quarta-feira, 30 de abril de 2025

O Porquê de Acabarmos Sempre por Escolher a Opção do Meio

O neuromarketing ajuda-nos a perceber como os consumidores tomam certas decisões de compra que, à primeira vista, parecem lógicas, mas na realidade são altamente influenciadas por processos inconscientes. Um dos fenómenos é a tendência dos consumidores para escolherem a opção intermédia quando lhes são apresentadas três alternativas, especialmente em termos de tamanho ou preço.

Isto acontece porque o cérebro humano procura constantemente simplificar decisões e encontrar aquilo que parece ser o melhor negócio. Se pensarmos, por exemplo, na compra de pipocas no cinema, com preços como 3,9€ para o tamanho pequeno, 4,5€ para o médio e 4,7€ para o grande, rapidamente percebemos que a diferença entre médio e grande é menor, comparada com o mais pequeno. O consumidor, perante estas opções, tenderá a não escolher a mais barata, pois a opção intermédia valoriza artificialmente a escolha mais cara. 

Mas e no digital?

No e-commerce, as marcas estruturam planos, bundles ou níveis de subscrição com este mesmo efeito. O plano Standard muitas vezes existe só para dar destaque ao Premium. O consumidor sente que está a fazer um bom negócio, mesmo que não precise de todas as funcionalidades.

  • Plataformas como Spotify, Amazon Prime, Adobe e Netflix utilizam nesta técnica. Os planos apresentados são pensados para guiar o consumidor para a opção mais rentável para a marca.

Este processo é conhecido como o efeito isca e é usado pelas marcas para influenciar decisões sem que o consumidor se aperceba. Não se trata de manipulação, mas sim de uma construção cuidadosa da forma como as opções nos são apresentadas. A presença de, pelo menos, três escolhas cria uma sensação de equilíbrio e segurança. Se houvesse apenas duas opções, a decisão poderia causar mais hesitação. Com três, o consumidor sente-se mais confortável em escolher a do meio ou aquela que parece ter mais “valor” pelo dinheiro, isto é a mais cara.

O neuromarketing mostra, assim, que o comportamento do consumidor é muitas vezes guiado por emoções, mais do que por comparações racionais. Entender estes efeitos é útil tanto para quem vende como para quem compra, e ajuda-nos a tomar decisões de forma mais consciente.



https://appm.pt/o-neuromarketing-na-estrategia-e-acao-do-negocio-por-susana-ferreira/

https://gabrielishida.substack.com/p/151-o-efeito-isca-no-marketing

https://www.cinemas.nos.pt/bar

https://www.linkedin.com/posts/leonor-boavida-de-sousa_sobre-construir-valor-no-imagin%C3%A1rio-do-activity-7322324699865075713--2dO?utm_source=social_share_send&utm_medium=member_desktop_web&rcm=ACoAAE1U_1sBQ5LEWWzKMjeejoXr9OFV7EtM1Qs

Deu Apagão, Deu Swee: Como a Marca Gelada Esquentou as Redes Sociais


Na última segunda-feira (28 de abril), uma falha na rede elétrica gerou um apagão de grandes proporções na Europa, que afetou Portugal continental, Espanha peninsular, Andorra e o sudoeste da França, deixando milhões de pessoas sem eletricidade e causando transtornos significativos, estimados em mais de mil milhões de euros 1.

A Swee, marca portuguesa de gelados veganos vem se destacando em suas tacadas de marketing nas redes sociais, como Instagram e Linkedin.  Em meio a esse cenário de escuridão e incerteza, a empresa portuguesa de gelados veganos Swee aproveitou o momento e destacou-se ao transformar a crise em uma oportunidade de marketing criativo. A Swee publicou em suas redes sociais uma mensagem bem-humorada que dizia: "A forma mais séria de levar a vida é a brincar", acompanhada de um carrossel de fotos com o Diogo Valente, sócio da empresa, vestindo camisetas com frases que faziam alusão ao apagão. A publicação rapidamente ganhou destaque, sendo amplamente compartilhada e comentada pelos seguidores da marca 2.​

Essa ação é mais um exemplo da abordagem inovadora da Swee em suas estratégias de marketing. Anteriormente, a empresa já havia realizado campanhas de guerrilha, como o aluguel de um outdoor na Malveira para chamar a atenção da apresentadora Cristina Ferreira, e a entrega de gelados ao jogador Danilo Pereira durante a preparação da seleção portuguesa para o Euro 20243.

A capacidade da Swee de responder rapidamente a eventos inesperados com criatividade e humor reforça sua imagem como uma marca autêntica e próxima do público. Em um mundo cada vez mais conectado e dinâmico, ações como essa demonstram a importância de uma comunicação ágil e alinhada com os valores da marca.

Na última foto da postagem (imagem acima), a Swee já deixou o spoiler de que irá ampliar seus locais de distribuição dos gelados deliciosos para os mini mercados. Assim como, aguçou a curiosidade dos concorrentes e da malta de marketing, ao dizer que uma das lições aprendidas foi anunciar no rádio, com isso inferimos que teremos em breve estratégias de comunicação de marketing através das rádios portuguesas, que como de padrão Swee será deveras criativa. Será isto o início de uma nova tendência de resgate às estratégias do passado? Aguardemos o fluir do mercado.


Referências:

1. https://sicnoticias.pt/economia/2025-04-30-video-apagao-pode-ter-causado-mais-de-mil-milhoes-de-euros-em-prejuizos-e41aa13f

2. https://www.linkedin.com/posts/diogov_a-forma-mais-s%C3%A9ria-de-levar-a-vida-%C3%A9-a-brincar-activity-7322933246248255488-kK0N

3. https://www.meiosepublicidade.pt/2024/07/12/swee-investe-um-milhar-de-euros-em-marketing-de-guerrilha-para-atrair-atencao-de-cristina-ferreira

Fotos obtidas pelo Linkedin


terça-feira, 29 de abril de 2025

404 — Eletricidade Not Found

Na manhã de segunda-feira, 28 de abril, um corte generalizado de energia deixou grande parte de Portugal Continental sem eletricidade, afetando o quotidiano da população e de múltiplos serviços essenciais. A falha, com impacto também registado em Espanha e em zonas de França, teve início por volta das 11h30 e causou perturbações significativas nas telecomunicações, nos transportes públicos, na rede bancária, nos sistemas de controlo de tráfego e na atividade económica em geral.

