O mundo da relojoaria e a Gen Z: Complicações ou perda de tempo?
Watches and Wonders Genebra 2025
Na passada semana, teve lugar, em Genebra, o maior e mais prestigiado evento de relojoaria do mundo, reunindo 60 marcas e contabilizando um recorde de público, com mais de 55 000 visitantes e 10 000 jovens participantes. Um dos aspectos mais relevantes da edição 2025 foi a valorização da nova geração de relojoeiros e colecionadores. As marcas não só apresentaram as suas criações e os novos lançamentos, mas também deram espaço para aprendizes, jovens engenheiros e designers, com tours guiadas, oficinas interativas e painéis sobre o futuro da relojoaria. Para além do pavilhão principal, Palexpo, Genebra respirou relojoaria durante o evento, boutiques, museus e espaços temporários promoveram experiências abertas ao público, democratizando o acesso a um mundo geralmente reservado aos grandes colecionadores.
Os novos hábitos da Gen Z
Durante décadas, os relógios de luxo foram símbolos silenciosos de status, tradição e herança, muitas vezes associados a gerações mais velhas, contudo esse cenário está a mudar. A nova força dominante no mercado é a Geração Z, que está a redefinir completamente a forma como vemos, compramos e valorizamos relógios de luxo. Segundo um relatório da Watchfinder & Co., os jovens entre 12 e 28 anos estão dispostos a gastar em média $10.870 no seu próximo relógio mecânico de luxo, valor que supera o investimento feito por qualquer outra geração. Para eles, um relógio não é apenas um acessório: é uma forma de expressão, uma peça de valor e, muitas vezes, um ativo de investimento.
No entanto, o gosto da Geração Z, por relógios e os seus movimentos mecânicos, não é requintado, este tem tendência a ser previsível. Marcas como Rolex, Cartier, Jacob & Co e Hublot. destacam-se entre as preferências da Geração Z, refletindo a sua afinidade por nomes estabelecidos no setor. As plataformas digitais, especialmente o TikTok, os influencers e as parcerias com grandes nomes, do futebol, por exemplo, desempenham um papel crucial na formação destes interesses e preferências.
Começa a ficar complicado...
Apesar de terem menos hype à volta do nome, marcas como A. Lange & Söhne, Patek Philippe e Vacheron Constantin possuem maior estatuto dentro do setor da relojoaria. Conhecidas pelos seus relógios complexos, compostos por diversas complicações, como perpetual calendar, minute repeater, tourbillon e por vezes grandes complicações (conjunto de várias complicações). Os relógios de pulso mais complicados de cada marca são:
A. Lange & Söhne - "La Grande Complication" - Composto por 15 complicações, o relógio mais complicado da casa alemã, está avaliado em $2,5 Milhões. Peça exclusiva devido à sua raridade, existindo apenas 6 exemplares;
Patek Philippe - "The Grandmaster Chime" - Composto por 20 complicações, o relógio mais complicado da casa suiça, possuí uma versão que celebra o 175º Aniversário da marca, com 7 exemplares de ouro rosa trabalhado à mão. Esta versão chegou a ser vendida por $37 Milhões;
Vacheron Constantin - "Les Cabinotiers Solaria Ultra Grand Complication" - Apresentado a semana passada, no Watches and Wonders Genebra 2025, a marca suiça passou a possuir o relógio de pulso mais complicado de mundo. Composto por apenas 41 complicações, este relógio demorou 8 anos a ser feito, uma obra de arte e engenharia. Um relógio que qualquer colecionador adoraria apreciar nas suas mãos.
8 anos para 41 complicações e não conseguem resolver um simples desafio: Atrair a atenção da Gen Z.
Marcas como a A. Lange & Söhne e a Vacheron Constantin passam ao lado do interesse e atenção da nova geração. Não se trata de atrair clientes, mas sim fãs, pessoas que iram seguir os próximos passos da marca, gerar engagement e criar hype à volta da marca. A criação de parcerias ajuda a gerar "buzz" e várias marcas já repararam nisso, seja através de parcerias desportivas feitas pela Tudor, parcerias com celebridades, onde a Hublot é exímia, ou até mesmo parcerias com outras marcas. A Patek Philippe utilizou o ultimo exemplo e criou um dos relógios com mais notoriedade dos últimos anos.
Em parceria com a Tiffany & Co., empresa renomada no setor da joalheria, a Patek Philippe lançou uma edição limitada de um dos relógios mais épicos da história da relojoaria, o Patek Phillipe Nautilus. Esta edição juntou o "Azul Tiffany" ou Tiffany Blue® ao mostrador do relógio e aos elementos característicos do modelo. Convém destacar que a parceria teve início em 1851, tendo acontecido o 170º aniversário em 2021, onde as marcas aproveitaram para lançar 170 exemplares do "Nautilus Tiffany", atualmente avaliados em mais de $2 Milhões. Este lançamento chamou a atenção de diversas celebridades, sendo possível observar grandes nomes a usar a exclusiva edição, que consequentemente acabou por chamar a atenção e influenciar as novas gerações.
