terça-feira, 11 de maio de 2021

O uso inadequado do Marketing Digital

Em meados de outubro de 2017 ocorreu no Brasil uma repetição de publicações no Instagram que chamou a atenção e levantou suspeitas, pois as fotos tinham contextos muito semelhantes, como qualidade e estética (backgrounds, ângulos, roupas, iluminação, etc) sempre muito elevados e o detalhe principal, todas elas exibiam cigarros.

Ao observar uma foto isoladamente, nada chama atenção, parece uma foto como qualquer outra, sem pretextos ou segundas intenções, mas o fato é quando isso acontece de uma forma peculiarmente ordenada, que também não teria nenhum problema, se o "assunto" principal não fosse o cigarro. No Brasil vigora a lei 10.167/2000 que proíbe a propaganda de cigarro em qualquer meio de comunicação.


Na época, a Revista Exame, uma das mais conceituadas revistas de Negócios do país recebeu informações de que tratava-se na realidade de uma campanha publicitária disfarçada promovida pela empresa Souza Cruz, uma indústria de tabaco centenária, fundada no Brasil em 1903 pelo imigrante português Albino Souza Cruz. A campanha tinha como objetivo promover a marca Kent, uma das várias marcas de propriedade da empresa.

Além de promover uma propaganda ilegal pelo conteúdo divulgado, a empresa também teria violado regulamentação do Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (CONAR), quando estabelece que publicações em redes sociais devem ser realizadas com a devida transparência e se revelarem como anúncios ou "posts patrocinados". Após várias investigações descobriram que a marca Kent também estaria a distribuir cigarros gratuitamente em festas badaladas de São Paulo, que também é uma violação à legislação vigente.

Outro fator que chamou atenção é que os perfis das pessoas que publicavam tais fotos eram sempre de jovens (com cigarro na mão ou na boca) que tinham entre 2 e 100 mil seguidores, ou seja, eram de uma forma mais ou menos contundente, influenciadores digitais. Logo veio a descoberta, informada anonimamente por alguns dos integrantes da campanha, que as fotos foram todas produzidas por profissionais e que o perfil procurado eram jovens fumantes, que circulavam pelo mundo da moda, da música e das noites de São Paulo. Segundo esses mesmos informantes, os influenciadores tinham uma meta estabelecida de postar oito fotos por mês, no intervalo de 3 meses, e os cachês variavam entre 3 e 8 mil reais (atualmente algo entre 450 e 1.200 euros), que variava de acordo com o número de seguidores.


Especialistas consultados pela Revista concluíram que essa suposta ação no Instagram envolvendo jovens é um verdadeiro retrocesso no combate ao tabagismo, principalmente quando existem dados que indicam que 80% das pessoas começam a fumar antes dos 18 anos.

Órgãos como Ministério Público, Procon (Programa de Proteção e Defesa do Consumidor) e Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) supostamente iriam investigar a ação, mas independente do resultado da investigação, fica a reflexão do uso inadequado das mídias sociais e do Marketing Digital.

Fonte 1

Fonte 2

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