Segundo confirmação da REN, o apagão afetou toda a Península Ibérica, resultando na ativação imediata dos planos de restabelecimento de energia, em articulação com operadores internacionais.

O Metro de Lisboa suspendeu a circulação, enquanto em várias cidades do país, os semáforos deixaram de funcionar, criando caos no trânsito e um aumento claro do risco rodoviário. Além disso, centenas de voos foram cancelados ou desviados.

Multibancos sem sinal, prateleiras vazias e... papel higiénico (outra vez?)

A falha de energia provocou também constrangimentos nas redes móveis e fixas. As chamadas telefónicas ficaram inoperacionais, sendo possível comunicar apenas por dados móveis (em alguns casos). Os multibancos deixaram de funcionar e muitos estabelecimentos comerciais foram forçados a encerrar ou a operar com recurso a geradores de emergência.

Nas grandes superfícies comerciais, o cenário revelou-se inesperadamente familiar. Filas para levantar dinheiro, prateleiras de água engarrafada e produtos enlatados esvaziaram-se e, curiosamente, o papel higiénico desapareceu com uma rapidez difícil de justificar. Aparentemente, quando o quotidiano vacila, os reflexos de 2020 ainda persistem.

Nos escritórios, o ambiente foi de interrupção total. Empresas com geradores tornaram-se ilhas de produtividade. Nas restantes, muitos colaboradores aproveitaram para antecipar o almoço ou simplesmente abandonar as instalações — afinal, sem internet, sem rede e sem luz, pouco mais havia a fazer. 

Informação e desinformação

Como é habitual em cenários de crise, surgiram rapidamente nas redes sociais alegadas 'notícias' sobre a origem do apagão. Circulou uma publicação a sugerir que o incidente tinha sido causado por um ciberataque, no entanto, essa informação foi rapidamente desmentida e classificada como falsa. A Comissão Europeia afirmou estar a acompanhar a situação, sem, contudo, apontar causas específicas ou responsabilidades. A verdade é que, para já, continuamos longe de saber o que originou o apagão.


Regresso à normalidade

Ao final do dia, a E-Redes confirmou a reposição integral do fornecimento de energia. Portugal retomou o seu ritmo habitual, ainda que o episódio tenha servido como lembrete da fragilidade das infraestruturas críticas e da facilidade com que a vida moderna pode ser interrompida.

O lado menos entusiasmante da história? Inicialmente, dizia-se que tudo isto poderia demorar até 3 dias para ser restabelecido. No entanto, em poucas horas, percebemos que, no dia seguinte, teríamos que voltar ao trabalho...

Informação retirada de:
https://www.publico.pt/2025/04/28/economia/noticia/apagao-geral-rede-electrica-portugal-2131164#110303

https://www.rtp.pt/noticias/pais/apos-apagao-e-redes-anuncia-reposicao-total-de-energia-metro-de-lisboa-retoma-circulacao_e1651070

domingo, 27 de abril de 2025

A Saudade tem sabor?

 No passado dia 23 de abril, o gigante McDonalds Portugal publicou no seu Instagram uma imagem com a palavra Saudade, onde acompanhou com a seguinte pergunta: "Digam lá... De que produto do Mac é que têm mais saudades?🫢". Com um simples post, a cadeia de fast food despertou a curiosidade e nostalgia dos seus clientes.


Ao analisarmos o Instagram do McDonalds Portugal, é possível verificar que o mesmo costuma ter uma média de comentários abaixo dos 100, com situações pontuais que excedem esse valor. No entanto, com uma publicação simples, mas que apela à memória afetiva dos seus clientes em relação aos produtos antigos dos quais têm mais saudades, o McDonalds conseguiu obter uma publicação que gerou assunto e expectativa, onde envolveu o seu público com mais de 1000 comentários.
Este caso é um verdadeiro exemplo de como utilizar o Web Marketing de forma estratégica, uma vez que, com uma simples palavra, é possível criar uma conexão forte com o seu público, ao ativar as recordações de produtos antigos que deixaram mais saudades após serem descontinuados pelo McDonalds.

No entanto, e para não deixar o assunto a meio, a McDonalds deu resposta 2 dias depois, mostrando que ouviram os pedidos dos seus clientes.



Na publicação é possível verificar um conjunto de comentários de consumidores a pedir determinados produtos de volta, mas com o nome dos produtos censurados, criando o suspense que, em breve, algum pedido mencionado na publicação voltará para o menu.

Se já era sabido que o McDonalds é um exemplo sólido de empresa experiente, estas duas publicações provam-nos que o mesmo sabe também aproveitar oportunidades de Web Marketing de forma brilhante. 
Primeiro, ao apelar à saudade dos seus clientes, a marca conseguiu atingir um alcance maior que o normal através de um maior número de comentários e partilhas, além de criar especulação entre os seus clientes. De seguida, com o complemento da segunda publicação, a marca cria a sensação ao cliente que ouve os seus pedidos (e que o seu negócio é centrado nas vontades dos seus clientes), além de preparar terreno para as vendas, uma vez que quando lançarem os pedidos antigos mais adorados, já existe uma comunidade entusiasmada e predisposta a comprar e consumir para matar saudades.
Com formas simples de utilizar o Instagram, o McDonalds criou um envolvimento do público com estratégias que nem parecem publicidade- mas que geram impacto fortíssimo.

Mas e tu, qual produto tem mais saudades e gostarias que estivesse de volta?🍔🍟✨

Fontes:

sexta-feira, 25 de abril de 2025

A Febre dos Bonecos Feitos por IA

A nova moda? Criar action figures com inteligência artificial. Estes são bonecos “colecionáveis”, personagens fictícias ou até mesmo representações de pessoas reais.

Mas como é que isto está relacionado com web marketing?

Criatividade + IA = Produto Único

De facto, é simples, um utilizador descreve uma personagem — seja um herói, vilão, mascote de uma marca, ou o próprio utilizador — e o ChatGPT, em conjunto com ferramentas de criação de imagens, cria o design inicial. Este visual até pode ser transformado num produto digital para fins promocionais, por exemplo.

Além disso, as empresas já estão a utilizar estes “bonecos” para mascotes da própria marca, e também como personagens de storytelling para campanhas no Instagram ou no Tiktok. E, de facto, o público adora, visto que é algo novo, diferente e “feito por IA”, a “moda” do momento.













