terça-feira, 16 de abril de 2019

Quando a única saída é um pedido de desculpa


o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos duma criança.

Os versos de Manuel Freire ganharam, com o aparecimento do digital e da internet, um novo significado (ou, pelo menos, uma maior velocidade no avanço do mundo). Tudo é imediato – as campanhas, as reações dos consumidores e as respostas das marcas; mas, enquanto tudo surge com uma velocidade alucinante e é efémero, nada pode ser definitivamente apagado e, por isso, nada é facilmente esquecido.

A necessidade e a pressão de criar algo “out of the box” tem potenciado os níveis de criatividade e levado as marcas a apostar em campanhas cada vez mais ousadas, quando comparadas com as apostas sólidas, seguras e pouco arriscadas do passado.

As novas estratégias de marketing promovem, muitas vezes, polémicas, de forma a destacarem-se e levando os consumidores e os meios de comunicação social a dar maior importância a uma determinada campanha, o que nem sempre se reflete num destaque maior do produto ou da marca. Ora, ainda que muitas vezes resultem em campanhas brilhantes e com enorme aceitação do público, por vezes, as marcas vêem-se obrigadas a retirar as campanhas e um pedido de desculpa é a única saída.


Em 2011, a Benetton, através da Fundação Unhate, criou uma campanha cujo propósito passava “exclusivamente por combater a cultura de ódio em todas as formas” e que consistia na divulgação de montagens fotográficas com líderes políticos e religiosos a beijarem-se. No entanto, em menos de 24 horas e sob ameaça do Vaticano, a marca viu-se obrigadaa retirar as fotografias que incluíam o Papa Bento XVI.



Em 2017, a Dove optou por retirar uma campanha que estava a ser alvo de enormes críticas por parte dos consumidores, que associaram a marca ao racismo. A marca demarcou-se e pediu desculpa.



Em 2018, a Dolce & Gabbana, depois de lançar uma campanha intitulada “Eating With Chopsticks” para promover o Shangai Fashion Show, cancelou a campanha e o desfile, já que a comunidade chinesa tinha interpretado as ações da marca como um insulto à sua cultura. A marca imitiu um comunicado em que afirmava: “Ao longo dos últimos dias, pensámos com muito arrependimento naquilo que nos aconteceu, naquilo que fizemos ao vosso país e pedimos desculpa. As nossas famílias ensinaram-nos sempre a respeitar as várias culturas de todo o mundo e, por isso, queremos pedir desculpa caso tenhamos cometido erros a interpretar a vossa cultura”.



Mais recentemente, foi a Burger King que, a propósito do lançamento do hambúrguer Vietnamese Sweet Chilli Tendercrisp na Nova Zelândia, teve de pedir desculpa e eliminar um vídeo que mostrava algumas pessoas a tentar comer um hambúrguer com a ajuda de pauzinhos.


Fontes

1 comentário:

  1. Boa, Gonçalo!

    Nos últimos anos, a sociedade tem se tornado cada vez mais engajada com o fácil acesso a informação e as redes sociais. As pessoas estão tomando para si a responsabilidade de lutar por seus direitos, expor suas opiniões e têm buscado autenticidade nas marcas também.

    Todos esperam que as empresas que admiram tomem partido daquilo que consideram importante. Além de comprar produtos e serviços, os indivíduos passam a comprar os aspectos ideológicos.

    A estratégia de marketing deve ser muito bem elaborada para garantir uma postura consistente, especialmente diante de polêmicas. Qualquer falha na comunicação pode gerar prejuízos irreparáveis. Conquistar a confiança do consumidor e mostrar empatia pelos seus valores é um grande desafio que as marcas precisam enfrentar! (Fácil não é! Mas é preciso ter cautela para não colocar em risco a reputação já conquistada no mercado)

    ResponderEliminar