quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

O Rebranding Inclusivo e a Identidade da Marca – Caso Victoria’s Secret

As sociedades são cada vez mais multiétnicas, multiculturais e multirreligiosas. António Guterres, Secretário-Geral das Nações Unidas, afirma que uma estratégia de diversidade e inclusão poderá ter uma crescente importância dentro das organizações. Este contexto é positivo, transformando a diversidade numa força organizacional.

Depois de alguma pesquisa consigo dizer que a implementação de uma estratégia que visa a diversidade e inclusão é reconhecida como um catalisador do crescimento empresarial, gerando resultados positivos nos fatores produtivos e financeiros.

A Victoria’s Secret, também conhecida por VS, marca de lingerie e produtos de beleza fundada em 1977, atua no mercado da moda como uma das melhores do mundo e uma das mais acarinhadas na passarela há mais de 20 anos.

É de esperar que uma marca que trabalha com mulheres e para as mulheres, se reinvente e se adapte às mudanças da sociedade. Mas será que a VS fez isso a tempo e bem?

Na mais forte e melhor estratégia de marketing que a VS alguma vez teve estavam as aclamadas e famosas Angels, grupo de supermodelos que desfilaram durante anos a fio na passarela de um desfile de moda, o VS Fashion Show, muitas vezes dito a Super Bowl da lingerie. Entre elas, a portuguesa Sara Sampaio.


A empresa falha ao se adaptar às tendências e mudanças sociais. Em 2018, enfrentam críticas do movimento #MeToo, dado a falta de diversidade corporal, tons de pele e pela hipersexualização de modelos. Isto resultou em 41% de queda nas ações e em 30 lojas fechadas. Em 2019, com o criador das Angels demitido, a empresa é levada a adotar uma abordagem mais inclusiva.

Assim, as Angels foram abandonadas silenciosamente em 2019, depois de 24 anos de história, visando o rebranding da marca. Em 2021, a VS inclui atletas, ativistas e atores como os novos porta-vozes da empresa. E, tudo isto, foi um processo muito gradual.

Representar diferentes corpos é mostrar às mulheres que não precisam de encaixar nos padrões irreais que antes viam nas modelos, é fazer com que mulheres se sintam acolhidas e que vejam os seus corpos bem representados nas lojas da VS.

Em 2023 é anunciado o retorno do VS Fashion Show, desta vez com o nome “Victoria’s Secret: The Tour” e em forma de documentário. Esta nova forma de desfile surge com uma dinâmica muito diferente da anterior e pretende assinalar o reposicionamento da marca, sem passarela e sem as típicas asas das Angels.


A verdade é que o sucesso deste novo formato de marketing da VS não foi tão grande como o das Angels. Qual a razão para a falta de sucesso? Será que este rebranding foi contra a identidade da marca? O feedback negativo foi aquele que sobressaiu nas redes sociais.


Este rebranding poderia resultar em uma nova identidade de marca, mas que mantivesse os elementos-chave da marca original, como a sensualidade e a moda íntima, ainda assim alinhados com os valores atuais.

Acredito que este insucesso em nada se deveu à diversidade de mulheres em si, mas sim como foi criada uma distância tão grande entre o formato do amado (por tantos anos) antigo desfile e esta nova versão. A alteração dos desfiles foi mal recebida e o público mostrou querer as Angels de volta.

Como defensora dos valores de diversidade e inclusão e como fã dos antigos desfiles das Angels, acredito que a marca se teria saído muito melhor se tivesse mantido a mesma exata dinâmica dos antigos desfiles, mas com Angels diversas.

Apesar do sucesso da VS na criação produtos para mais segmentos - iniciada em 2019, não se pode dizer que a sua maior estratégia de marketing (o desfile) tenha tido esse mesmo sucesso, em 2023.

Qual acham que seria a saída para este problema? Perdeu a VS a identidade da sua marca? Seriam as Angels a maior fonte de identidade da marca?

 

Fontes:

https://vidasustentavel.sabado.pt/diversidade-e-inclusao/diversidade-e-inclusao-nas-empresas-importancia-desafios-e-beneficios/

https://eu.usatoday.com/story/entertainment/2023/03/06/victorias-secret-fashion-show-return-new-version/11411487002/

https://nypost.com/2021/06/21/the-rise-and-fall-of-the-victorias-secrets-angels-models/

https://jornalismorio.espm.br/destaque/victorias-secret-uma-marca-que-tenta-se-reinventar-em-meio-ao-caos/

https://br.fashionnetwork.com/news/Desfiles-da-victoria-s-secret-completam-20-anos,557249.html#schiaparelli

https://people.com/how-does-victorias-secret-the-tour-23-compare-to-the-original-fashion-show-7974372

https://www.eviemagazine.com/post/gen-z-hated-victorias-secret-the-tour-23

2 comentários:

  1. Olá Ana, gostei muito do teu artigo. Confesso que também eu com este rebranding estava à espera um desfile com angels com diferentes tons de pele e diferentes tipos de corpos. Acho que era era desejado por todos os fans da marca e que a VS quis mudar completamente a sua identidade e decidiu manter a identidade da passarela associada às antigas angels.

    Outro exemplo de marca de moda íntima inclusiva é a SKIMS, marca criada pela Kim Kardashian, Que ganhou muito destaque pela sua abordagem inclusiva e por oferecer opções de moda íntima para diversos corpos, tamanhos e diversos tons de pele, são peças de roupa muito confortáveis e ainda com uma vertente sustentável.

    No entanto a SKIMS destaca-se da VS pois a inclusão e diversidade sempre foi o seu lema. O marketing da marca é muito baseado em redes sociais e parcerias com influencers e celebridades (marketing de influência).

    Vou deixar aqui um link de um blog que conta tudo sobre a marca, desde a história, até ao marketing de influência e as estratégias de redes sociais: https://www.storyclash.com/blog/en/skims-marketing-strategy/

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    1. Olá Mariana! Obrigada pelo teu comentário :) Adoro a SKIMS e sem dúvida que esta já vem a beneficiar dos tempos em que foi lançada... Ou seja, enquanto algumas marcas sofrem a tentar adaptar-se, outras beneficiam das novas tendências e nascem sobre elas.

      Ainda bem que surgem novas marcas capazes de se integrar tão bem sob as causas que realmente importam e que tanto dão que falar atualmente.

      Adoro o tema de marketing influência e vou ver o link que enviaste!

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