Tal como tudo, esta tendência tem as suas vantagens, já que estas personagens são virais e tornam-se conteúdo “fácil” e que traz retorno para as marcas. Também são uma personalização, onde um utilizador se pode “ver” a si próprio nesta tendência. Além disto, o facto de as marcas utilizarem as action figures nas suas campanhas e conseguirem, assim, transmitir os seus valores, faz com que haja uma maior conexão emocional com o público. Por último, antes, ao criar uma personagem deste género, era algo que envolvia contratar uma equipa de design, que demoraria semanas a terminar. Agora, bastam minutos, sendo o processo acelerado e mais acessível.


No entanto, nem tudo são “rosas”.

É aqui que começa a “crise”, será que a arte já não é valorizada e só queremos coisas rápidas?

Embora a IA otimize o processo, muitos designers e ilustradores veem esta tendência como uma ameaça à sua profissão, especialmente quando marcas preferem IA a contratar criadores humanos.

Além disto, os utilizadores também podem ter expectativas irreais, pois podem querer ter logo resultados perfeitos com uma descrição simples, ou seja, pode gerar alguma frustração.

                                                    Figuras políticas transformadas em action figures

Efetivamente, as action figures são uma fusão entre criatividade humana e automação inteligente, com grande potencial no marketing digital. Como qualquer inovação, oferecem vantagens competitivas, mas também exigem uma utilização consciente.


Fontes:
https://observador.pt/2025/04/07/politicos-personagens-de-series-e-muito-mais-depois-do-filtro-ghibli-as-redes-sociais-querem-colecionar-figuras-de-acao-feitas-pela-ia/
https://www.youtube.com/watch?v=1Uofhiz05yg
https://sicnoticias.pt/mundo/2025-04-20-video-chatgpt-depois-das-imagens-ao-estilo-studio-ghibli-nova-febre-sao-as-figuras-de-acao-09021417

quinta-feira, 24 de abril de 2025

O combate à desinformação em véspera de eleições

Está em funcionamento, desde 21 de abril, um sistema desenvolvido pelo Media Lab que permite detetar, rapidamente, notícias falsas. Esta ferramenta de deteção de "fake news" estará ativa até ao final de maio, coincidindo com o período das eleições legislativas em Portugal. O sistema baseia-se em denúncias feitas pelos utilizadores.

De acordo com o jornal Público, a Comissão Europeia recorre, em todos os atos eleitorais, ao Código de Conduta contra a Desinformação, em articulação com o Regulamento Europeu dos Serviços Digitais (Digital Services Act – DSA).

Ao abrigo deste Código, durante os períodos eleitorais, as plataformas signatárias estão obrigadas a implementar um sistema que permita a denúncia célere de ações de desinformação que possam comprometer o processo eleitoral. Esse sistema é conhecido como Rapid Response System.

Apesar de a adesão ao Código ser voluntária, a maioria das plataformas digitais optou por assinar, reconhecendo-o como um passo essencial para reforçar a credibilidade da informação no meio digital.

A rede social TikTok revelou que, nesta fase, conta com 160 colaboradores em Portugal dedicados ao combate à desinformação.

Com o avanço da inteligência artificial, espera-se que, no futuro, sistemas de resposta rápida como este passem a estar permanentemente ativos. Cabe às plataformas digitais liderar o investimento na credibilização da informação online.


Fontes:

https://www.publico.pt/2025/04/24/politica/noticia/portugal-sistema-resposta-rapida-denunciar-desinformacao-ate-legislativas-2130828

https://www.publico.pt/2025/04/10/politica/noticia/tiktok-160-pessoas-combater-fakes-news-durante-campanha-eleitoral-2129303

https://expresso.pt/politica/eleicoes/legislativas-2025/2025-04-10-tiktok-prepara-legislativas-com-tolerancia-zero-para-casos-de-desinformacao-vai-usar-as-ferramentas-das-eleicoes-americanas-e-alemas-d13a08e1

http://bibliotecas.dglab.gov.pt/pt/noticias/Paginas/Combate-Desinformacao.asp

domingo, 20 de abril de 2025

Protect the Dolls: O Poder do Marketing Digital com Propósito

A campanha “Protect the Dolls”, lançada pelo designer Conner Ives, é um exemplo claro de como o marketing pode ir além da simples promoção de produtos, transformando-se numa forma de ativismo social, quando assente numa campanha com propósito e uma estratégia bem definida.

O principal objetivo da campanha foi apoiar os direitos da comunidade LGBTQIA+, com um foco especial na expressão de solidariedade para com a comunidade de mulheres trans, conhecidas como “Dolls”. A peça central da campanha foi uma t-shirt com a frase “Protect the Dolls” — uma mensagem simples, mas com um grande significado subjacente.


Ao nível da estratégia digital, esta campanha destacou-se bastante nas redes sociais, especialmente no Instagram e no TikTok. A colaboração com celebridades e influenciadores de renome, como Addison Rae, Troye Sivan e Pedro Pascal, permitiu que a mensagem ganhasse rapidamente visibilidade nas redes sociais, chegando a públicos bastante diversificados.

Além de gerar agitação nas redes sociais, a campanha teve um impacto real: em poucas semanas, foram angariados mais de 250 mil dólares para a Trans Lifeline, uma organização que apoia a comunidade trans. Para além disso, associou a marca a valores de inclusão, solidariedade e responsabilidade social, valores estes que são cada vez mais importantes para os consumidores.

Este caso demonstra como o branding com um propósito pode gerar não só notoriedade, mas também resultados concretos em vendas. As t-shirts esgotaram rapidamente, graças a uma combinação eficaz de fatores, que iam desde o design apelativo até à validação social proporcionada pelos influenciadores.

A campanha "Protect the Dolls" transmite lições valiosas sobre marketing digital: a autenticidade gera confiança ao associar marcas a causas genuínas, enquanto parcerias estratégicas com influenciadores ampliam a mensagem. Um design apelativo e uma mensagem emocional são fundamentais para criar viralidade, e o marketing digital é mais eficaz quando comunica valores, e não apenas produtos.

