domingo, 20 de abril de 2025

Celebrando as Pessoas 5 Estrelas

A Era das Conexões Digitais

Os seres humanos sempre precisaram de comunicar e de se conectarem uns com os outros: fosse através de sinais de fumo, cartas enviadas por pombos correio, mensagens por telégrafo, telefone, ou mesmo por fax, o cerne de grande parte das inovações ao longo dos milénios focou-se em satisfazer da forma mais rápida e eficiente possível esta necessidade primitiva. Com a emergência das novas tecnologias, nomeadamente, os smartphones, computadores pessoais, e, principalmente, a conexão à Internet, conseguimos estar sempre ligados e conectados a pessoas de todos os cantos do Mundo. Tal avanço revolucionou completamente não só o paradigma de como vivemos o nosso dia a dia, mas também o universo de possibilidades de expansão do negócio das empresas.
 
Evolução dos meios de comunicação


No entanto, começa a crescer uma “epidemia da solidão”, exacerbada por fatores como a urbanização, os meios de comunicação social e a pandemia da COVID-19, segundo Othman (2024). Numa era em que parece que o Mundo está completamente conectado, será que, paradoxalmente, estamos a corromper as verdadeiras ligações humanas?

A verdade é que vivemos numa realidade tão saturada com tecnologia, em que sentimos que estamos seguros pela nossa “rede” de conexões, e, no ritmo acelerado do dia a dia, nem nos lembramos das ligações e relações reais, com as pessoas “de carne e osso” que nos rodeiam. A nível neurológico e emocional, dar “gosto” numa publicação ou enviar uma mensagem num chat online não tem o mesmo impacto que o estabelecimento de uma relação real, que exige passar tempo cara a cara e investir em conhecer aquela pessoa a um nível mais profundo (Healthcare Australia, 2021).

Com o advento da conectividade total, grande parte das ligações estabelecidas entre as pessoas têm pouco de genuínas e verdadeiras, focando-se mais em tornar-se parte de uma “tribo”, de cujos membros sabem muito pouco a nível pessoal. É muito fácil distrairmo-nos pelos gráficos coloridos, emojis, gostos e visualizações, dando prioridade à imagem (nossa e dos outros) em detrimento da substância. Tal conduz à atual epidemia da solidão, em que conseguimos comunicar com milhões de pessoas, mas sentimo-nos mais sozinhos e distantes do que nunca (Berkeley Executive Education, sem data).

Epidemia da Solidão

Consequentemente, a tecnologia torna-nos mais preguiçosos na resolução de problemas, que já não sabemos fazer de forma independente, o que tem um impacto direto na nossa capacidade de estabelecermos ligações emocionais e afetivas com as pessoas à nossa volta. Nomeadamente, temos cada vez mais dificuldade em sentir empatia uns pelos outros, em compreender o que as pessoas à nossa volta estão a sentir, o que dificulta a superação de problemas em conjunto (Healthcare Australia, 2021).


O Cerne da Questão
A falta de ligações humanas genuínas tem mais impacto do que aparenta- de facto, é uma condição fundamental para a sobrevivência do ser humano e a continuidade da espécie. Somos animais sociais, temos necessidade de construir uma rede de apoio, uma comunidade, da qual dependemos durante todas as fases da vida, recebendo e dando a ajuda necessária, com cada um a contribuir com aquilo que traz de melhor.

Importância das ligações humanas


Tal como evidenciado por Talebreza-May (2019), as relações de dependência estabelecidas com outros seres humanos estão inscritas no nosso ADN, acompanhando-nos ao longo de toda a vida: quando nascemos, somos vulneráveis e fracos, dependemos de cuidados físicos e emocionais, que estabelecemos com o nosso círculo inicial. Igualmente, deixamos o Mundo igualmente vulneráveis, necessitando do apoio daqueles que nos rodeiam, que se baseia na força das relações que fomos criando ao longo da vida. Nesse momento, compreendemos que

“as nossas ilusões de invencibilidade e independência simplesmente não resistem à verdade da necessidade de ligação”.

O estabelecimento de ligações humanas permite-nos sentir que fazemos parte de algo maior que nós próprios, contribuindo para a sociedade com o que de melhor temos a oferecer, amando e cuidando como a tecnologia nunca conseguiria, tornando a nossa vida significativa e dando-nos um verdadeiro propósito (Healthcare Australia, 2021).


Colocar as nossas pessoas em 1º lugar 

Face a esta problemática, a solução não poderá ser abandonar todo o progresso tecnológico, que tantas potencialidades traz para a nossa sociedade- mas antes, encarar esta ferramenta com “peso e medida”, aproveitando tudo de bom que esta pode oferecer, mas estando atentos a todos os perigos inerentes, procurando evitá-los e combate-los.

Uma excelente via para o fazer é a constante lembrança da realidade dos seres humanos que estão por detrás dos ecrãs, por detrás das imagens e dos serviços prestados- e com os quais podemos criar relações genuínas e impactantes, se olharmos através da ilusão digital. Este é uma efetiva estratégia a seguir pelas marcas, que tanto beneficiam da conectividade total trazida pelas novas tecnologias para expandir o seu negócio além-fronteiras, mas para as quais os seus trabalhadores, as suas pessoas, continuam a ser fundamentais para a preservação e crescimento do negócio.

Valorização da pessoa por detrás do ecrã


Ao evidenciarem o carinho e importância que dão às pessoas com as quais trabalham, as marcas conseguem não só criar uma poderosa imagem no que concerne aos seus valores, como também contribuir para uma mudança de paradigma da sociedade como um todo. 