Qual é a vossa opinião sobre o assunto? Acham que grandes complicações chegam para chamar a atenção da Geração Z? Para mim basta, mas como não represento a geração decidi escrever este post.
Olá Miguel. Eu faço parte dos primórdios da geração Z e, talvez por isso, não sinto representatividade nesses hábitos de consumo. Atribuo à aquisição de um relógio um certo caráter emocional e tradicional pelo interesse em colecionismo do meu avô, o que me detrai de seguir tendências. O comportamento generalista da geração Z é descrito muitas vezes como irreverente, autêntico e criativo. Em contraste, A. Lange & Söhne, Vacheron Constantin e Patek Philippe prezam pela excelência artesanal e preservação de tradições. A complexidade da relação da geração Z e essas marcas dá-se pela incompatibilidade de valores, que altera a noção de valor percebido. As campanhas, por sua vez, acabam por não gerar conexão com esse segmento. O status é promovido através de publicações exclusivas, eventos privados e parcerias com influencers mais tradicionais.Por outro lado, as outras marcas como Rolex, Cartier e Hublot investem em estratégias de marketing digital e criam conteúdo para o Instagram, YouTube e TikTok, onde a geração Z está mais presente. Este estudo https://www.researchgate.net/publication/383434299_Marketing_to_Gen_Z_Understanding_the_Preferences_and_Behaviors_of_Next_Generation aborda várias temáticas do marketing e geração Z que explicam melhor o comportamento desta geração.
Respondendo diretamente à tua questão, diria que a geração Z não está para complicações.
Olá Mara. O valor que tu atribuis a uma aquisição de um relógio é completamente plausível e uma das principais razões para os colecionadores, ao qual eu me identifico também. A incompatibilidade de valores é um ponto bastante interessante. No meu ponto de vista essa incompatibilidade pode estar relacionada com o desinteresse em conhecer a história do setor, onde marcas ricas em história e pioneiras como a Breguet ou F.P. Journe passam ao lado de muitas pessoas. Acredito também que o status que as pessoas identificam com as redes sociais seja diferente do status percebido pelas elites com o uso de marcas mais "discretas" mas ricas em história e patentes no mundo da relojoaria. Obrigado pelo teu comentário e pela tua resposta à qual eu concordo.
Olá Miguel. Eu faço parte dos primórdios da geração Z e, talvez por isso, não sinto representatividade nesses hábitos de consumo. Atribuo à aquisição de um relógio um certo caráter emocional e tradicional pelo interesse em colecionismo do meu avô, o que me detrai de seguir tendências. O comportamento generalista da geração Z é descrito muitas vezes como irreverente, autêntico e criativo. Em contraste, A. Lange & Söhne, Vacheron Constantin e Patek Philippe prezam pela excelência artesanal e preservação de tradições. A complexidade da relação da geração Z e essas marcas dá-se pela incompatibilidade de valores, que altera a noção de valor percebido. As campanhas, por sua vez, acabam por não gerar conexão com esse segmento. O status é promovido através de publicações exclusivas, eventos privados e parcerias com influencers mais tradicionais.Por outro lado, as outras marcas como Rolex, Cartier e Hublot investem em estratégias de marketing digital e criam conteúdo para o Instagram, YouTube e TikTok, onde a geração Z está mais presente. Este estudo https://www.researchgate.net/publication/383434299_Marketing_to_Gen_Z_Understanding_the_Preferences_and_Behaviors_of_Next_Generation aborda várias temáticas do marketing e geração Z que explicam melhor o comportamento desta geração.
ResponderEliminarRespondendo diretamente à tua questão, diria que a geração Z não está para complicações.
Olá Mara. O valor que tu atribuis a uma aquisição de um relógio é completamente plausível e uma das principais razões para os colecionadores, ao qual eu me identifico também. A incompatibilidade de valores é um ponto bastante interessante. No meu ponto de vista essa incompatibilidade pode estar relacionada com o desinteresse em conhecer a história do setor, onde marcas ricas em história e pioneiras como a Breguet ou F.P. Journe passam ao lado de muitas pessoas. Acredito também que o status que as pessoas identificam com as redes sociais seja diferente do status percebido pelas elites com o uso de marcas mais "discretas" mas ricas em história e patentes no mundo da relojoaria. Obrigado pelo teu comentário e pela tua resposta à qual eu concordo.
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