Fontes:
https://www.vogue.com/article/conner-ives-protect-the-dolls-t-shirt
https://www.teenvogue.com/story/addison-rae-wears-protect-the-dolls-shirt
https://www.indy100.com/news/protect-the-dolls-tshirt-meaning-transgender-designer-pedro-pascal-troye-sivan

Celebrando as Pessoas 5 Estrelas

A Era das Conexões Digitais

Os seres humanos sempre precisaram de comunicar e de se conectarem uns com os outros: fosse através de sinais de fumo, cartas enviadas por pombos correio, mensagens por telégrafo, telefone, ou mesmo por fax, o cerne de grande parte das inovações ao longo dos milénios focou-se em satisfazer da forma mais rápida e eficiente possível esta necessidade primitiva. Com a emergência das novas tecnologias, nomeadamente, os smartphones, computadores pessoais, e, principalmente, a conexão à Internet, conseguimos estar sempre ligados e conectados a pessoas de todos os cantos do Mundo. Tal avanço revolucionou completamente não só o paradigma de como vivemos o nosso dia a dia, mas também o universo de possibilidades de expansão do negócio das empresas.
 
Evolução dos meios de comunicação


No entanto, começa a crescer uma “epidemia da solidão”, exacerbada por fatores como a urbanização, os meios de comunicação social e a pandemia da COVID-19, segundo Othman (2024). Numa era em que parece que o Mundo está completamente conectado, será que, paradoxalmente, estamos a corromper as verdadeiras ligações humanas?

A verdade é que vivemos numa realidade tão saturada com tecnologia, em que sentimos que estamos seguros pela nossa “rede” de conexões, e, no ritmo acelerado do dia a dia, nem nos lembramos das ligações e relações reais, com as pessoas “de carne e osso” que nos rodeiam. A nível neurológico e emocional, dar “gosto” numa publicação ou enviar uma mensagem num chat online não tem o mesmo impacto que o estabelecimento de uma relação real, que exige passar tempo cara a cara e investir em conhecer aquela pessoa a um nível mais profundo (Healthcare Australia, 2021).

Com o advento da conectividade total, grande parte das ligações estabelecidas entre as pessoas têm pouco de genuínas e verdadeiras, focando-se mais em tornar-se parte de uma “tribo”, de cujos membros sabem muito pouco a nível pessoal. É muito fácil distrairmo-nos pelos gráficos coloridos, emojis, gostos e visualizações, dando prioridade à imagem (nossa e dos outros) em detrimento da substância. Tal conduz à atual epidemia da solidão, em que conseguimos comunicar com milhões de pessoas, mas sentimo-nos mais sozinhos e distantes do que nunca (Berkeley Executive Education, sem data).

Epidemia da Solidão

Consequentemente, a tecnologia torna-nos mais preguiçosos na resolução de problemas, que já não sabemos fazer de forma independente, o que tem um impacto direto na nossa capacidade de estabelecermos ligações emocionais e afetivas com as pessoas à nossa volta. Nomeadamente, temos cada vez mais dificuldade em sentir empatia uns pelos outros, em compreender o que as pessoas à nossa volta estão a sentir, o que dificulta a superação de problemas em conjunto (Healthcare Australia, 2021).


O Cerne da Questão
A falta de ligações humanas genuínas tem mais impacto do que aparenta- de facto, é uma condição fundamental para a sobrevivência do ser humano e a continuidade da espécie. Somos animais sociais, temos necessidade de construir uma rede de apoio, uma comunidade, da qual dependemos durante todas as fases da vida, recebendo e dando a ajuda necessária, com cada um a contribuir com aquilo que traz de melhor.

Importância das ligações humanas


Tal como evidenciado por Talebreza-May (2019), as relações de dependência estabelecidas com outros seres humanos estão inscritas no nosso ADN, acompanhando-nos ao longo de toda a vida: quando nascemos, somos vulneráveis e fracos, dependemos de cuidados físicos e emocionais, que estabelecemos com o nosso círculo inicial. Igualmente, deixamos o Mundo igualmente vulneráveis, necessitando do apoio daqueles que nos rodeiam, que se baseia na força das relações que fomos criando ao longo da vida. Nesse momento, compreendemos que

“as nossas ilusões de invencibilidade e independência simplesmente não resistem à verdade da necessidade de ligação”.

O estabelecimento de ligações humanas permite-nos sentir que fazemos parte de algo maior que nós próprios, contribuindo para a sociedade com o que de melhor temos a oferecer, amando e cuidando como a tecnologia nunca conseguiria, tornando a nossa vida significativa e dando-nos um verdadeiro propósito (Healthcare Australia, 2021).


Colocar as nossas pessoas em 1º lugar 

Face a esta problemática, a solução não poderá ser abandonar todo o progresso tecnológico, que tantas potencialidades traz para a nossa sociedade- mas antes, encarar esta ferramenta com “peso e medida”, aproveitando tudo de bom que esta pode oferecer, mas estando atentos a todos os perigos inerentes, procurando evitá-los e combate-los.

Uma excelente via para o fazer é a constante lembrança da realidade dos seres humanos que estão por detrás dos ecrãs, por detrás das imagens e dos serviços prestados- e com os quais podemos criar relações genuínas e impactantes, se olharmos através da ilusão digital. Este é uma efetiva estratégia a seguir pelas marcas, que tanto beneficiam da conectividade total trazida pelas novas tecnologias para expandir o seu negócio além-fronteiras, mas para as quais os seus trabalhadores, as suas pessoas, continuam a ser fundamentais para a preservação e crescimento do negócio.

Valorização da pessoa por detrás do ecrã


Ao evidenciarem o carinho e importância que dão às pessoas com as quais trabalham, as marcas conseguem não só criar uma poderosa imagem no que concerne aos seus valores, como também contribuir para uma mudança de paradigma da sociedade como um todo. 

 A Uber lançou uma campanha em 2018 que traduziu exatamente isso, valorizando os seus condutores como as pessoas que são, sem deixar de disseminar essa mensagem através das tecnologias que tem ao seu dispor, nomeadamente a sua aplicação e redes sociais. Segundo Yacobi From (2024), a campanha #BeyondFiveStars incentivava os clientes a partilhar experiências memoráveis que tenham tido com os seus motoristas Uber.
 
Camapanha #BeyondFiveStars


A partir dessas referências, a empresa homenageou as pessoas com melhores classificações, partilhando as suas histórias de vida genuínas e emocionantes. Assim, os clientes da Uber ficam a conhecer as pessoas por detrás da aplicação, as suas histórias de vida e a suas essências pessoais: vemos, por exemplo, a história de Fred, um motorista de 80 anos que passou toda a vida como diretor de entretenimento em cruzeiros e hotéis em Las Vegas, e também de Anna, que tem uma enorme paixão por música, especialmente o jazz suave que toca no carro e o musical "O Rei Leão" (Amidan, 2018).