 A Uber lançou uma campanha em 2018 que traduziu exatamente isso, valorizando os seus condutores como as pessoas que são, sem deixar de disseminar essa mensagem através das tecnologias que tem ao seu dispor, nomeadamente a sua aplicação e redes sociais. Segundo Yacobi From (2024), a campanha #BeyondFiveStars incentivava os clientes a partilhar experiências memoráveis que tenham tido com os seus motoristas Uber.
 
Camapanha #BeyondFiveStars


A partir dessas referências, a empresa homenageou as pessoas com melhores classificações, partilhando as suas histórias de vida genuínas e emocionantes. Assim, os clientes da Uber ficam a conhecer as pessoas por detrás da aplicação, as suas histórias de vida e a suas essências pessoais: vemos, por exemplo, a história de Fred, um motorista de 80 anos que passou toda a vida como diretor de entretenimento em cruzeiros e hotéis em Las Vegas, e também de Anna, que tem uma enorme paixão por música, especialmente o jazz suave que toca no carro e o musical "O Rei Leão" (Amidan, 2018).

 Mas não só: demonstrando a importância que dá às pessoas que trabalham para si, a marca oferece-lhe uma surpresa memorável, como sinal de agradecimento e apreciação pelas pessoas que são: 

    • Fred: por tornar as viagens dos passageiros memoráveis, que o classificaram como “melhor condutor de sempre- podemos todos aprender com o senhor de 80 anos mais positivo e energético que já conheci”, a Uber deu-lhe a oportunidade de reencontrar Pat Boone, uma das suas celebridades favoritas, que tinha conhecido há décadas (Uber, 2018b) - https://www.youtube.com/watch?v=k9dzpRzSdnA
 
Motorista Fred

    • Anna: conhecida por ajudar os passageiros a apreciar a viagem e a relaxar, foi elogiada por lhes oferecer “um pedaço do Paraíso- viajar com a Anna é uma transição perfeita do trabalho para o descanso, super relaxante e jazzy”. Por esse motivo, a Uber ofereceu-lhe a oportunidade de ir às Filipinas ver o seu musical preferido, “O Rei Leão” (Uber, 2018a)- https://www.youtube.com/watch?v=wR53trHAW_o

Motorista Anna


Apoiando-se no mote “Um elogio pode ir mais longe do que pensa - Partilhe um elogio, partilhe amor” (Uber, 2018a), a Uber consegue humanizar a sua marca, criando confiança nos seus clientes, ao mostrar que valoriza os seus motoristas, fazendo com que também os clientes se sintam especiais pelas pessoas que são (Yacoby From, 2024). Segundo Amidan (2018), esta campanha permitiu não só criar um impacto positivo nos clientes, como nos colaboradores, que ficaram motivados a proporcionar aos passageiros uma experiência reconfortante, de boa vontade, e que os fidelizou à marca, fazendo face à crescente concorrência no terreno de forma extremamente eficaz. 

Em suma, a Uber acertou em cheio com esta campanha de marketing digital, que lhe permitiu fomentar a boa relação com todas as pessoas envolvidas no seu negócio- desde clientes a colaboradores- ao promover aquilo que todos nós, enquanto sociedade, devemos valorizar: as conexões humanas genuínas.


Bibliografia:

Amidan, K. (2018, maio 2). Social Campaign Analysis. Kambria Amidan. https://kambriamidan.wordpress.com/2018/05/02/social-campaign-analysis/

Berkeley Executive Education. (sem data). The Importance of Connections on Our Well-Being | Berkeley Exec Ed. Obtido 20 de abril de 2025, de https://executive.berkeley.edu/thought-leadership/blog/importance-connections-our-well-being

Healthcare Australia. (2021, outubro 6). The Importance Of Human Relationships In A Digital World. https://healthcareaustralia.com.au/human-relationships-in-the-digital-world/

Othman, A. (2024, novembro 1). (PDF) The Rise of AI Relationships: A New Frontier in Human Connection Predicting the Future of Human-AI Relationships. ResearchGate. https://doi.org/10.13140/RG.2.2.10182.38724

Talebreza-May, J. (2019, março 10). The Importance of Human Relationships. SocialWorker.Com. http://www.socialworker.com/api/content/65ee82ee-02b3-11e7-b89e-0aea2a882f79/

Uber (Diretor). (2018a, janeiro 24). Meet Anna—Going Beyond 5 Stars | Driver Compliments [Gravação de vídeo]. https://www.youtube.com/watch?v=wR53trHAW_o

Uber (Diretor). (2018b, janeiro 24). Meet Fred—Going Beyond 5 Stars | Driver Compliments [Gravação de vídeo]. https://www.youtube.com/watch?app=desktop&v=k9dzpRzSdnA

Yacoby From, R. (2024, novembro 5). 10 of the Most Creative eCommerce Ad Campaigns You Can Learn from. https://www.mayple.com/resources/ecommerce/creative-ad-campaigns-for-ecommerce

1 comentário:

  1. Um post interessante e necessário, especialmente ao refletir sobre o paradoxo da era digital: nunca estivemos tão conectados, e, ao mesmo tempo, tão emocionalmente distantes.
    Concordo que a tecnologia, apesar de facilitar a comunicação, tem dificultado o aprofundamento das relações humanas, substituindo, muitas vezes, a presença pela conveniência.
    Com o exemplo da campanha #BeyondFiveStars da Uber, fico a questionar-me até que ponto essa valorização das “pessoas por detrás do ecrã” se mantém como uma prioridade real das marcas. De facto, são exemplos inspiradores, mas pontuais. Numa era em constante evolução, talvez fosse interessante ver como estas estratégias se adaptaram (ou não) à realidade atual, especialmente com os desafios pós-pandemia.

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