quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

“Mortos que falam”

Recentemente a Microsoft registou uma patente de bots de chat que conseguem imitar (e reviver digitalmente) pessoas falecidas.

Teoricamente, o chatbot será capaz de simular conversas através de comandos de voz ou mensagens de texto, utilizando inteligência artificial e é moldado de acordo com o perfil de uma determinada pessoa. Para isso usam conteúdos como “imagens, dados de voz, publicações nas redes sociais e mensagens eletrónicas” (usadas no Messenger ou WhatsApp, por exemplo). Além disto, a Microsoft também tem planos para a criação de modelos 2D ou 3D de uma pessoa específica com base em imagens, informações de profundidade e vídeos.

Ora, tudo isto leva à crença de vida após a morte a partir de uma “reencarnação digital”, ou seja, o corpo morre, mas conseguimos fazer com que a mente permaneça viva para sempre.

É certo que, cada vez mais, temos presente a ideia de que fornecemos informação nossa em praticamente tudo aquilo que fazemos, (como podemos ver no artigo abaixo que nos fala do “Documentário "O dilema das redes sociais" na Netflix”) mas agora podemos ainda adicionar a ideia de que estamos a fornecer dados nossos para que, no futuro, possam falar connosco, mesmo que não estejamos “cá”.
 
Não sei quanto a vocês, mas esta é uma ideia que me inquieta e deixa preocupada. Ao longo destes anos todos sempre fui tendo como pensamento que depois da morte não há nada que nos volte a ligar à pessoa em questão; que tudo acaba quando a vida também acaba.
 
Aliás, podemos até mesmo dizer que esta tecnologia pode dar origem de personagens falsas. Vamos estar a criar pessoas presas ao passado, ao que não existe como também caminhar para uma realidade que não existe. O que quero dizer com isto é que, sinto que as pessoas vão deixar de viver tão intensamente o presente, dar valor ao estar com alguém fisicamente, todo este conjunto de coisas que são (ou deviam ser) fundamentais na ligação com o outro.
 
Vivemos num mundo que cada vez mais pensa um passo à frente, mas não estamos a voltar atrás?

3 comentários:

  1. Foi uma boa reflexão Bárbara!
    Na minha opinião, a sociedade está completamente "vidrada" em criar coisas novas e inovadoras, que surpreendam e que superem as inovações tecnológicas dos concorrentes. Por um lado, é ótimo testemunharmos a evolução que o mundo está a sofrer e daquilo que o ser humano é capaz de criar mas, por outro lado, acho que acabam por pôr de lado, neste caso, os sentimentos das pessoas e os danos que este tipo de interação pode criar (com pessoas já falecidas), e isso é realmente assustador.

    Também referiste que podemos estar a caminhar para uma realidade que não existe ao prendermo-nos a este tipo de personagens falsas e eu lembrei-me de um filme que retrata isso na perfeição. O filme é o "Her" e conta a história de um homem que após se separar da mulher, começa a conversar com um sistema operacional de computador (como a Siri, por exemplo) e acaba por se apaixonar. Isto vai de encontro ao que referiste acerca de as pessoas se agarrarem a algo que não é real, de criarem ilusões e de acabarem por não dar valor ao estar fisicamente!

    Deixo aqui o link do trailer do filme para quem estiver interessado!
    https://www.youtube.com/watch?v=dJTU48_yghs&ab_channel=MovieclipsTrailers

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    1. Margarida, essa ideia de estarmos completamente com vontade de criar mais, de evoluir em termos tecnológicos acho que está muito ligada também à geração atual, como falamos na última aula. Assim como tu, também acho que é realmente preocupante a forma de como deixam de lado os sentimentos de uma pessoa e se focam apenas em criar, em usar-nos como se fossemos “objetos” para atingir fins.
      Senti que este caso pode ter mais desvantagens associadas do que propriamente vantagens.
      Ao escrever este post ia-me questionando várias vezes de como se poderão sentir os familiares das “reencarnações” ou então como é que se tornarão as relações com o outro após a adoção deste avanço tecnológico. Começou a pairar todo um conjunto de questões que me assustou e espero mesmo não ter de lidar com algo idêntico tão cedo. Ainda não vi o filme que mencionaste, mas acredito que espelhe, de forma bem clara, os pontos negativos associados a esta temática e que eu acredito que são imensos (talvez seja o próximo a ver se começo a interiorizar um bocadinho mais a realidade que se poderá avizinhar).

      Obrigada pela partilha !

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    2. Obrigada pela tua reflexão Bárbara! De facto, esta ideia é assustadora e cria a ilusão nas pessoas que os seus entes queridos ainda estão presentes, causando ainda mais sofrimento. Contudo, esta "inovação" é o reflexo de uma sociedade que já está tão evoluída em termos tecnológicos e quer sempre "superar a evolução" do concorrente, não olhando a meios para atingir os fins e com particularidades eticamente duvidáveis.
      Sublinho a sugestão da Margarida, do filme "Her", é absolutamente fabuloso! Contando com a participação do excelente ator Joaquin Phoenix :)

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