 Mas não só: demonstrando a importância que dá às pessoas que trabalham para si, a marca oferece-lhe uma surpresa memorável, como sinal de agradecimento e apreciação pelas pessoas que são: 

    • Fred: por tornar as viagens dos passageiros memoráveis, que o classificaram como “melhor condutor de sempre- podemos todos aprender com o senhor de 80 anos mais positivo e energético que já conheci”, a Uber deu-lhe a oportunidade de reencontrar Pat Boone, uma das suas celebridades favoritas, que tinha conhecido há décadas (Uber, 2018b) - https://www.youtube.com/watch?v=k9dzpRzSdnA
 
Motorista Fred

    • Anna: conhecida por ajudar os passageiros a apreciar a viagem e a relaxar, foi elogiada por lhes oferecer “um pedaço do Paraíso- viajar com a Anna é uma transição perfeita do trabalho para o descanso, super relaxante e jazzy”. Por esse motivo, a Uber ofereceu-lhe a oportunidade de ir às Filipinas ver o seu musical preferido, “O Rei Leão” (Uber, 2018a)- https://www.youtube.com/watch?v=wR53trHAW_o

Motorista Anna


Apoiando-se no mote “Um elogio pode ir mais longe do que pensa - Partilhe um elogio, partilhe amor” (Uber, 2018a), a Uber consegue humanizar a sua marca, criando confiança nos seus clientes, ao mostrar que valoriza os seus motoristas, fazendo com que também os clientes se sintam especiais pelas pessoas que são (Yacoby From, 2024). Segundo Amidan (2018), esta campanha permitiu não só criar um impacto positivo nos clientes, como nos colaboradores, que ficaram motivados a proporcionar aos passageiros uma experiência reconfortante, de boa vontade, e que os fidelizou à marca, fazendo face à crescente concorrência no terreno de forma extremamente eficaz. 

Em suma, a Uber acertou em cheio com esta campanha de marketing digital, que lhe permitiu fomentar a boa relação com todas as pessoas envolvidas no seu negócio- desde clientes a colaboradores- ao promover aquilo que todos nós, enquanto sociedade, devemos valorizar: as conexões humanas genuínas.


Bibliografia:

Amidan, K. (2018, maio 2). Social Campaign Analysis. Kambria Amidan. https://kambriamidan.wordpress.com/2018/05/02/social-campaign-analysis/

Berkeley Executive Education. (sem data). The Importance of Connections on Our Well-Being | Berkeley Exec Ed. Obtido 20 de abril de 2025, de https://executive.berkeley.edu/thought-leadership/blog/importance-connections-our-well-being

Healthcare Australia. (2021, outubro 6). The Importance Of Human Relationships In A Digital World. https://healthcareaustralia.com.au/human-relationships-in-the-digital-world/

Othman, A. (2024, novembro 1). (PDF) The Rise of AI Relationships: A New Frontier in Human Connection Predicting the Future of Human-AI Relationships. ResearchGate. https://doi.org/10.13140/RG.2.2.10182.38724

Talebreza-May, J. (2019, março 10). The Importance of Human Relationships. SocialWorker.Com. http://www.socialworker.com/api/content/65ee82ee-02b3-11e7-b89e-0aea2a882f79/

Uber (Diretor). (2018a, janeiro 24). Meet Anna—Going Beyond 5 Stars | Driver Compliments [Gravação de vídeo]. https://www.youtube.com/watch?v=wR53trHAW_o

Uber (Diretor). (2018b, janeiro 24). Meet Fred—Going Beyond 5 Stars | Driver Compliments [Gravação de vídeo]. https://www.youtube.com/watch?app=desktop&v=k9dzpRzSdnA

Yacoby From, R. (2024, novembro 5). 10 of the Most Creative eCommerce Ad Campaigns You Can Learn from. https://www.mayple.com/resources/ecommerce/creative-ad-campaigns-for-ecommerce

quarta-feira, 16 de abril de 2025

PUMA “Go Wild”: Uma Nova Corrida pelo Coração da Geração Z

Num momento em que as marcas desportivas competem não apenas por quota de mercado, mas por relevância cultural, a Puma apresenta uma campanha que reflete uma viragem clara no posicionamento da marca. Go Wild não é apenas um slogan, é uma tentativa estratégica de redefinir o papel do desporto na vida quotidiana, sobretudo para a Geração Z, que valoriza autenticidade, inclusão e bem-estar.

A campanha surge como resposta a uma pesquisa global com mais de 10.000 consumidores, onde foi identificado que esta nova geração não vê o desporto apenas como performance, mas sim como um ritual emocional, uma forma de socialização, auto expressão e auto cuidado.

O anúncio central da campanha tem cerca de 60 segundos e é impossível passar despercebido. A música? Uma versão adaptada do clássico Because I Got High de Afroman – uma escolha ousada e irónica, que aqui se transforma numa ode ao "runner’s high" (aquela sensação eufórica após uma corrida).

Visualmente, o anúncio celebra a diversidade: desde mães com carrinhos de bebé a donos de cães, passando por grupos de amigos e corredores solitários. Todos “libertam a sua energia interior” com um sorriso no rosto. A mensagem? Correr é para todos e pode ser divertido.



Esta campanha da Puma foi uma estratégia de marketing digital altamente integrada, focada em emocionar e conectar com a Geração Z. A marca redefiniu o desporto, não como performance, mas como prazer e auto expressão, criando uma forte conexão emocional com o público. 

Também foi caracterizada por uma forte estratégia multicanal, adaptando o conteúdo para diferentes plataformas, como YouTube, Instagram e TikTok, o que permitiu à Puma atingir o público de forma personalizada, respeitando as dinâmicas e os comportamentos de cada rede social. Essa personalização do conteúdo foi crucial para criar uma experiência de marca alinhada com o estilo de vida da Geração Z, que valoriza mais a autenticidade e o bem-estar do que a performance pura.

A marca também apostou num storytelling emocional, usando a música “Because I Got High” de Afroman para criar uma narrativa divertida e relaxada, que reflete o prazer de correr, e não a busca incessante por performance. Essa abordagem tornou o anúncio mais envolvente e permitiu à Puma estabelecer uma ligação emocional com o seu público. 

A campanha também integrou o digital com o físico, associando eventos desportivos a ativações online, o que resultou numa experiência imersiva para os consumidores. Em termos de web marketing, a Puma soube explorar estratégias como a multicanalidade, a personalização de conteúdo e o uso de influenciadores de maneira eficaz, criando uma conexão emocional que vai além da simples venda de produtos, estabelecendo uma relação mais duradoura e significativa com a marca.

