segunda-feira, 18 de maio de 2015

Anita e a mudança de identidade

Todos crescemos com as famosas histórias da “Anita”. A popular coleção de livros acompanhou a infância de várias gerações um pouco por todo o mundo. Da autoria do francês Gilbert Delahaye e do belga Marcel Marlier, acompanhava o dia-a-dia de uma criança conhecida como Anita. Isto até 2015 …




Em comunicado divulgado na última semana, a Zero a Oito (editora responsável pela publicação dos livros da coleção em Portugal) anunciou a mudança de nome da protagonista: de Anita, nome pelo qual sempre foi conhecida no nosso país, para Martine (o seu nome original). Mas não só a protagonista mudou o seu nome, também grande parte dos personagens secundários que a acompanham nas suas aventuras viram o seu nome alterado (como o seu cão, que todos conhecemos como Pantufa e passa agora a chamar-se Patusco).

De acordo com Joana Faneco (responsável de marketing e comunicação da editora) “esta mudança é uma estratégia global da editora Casterman, que pretende tornar a marca Martine universal. Cada vez mais as crianças de todo o mundo estão unidas pelas mesmas histórias, pelos mesmos temas, pelos mesmos heróis de animação. Todas elas sabem quem é o Mickey, o Noddy e o Harry Potter. Esta razão, aliada ao conceito de aldeia global em que vivemos actualmente, faz com que a decisão de voltar às origens ganhe todo o sentido.”



No entanto, esta justificação não parece convencer os portugueses, que consideram esta alteração uma ofensa às suas memórias de infância. A editora tem, por isso, sofrido na pele o poder da “Geração Net” (que, como estudámos, valoriza o power to you e faz questão de ser ouvido pelas marcas, sentindo assim que tem uma palavra a dizer no que toca aos produtos que consome) que tem feito questão de partilhar o seu descontentamento através de uma onda virtual de protestos em diversas redes sociais. Na página de Facebook da marca é possível observar uma amostra de como os portugueses estão a reagir à situação.

Contudo, vale ressaltar que a editora tem sabido aproveitar o burburinho de que tem sido alvo.  É possível observar na página o cuidado em explicar os motivos da alteração a todos aqueles que manifestam a sua indignação. Conforme afirmado ao jornal Público: Começámos a perceber o burburinho que, aos poucos, se foi criando na comunicação social e nas redes sociais sobre este tema. Muitas pessoas nos têm ligado para partilhar a sua opinião e temos sempre tentado explicar as razões que estão por detrás desta mudança e, principalmente, que as histórias não mudaram”.

Outras das tentativas da editora em “reconciliar-se” com os leitores tem passado pelo vínculo que tem criado com as figuras de referência do nosso país. Após a famosa (e amplamente partilhada nas redes sociais) crónica da Rádio Comercial – que tentou inclusive criar um movimento que impedisse a mudança de nome da protagonista – a Zero a Oito fez questão de oferecer à equipa um livro personalizado; e o mesmo aconteceu com diversas figuras públicas, como a autora do blogue A Pipoca Mais Doce (o blogue mais lido em Portugal), após esta ter publicado um artigo acerca da mudança. Sabemos a influência que estas figuras públicas têm na Geração Net, pelo que fica claro que a Zero a Oito está empenhada em voltar a cair nas boas graças dos portugueses.


É, no entanto, inegável que esta situação voltou a trazer à ribalta uma coleção de livros que se encontrava um pouco esquecida. O impacto desta decisão nos consumidores, só o tempo o dirá. A mudança pode quebrar os laços afetivos que grande parte dos consumidores possuía com as “histórias da Anita” (levando a uma quebra nas vendas) ou, pelo contrário, o forte buzz gerado em torno da coleção poderá ser o impulso que a coleção necessitava para se voltar a afirmar no mercado.

Enquanto indivíduos que cresceram com a Anita, o que pensam desta mudança de identidade?

E quais os impactos que a mudança (estratégia de marketing ou não) poderá ter nas vendas da marca?

2 comentários:

  1. Confesso que me surpreendeu esta mudança. No entanto, também concordo que estavam um pouco esquecidos e esta mudança pode ter surgido precisamente com o intuito de a reavivar junto do público. Se vai ter resultados positivos ou não, só mesmo o tempo o dirá, mas sendo um nome conhecido como este (acho que qualquer pessoa conhecia ou pelo menos ouviu falar dos livros da Anita) não sei até que ponto terá sido uma boa decisão.
    Quanto a mim, dificilmente irei associar os novos livros à Anita, passando antes a ser uma 'coleção' completamente nova para mim.

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  2. É verdade que o buzz criado em torno desta situação acaba por ser favorável à marca. Foi uma forma de lembrar os mais esquecidos, aqueles que criaram uma afinidade mais fraca com a coleção de livros da Anita e até aqueles que nunca leram esses livros ou eram pouco interessados. Contudo, o desagrado aqueles que cresceram com essas histórias terá consequências negativas nas vendas. Os novos livros são dirigidos às novas gerações, claro, mas os seus compradores vão sempre ser essa geração que cresceu com a Anita e não com a Martine.

    Pessoalmente entendo a estratégia global da editora e acho que faz algum sentido. Cresci com os livros da Anita mas talvez nunca tenha criado os mesmos laços afetivos que alguns portugueses, como referes. Penso que eventualmente as histórias da Martine irão recuperar deste buzz “negativo”.

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