecido por oferecer um serviço gratuito com amplo acesso a milhões de músicas acompanhadas com alguns anúncios. Com isso, o Spotify atraiu uma enorme base de utilizadores que, em consequência, ampliou substancialmente suas receitas de anúncios e de assinaturas premium, que são pagas. A atratividade para opção premium se dá pela eliminação dos anúncios, melhor qualidade do som e a possibilidade de ouvir música offline;

Dropbox: é um serviço de armazenamento e partilha de dados na nuvem, considerado um dos maiores sucessos do modelo Freemium. Ao oferecer uma capacidade limitada de armazenamento gratuitamente, a empresa fez com que milhões de utilizadores pudessem experimentar a conveniência do armazenamento em nuvem. Logo os utilizadores acostumaram-se a essa conveniência e passaram a necessitar de mais capacidade de armazenamento, o que fez a transição do serviço gratuito para o serviço premium pago se desse de forma bastante natural. Hoje, seus utilizadores ultrapassam os 400 milhões no mundo inteiro;

Zoom Vídeo Communications: a plataforma, com serviços de videoconferência com opções gratuitas e pagas, alcançou considerável sucesso ao adotar o modelo Freemium. Durante o período da pandemia de Covid-19, a utilização da plataforma aumentou significativamente. O modelo gratuito fornece serviços de videoconferência para até 100 participantes e tem limite de tempo de 40 minutos. Esse plano gratuito tornou a marca bastante conhecida e foi instrumental para a ampliação do número de utilizadores da sua opção premium, que é paga e sem as restrições da versão free [3,5,6,8,9].

Estas empresas beneficiam-se ao criar uma base de clientes que interagem constantemente com elas e tornam-se mais envolvidos. As principais vantagens deste modelo são:
  • Base de potenciais clientes: há uma interação com a marca, e os clientes podem perceber a necessidade de adquirir serviços mais completos e ter a perceção do valor dos mesmos;
  • Redução dos custos de aquisição de clientes: os custos de investimento em marketing diminuem, uma vez que o utilizador tem contacto contínuo com a marca;
  • Aumento do reconhecimento e do valor da marca: com a experiência e a utilização do serviço, os utilizadores podem fazer recomendações a outros e contribuir para o aumento de valor da marca;
  • Recebimento de feedbacks: a utilização contínua proporcionará feedback por parte dos utilizadores, permitindo à empresa aprimorar e criar novos serviços [4].
No século passado, o “grátis” já era um poderoso método de marketing. No século XXI, tornou-se um novo modelo económico. A nova forma de gratuidade baseia-se na economia digital, onde os produtos e serviços podem ser mais acessíveis e as coisas tornam-se mais baratas. No século XX, predominava a economia dos bens materiais, já no século XXI, a economia dos bits é predominante [2].

Algum dos leitores utiliza o modelo Freemium? Alguém já fez upgrade para a versão premium após o uso da versão free? Valeu a pena? Que outros serviços vocês acham que poderiam beneficiar-se desse modelo económico?



Referências Bibliográficas

[1] Albuquerque, C. (2008). Depois da revista "Der Spiegel" e do jornal "The New York Times", o "The Times" britânico disponibilizou 200 anos de arquivo na internet. Em vez da assinatura online, periódicos apostam agora na publicidade na internet. Retrieved 29 de maio de 2023 from https://www.dw.com/pt-br/peri%C3%B3dicos-disponibilizam-gratuitamente-arquivos-na-web/a-3455121
[2] Anderson, C. (2009). Free: The Future of a Radical Price. Hyperion Books.
[3] Reis, T. (2019). Freemium: entenda como esse modelo de negócios funciona. Retrieved 28 de maio de 2023 from https://www.suno.com.br/artigos/freemium/
[4] Rico, L. (2018). Freemium: entenda o que é e por que é o futuro dos preços. Retrieved 29 de maio de 2023 from https://www.conversion.com.br/blog/freemium/
[5] Souza, I. d. (2022). Como modelos freemium ganham escala. Retrieved 28 de maio de 2023 from https://rockcontent.com/br/blog/modelos-freemium/
[6] Wikipedia. (2023a). Dropbox. Retrieved 28 de maio de 2023 from https://pt.wikipedia.org/wiki/Dropbox
[7] Wikipedia. (2023b). The New York Times. Retrieved 29 de maio de 2023 from https://pt.wikipedia.org/wiki/The_New_York_Times
[8] Wikipedia. (2023c). Spotify. Retrieved 29 de maio de 2023 from https://pt.wikipedia.org/wiki/Spotify
[9] Zoom.us, M. d. n. d. (2020). Modelo de negócio da Zoom.us. Retrieved 28 de maio de 2023 from https://analistamodelosdenegocios.com.br/modelo-de-negocio-da-zoom-us/

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