Essa abordagem mostra como o web marketing, quando bem executado, pode não só gerar conversão, mas também engajamento genuíno e identificação emocional com o público-alvo, especialmente quando alinhado com os valores e as preferências de novas gerações. 

A Puma mostra com esta campanha que o futuro do marketing desportivo passa por mais do que apenas “mostrar atletas a vencer”. Passa por mostrar pessoas reais a viver emoções reais, e por usar os canais certos, com o tom certo, para construir comunidade, significado e identificação. Esta campanha representou um aumento de 40% nos investimentos de marketing em relação a 2024, evidenciando o compromisso da marca em alcançar um público mais amplo.

Se o marketing do passado vendia aspiração, o marketing atual, bem executado, vende identificação — e a “Go Wild” acerta em cheio nesse ponto.

Fontes: 

PUMA lança campanha global ‘Go Wild’ com novo posicionamento

Inside Puma’s new brand positioning and largest global campaign to date

Investimento publicitário global cresce 10,5% para €960 mil milhões em 2024

Puma lança “Go Wild”, a sua maior campanha global até à data

segunda-feira, 14 de abril de 2025

Leana Deeb e a Revolução Inclusiva no Athleisure

 

Em um cenário onde o marketing digital dita tendências e promove transformações sociais, a influenciadora fitness Leana Deeb se destacou ao unir performance, estilo e respeito cultural em uma linha de roupas esportivas pensada para mulheres muçulmanas. Sua colaboração com a marca Gymshark deu origem à coleção GS x Leana Deeb — não apenas uma jogada de moda, mas uma declaração poderosa de inclusão, autenticidade e branding com propósito.

Quem é Leana Deeb?

Leana Deeb é uma influenciadora fitness norte-americana de origem palestina, com milhões de seguidores nas redes sociais. Por muito tempo, ela vestiu roupas comuns de treino — leggings justas, tops e conjuntos que seguem a estética predominante no universo fitness. Mas sua jornada pessoal tomou um novo rumo quando ela decidiu se reconectar profundamente com sua fé e identidade como mulher muçulmana.

A partir desse reencontro espiritual, Leana optou por não mais expor seu corpo publicamente, mesmo em contextos de treino, passando a buscar peças que fossem confortáveis, estilosas e compatíveis com sua crença. Essa transição — documentada de forma aberta nas redes sociais — conquistou ainda mais empatia do público, e lançou luz sobre uma necessidade latente no mercado de moda esportiva: roupas que equilibram funcionalidade com valores culturais e religiosos.

GS x Leana Deeb: Branding com Propósito e Estilo com Representatividade

Foi justamente dessa necessidade que nasceu a coleção GS x Leana Deeb, criada em parceria com a Gymshark, uma das maiores marcas globais de athleisure. A coleção traz roupas projetadas para oferecer cobertura total sem comprometer o desempenho ou o estilo, com cortes amplos, tecidos opacos e modelagens confortáveis que respeitam os princípios da modéstia.

Influencer Marketing com Propósito Real

Ao escolher Leana Deeb como parceira, a Gymshark não apenas ampliou sua base de clientes — ela fortaleceu sua narrativa de marca. Leana é uma influenciadora autêntica, cuja jornada inspira milhares de mulheres ao redor do mundo. Seu envolvimento com a coleção vai além da divulgação: ela vive os valores por trás das roupas que ajudou a criar.

No universo do marketing digital, essa é a fórmula do sucesso: influenciadores com conexão genuína ao produto e marcas que sabem ouvir, representar e respeitar a diversidade de seu público.

Conclusão

A coleção GS x Leana Deeb representa mais do que uma linha de roupas esportivas: é um manifesto de inclusão, respeito e branding com alma. Em um mundo cada vez mais atento à diversidade e aos valores pessoais, marcas que escolhem caminhos autênticos se destacam — não apenas nas vendas, mas no coração do público.

Referências

domingo, 13 de abril de 2025

Má Influência: A Face Oculta da Fama Digital Infantil


Influencers em miniatura: o novo palco da infância e o silêncio por trás da fama

A nova minissérie documental da Netflix, "Má Influência: O Lado Sombrio dos Influencers Infantis", expõe um tema importante e emergente: o modo como o marketing digital e a as redes sociais estão a tonar a infância numa "ferramenta" de lucro. Baseada no caso de Piper Rockelle — uma criança transformada em estrela do YouTube —  a série revela o mundo aparentemente inocente dos kidfluencers

Por detrás dos vídeos coloridos, dos desafios e das coreografias virais, surgem acusações de abuso emocional, exploração comercial e manipulação psicológica — muitas vezes encobertas pela promessa de fama e dinheiro. Será que o "algoritmo" final de cada vídeo valerá tudo isto ?

Ao contrário dos adultos, estas crianças não têm ainda maturidade para consentir plenamente o que significa estar exposto online. Muitas vezes as redes sociais das crianças são geridas por pais que, intencionalmente ou não, tornam-se agentes, empresários e até produtores de uma marca pessoal com rosto infantil — levantando a sérias questões éticas e legais.

O universo dos conteúdos digitais com crianças vive numa fronteira entre o lar e o palco, onde a diversão se confunde com lucro. Quando é que a expressão espontânea de uma criança em frente à câmara deixa de ser inocente? Num ambiente onde 92% do público de influencers adolescentes é composto por homens adultos, e onde redes sociais fornecem 60% do conteúdo encontrado nos dispositivos de indivíduos com intenções indevidas, a linha entre partilha e exploração não é ténue, é estritamente invisível.

Infância e adolescência sob os Holofotes Digitais 

As minisséries Má Influência e Adolescence mostram duas faces do mesmo espelho: o impacto da exposição digital em jovens que ainda estão a descobrir a sua identidade. Em Má Influência, vemos crianças "transformadas" em entretenimento, e a gestão dos adultos que acabam por trocar brincadeiras por visualizações. Em Adolescence, acompanhamos o impacto das redes na formação de identidade, insegurança e procura por validação num mundo onde o valor pessoal parece medido em likes.

Ambas revelam o lado oculto da fama precoce e levantam a mesma pergunta: quem está realmente a proteger estes jovens no mundo digital? Quando a infância vira conteúdo e a adolescência se torna performance, o marketing precisa de parar para pensar.

O Marketing precisa de parar para pensar 

Quando os likes e visualizações passam a ser formas de validação, e quando o valor de uma criança ou adolescente é medido pelo "algoritmo" e o engagement, estamos a entrar num território perigoso. A fama precoce, por mais sedutora que pareça, tem um custo e é esse custo que frequentemente é pago em silêncio, pela saúde mental e emocional dos mais jovens.

As plataformas dizem promover “criatividade”, mas muitas vezes negligenciam o seu papel como guardiãs da segurança e do bem-estar destes utilizadores vulneráveis. E os adultos à volta das crianças precisam de refletir seriamente sobre os seus próprios papéis: estão a orientar ou a capitalizar? Estão a apoiar ou a pressionar?

O marketing tem aqui uma grande responsabilidade. Se continuarmos a transformar infância em produto e autenticidade em espetáculo, acabamos por normalizar a ideia de que crescer sob os olhos do público é inevitável ou até desejável. E não é. 

A infância e a adolescência são fases que merecem ser vividas e a privacidade também é uma forma válida e saudável de crescer. 

Fontes:

The Guardian 

Observador  

Why Adolescence is such powerful TV that it could save lives

“Stuff your Kindle Day”, como os 4'ps se juntam para a alegria dos leitores

Inspirada pela Helena, venho aqui deixar outro fenómeno que surge nas redes sociais e que altera a forma como as pessoas interagem com a literatura. Na era digital, as redes sociais são a força por detrás da maioria dos fenómenos culturais e um deles são os “Stuff your Kindle Day”, que acontecem várias vezes por mês e oferecem aos leitores a oportunidade de descarregar e deter livros gratuitamente. A sua criação e expansão demonstram o triunfo do marketing na internet e das comunidades online.

O movimento do “Stuff Your Kindle Day” começou em 2014 com a escritora de romances Zoe York. Num esforço de ajudar autores independentes a ganharem visibilidade, esta autora lançou o evento como uma ferramenta promocional ao oferecer os seus e-books gratuitamente por tempo limitado, normalmente um período de 24 horas. Embora estes eventos fossem inicialmente focados apenas em romances, o seu sucesso levou à expansão para outros géneros como fantasia, mistério e não ficção.

A disseminação do “Stuff your Kindle Day” deve-se principalmente ao uso das redes sociais. As plataformas digitais como o Facebook, Instagram e TikTok desempenham um papel importantíssimo na promoção dos eventos, gerando interesse entre os leitores.Os autores e organizadores destes eventos anunciam os próximos eventos, listando os títulos oferecidos e interagindo com os leitores no Facebook, muitas vezes em grupos específicos criados para o efeito. As páginas dedicadas permitem criar contagens decrescentes, memes e outras publicações que criam engagement que convidam os leitores a marcar a data nos seus calendários.

Já o foco no conteúdo visual oferecido pelo Instagram torna-o uma das plataforma preferidas para os autores mostrarem as capas de livros, oferecerem quotes e publicarem conteúdo sobre o "Stuff Your Kindle Day". Ao utilizar hashtags relevantes, como #StuffYourKindleDay e #FreeEbooks, podem aumentar a visibilidade, tanto do evento como dos seus livros.Finalmente, o TikTok, especialmente a comunidade do BookTok, desempenhou um papel fundamental na promoção do movimento “Stuff Your Kindle Day”. Os utilizadores criam vídeos sobre os e-books gratuitos, analisam-os e influenciam outros a adquirirem os mesmos livros. Este tipo de conteúdo atrai o público mais jovem, direcionando-o para as páginas de eventos e páginas de autores participantes.

O “Stuff Your Kindle Day” é uma ótima ilustração do poder transformador das redes sociais no marketing digital para o mundo dos livros. Aproveitando a sinergia da baixa do preço e da comunicação, o evento cresceu de um pequeno projeto para um lugar de destaque nos calendários dos leitores. É uma demonstração do que o marketing pode fazer para conectar autores com leitores, construir uma comunidade e celebrar a alegria da leitura na era digital. E, para terminar fica aqui o link (https://www.romancebooklovers.com/) de um dos maiores “Stuff Your Kindle Day” do mês com centenas de livros para descarregarem dia 22 :)

Marketing de Mentira, Resultados de Verdade

Com o começo de Abril, inicia-se o primeiro e único dia do ano em que é permitido às marcas mentir para comunicar, interagir e brincar com os seus consumidores. A realidade é que desde que a Internet existe, os profissionais de Marketing aproveitam o Dia das Mentiras num esforço de aumentar a notoriedade da marca num mundo cada vez mais online, além de fortalecer a sua relação com os consumidores (Forbes, 2024). Para tal, realizam campanhas publicitárias onde lançam produtos fictícios, ou até mesmo divulgam notícias falsas inofensivas para gerar engagement e viralizar nas redes sociais (Marketeer, 2025).


O segredo do sucesso destas campanhas está no equilíbrio da criatividade e da autenticidade, de forma que a mentira seja recebida de forma engraçada pelo público. Apesar da efemeridade do engagement, quando as campanhas são bem planeadas, estas aumentam o reconhecimento da marca, além de humanizar a empresa. Ao mostrar aos consumidores um lado mais leve e divertido, a empresa mostra que tem um sentido de humor e sabe rir dela mesma e dos seus produtos, o que permite uma aproximação às pessoas (Marketeer, 2024).


Assim, acredito que estas campanhas de comunicação e branding têm como resultado a criação de uma relação mais próxima com o consumidor. Ao comunicar de uma forma não convencional, num ambiente digital onde o público está mais que saturado de tentativas de vendas e anúncios sérios, uma campanha divertida torna-se um destaque e, nesse sentido, as campanhas do Dia das Mentiras acabam por ter um grande potencial de viralizar. Através de um produto inusitado, com uma funcionalidade absurda, pode gerar-se um maior número de partilhas, comentários e reações nas redes sociais- o que se traduz em publicidade fácil e rápida. Além disso, algumas marcas ganham espaço em alguns sites de notícias, conquistando assim visibilidade gratuita também nesses espaços.


Mas e vocês, qual destas mentiras gostariam mais que se torna-se verdade?😊


Fontes:
https://www.forbespt.com/do-tinder-a-subway-aqui-estao-algumas-das-melhores-mentiras-de-1-de-abril-das-empresas-em-2024/
https://marketeer.sapo.pt/como-o-dia-das-mentiras-e-aproveitado-pelas-marcas-para-viralizar-nas-redes-sociais/
https://eco.sapo.pt/2025/04/01/como-as-marcas-aproveitaram-o-dia-1-de-abril-para-mentir-nas-redes-sociais/

sábado, 12 de abril de 2025

Despir o Deserto do Atacama

Atualmente, tudo acontece a um ritmo “fast”: comemos fast-food, as notícias (factuais e nem tanto) correm o Mundo à velocidade da luz, as nossas opiniões mudam com um clique… e até as roupas que vestimos e as tendências que seguimos são cada vez mais rápidas, variadas, e éfemeras. Mas a que custo? Para onde vão aquelas calças da moda nas quais já não temos interesse?

As novas gerações que têm entrado e tomado conta dos mercados nos últimos anos, os Millenials e a Geração Z (aka Millenials com esteróides) são caracterizados pelas suas atitudes disruptivas e contrastantes com as de gerações anteriores, contribuindo para uma verdadeira revolução cultural, social e económica. Habituados a viver num Mundo sem fronteiras, em que o acesso à mais recente tecnologia lhes permite aceder ao que desejam, não aceitam que lhes sejam impostos limites e querem tudo, aqui e agora, vivendo na pele a máxima do YOLO (You Only Live Once), impregnado na sua consciência e nas suas decisões.

No entanto, “não há bela sem senão”, e esta atitude tem grandes impactos no Mundo à nossa volta, nomeadamente a nível ambiental. A busca pela gratificação instântanea e o ritmo desenfreado de experimentar tudo, aliado à facilidade com que se produz e compra roupa nova atualmente, são fatores que levaram ao crescimento exponencial do mercado da fast-fashion, cujas marcas produzem o dobro das roupas que produziam em 2000. Paralelamente, estas roupas compradas impulsivamente tornam-se também quase instântamenamente obsoletas, de tal forma que, nos últimos 15 anos, o número de vezes que uma peça é utilizada diminuiu em 36%, para uma média de apenas 7 a 10 vezes[1].
Esta tendência torna-se preocupante, não só pela quantidade de recursos usados na produção da roupa (a produção de 1kg de algodão consome 20,000 litros de água[2]) mas, também, pela falta de capacidade de fazer uma correta gestão da roupa descartada, com menos de 15% desta a ser corretamente reciclada[3]. Grande parte destes resíduos são levados para aterros em céu aberto em países em desenvolvimento, como para o deserto do Atacama, no Chile, cujo monte de peças de fast-fashion já é visível do espaço e impacta fortemente os ecossistemas locais, libertando químicos perigosos e poluentes para o ar e os cursos de água[4].

Pilha de roupa descartada no deserto do Atacama, Chile

Vista do espaço do aterro de roupa usada no deserto do Atacama, Chile

O e-commerce, querido pelos Millenials e a Geração Z por lhes permitir adquirir roupa e acessórios vindos de todo o Mundo a partir do conforto do seu sofá (“yes we can!”), tem crescido exponencialmente, com o número de compras pela Internet aumentando 14,6% em 2024 face a 2023, e 9,9% em 2023 face a 2022. Este fenómeno contribui, porém, para o aumento do impacto ambiental da fast-fashion, mais especificamente ao nível do embalamento (dado que estas compras produzem, em média, mais 4,8 vezes os resíduos das compras presenciais) e, também, pela facilidade de devolução e prática de “bracketing” (na qual os consumidores compram vários artigos para experimentar e devolvem uma grande parte, aumentando a pegada ambiental desta atividade, devido ao transporte adicional e ao desperdício de recursos)[5].

Impacto da utilização de embalagens e transporte adicional, promovidas pelo e-commerce


Paralelamente a esta sua sede pelo aqui e o agora e pela vida sem limites, os Millenials também acreditam piamente no seu inner-glow, na sua capacidade de tornar o Mundo num lugar melhor, no poder das suas ações e das suas palavras. Erguem bandeiras a favor do ativismo, da não-discriminação, da inclusão e da diversidade, e da proteção ambiental – mas serão estas preocupações compatíveis com as suas características que tanto impulsionam a fast-fashion, o desperdício e a poluição subjacente?

Movimento pela proteção ambiental, encabeçado por Greta Thunberg
Juntar o melhor dos dois Mundos pode parecer impossível, mas, tal como disse Nelson Mandela, “Tudo parece impossível até que seja feito”[6]. E foi precisamente isso que o projeto Atacama RE-Commerce conseguiu provar, juntando a plataforma global do e-commerce às vontades (anteriormente incompatíveis) dos consumidores de comprar roupa de marca e contribuir para um futuro mais sustentável, alterando para sempre o paradigma da fast-fashion.Esta iniciativa inédita e disruptiva, lançada pela VTEX em parceria com a Revolution Brasil e Desierto Vestido, permite que os consumidores adquiram roupas descartadas no deserto do Atacama, no Chile, pagando apenas o valor do envio. Muitas dessas peças, produzidas por grandes marcas, encontram-se em perfeito estado, algumas ainda sem uso. O Atacama RE-Commerce resgata, trata e higieniza as peças, disponibilizando-as no seu website apenas pelo valor do envio.

Imagem promocional do Atacama RE-Commerce

Tendo entrado no ar a 17 de março de 2025, as 300 peças postadas inicialmente foram adquiridas em apenas 5 horas, com pedidos de todo o Mundo, desde o Brasil, à França, Espanha e China[7]. A possibilidade de adquirir calções da Nike ou da Adidas, blusas da Zara ou calças da Calvin Klein[8] a um preço bastante reduzido e com o bónus da gratificação moral aliciam os consumidores das novas gerações, e impulsionam organizações como a Atacama RE-Commerce a continuar o seu trabalho de “slow down” da indústria da moda, contribuindo para a tomada de atitudes mais conscientes e ecológicas.

Website do RE-Commerce, com as peças todas "sold out"

As revoluções trazidas pelas novas tecnologias, alicerçadas nas tendências das novas gerações, têm, muitas vezes, um ar apocalíptico e evocam as expressões de “No meu tempo é que era”, que deixam muitos conformados e sem esperança. Mas, como o projeto Atacama RE-Commerce demonstrou, se olharmos para estes fenómenos do prisma certo, conseguimos descobrir nestas mesmas novas tecnologias soluções para os problemas que elas criam, contribuindo para um Mundo melhor, mais sustentável, e onde o inner-glow de todos pode brilhar vestido de roupas de marca.